Escrito em 1967 no auge da luta por direitos civis nos Estados Unidos, Black Power é um livro seminal para os movimentos negros de todo o mundo. Seus autores, Stokely Carmichael (que depois passou a se chamar Kwame Ture) e Charles V. Hamilton, estavam na linha de frente da luta e procuraram registrar no calor do momento as discussões sobre o enfrentamento à supremacia branca. Em primeira edição oficial no Brasil, o livro continua sendo um documento histórico fundamental para a discussão do racismo estrutural e seus resultados nefastos sobre a desigualdade racial. Mais uma parceria da Editora Jandaíra com o Selo Sueli Carneiro, coordenado por Djamila Ribeiro.
Tudo é pioneiro nesta obra - a idéia original do Projeto 1000 Mulheres, a envergadura mundial que adquiriu, a complexidade do trabalho de seleção das mulheres aqui perfiladas, o painel final deste Brasil de ação feminina. E a teia feminina se pôs em marcha, garimpando em todos os estados, investigando o amplo leque da ação transformadora da mulher. Brotou um Brasil vibrante, comovente, engajado. Dificilmente haverá unanimidade em torno dos 52 nomes. Nem poderia haver. Felizmente o leque de brasileiras anônimas ou notáveis que atuam por um país mais justo não cabe em um livro.
A obra representa uma concepção diferenciada da interpretação cartográfica. A textualidade elege uma análise híbrida que compreende uma fundamentação teórica, envolvendo ao mesmo tempo um conjunto de práticas em forma de oficinas enfatizando o processo interdisciplinar e a construção de estruturas para uma melhor compreensão dos mapas.
A temática abordada demonstra sinais por todos os lados e incomoda a muita gente, confirmando que há ruídos, também por todos os lados. O trote violento permeado por jogos bizarros e práticas opressoras persiste, apesar deste incômodo manifestado por docentes, estudantes, pais e pela mídia.
Trata-se de uma coletânea de artigos de renomados estudiosos e profissionais da área da gerontologia e geriatria de âmbito nacional e internacional: Alzira Tereza Nunes Lobato, Andréa Alves, Annete Leibing, Clarice Peixoto, Cristiane Barbosa, Eliana Alves, Ligia Py, Luis Lima, Marcia Dourado, Marilda Moreira, Mirna Teixeira, Miriam Lins de Barros, Sara Granemann, Vilma Duarte Câmara. Todos os artigos, abordando os mais diversos assuntos, convergem sobre as questões do envelhecimento (previdência, saúde, assistência, lazer, direitos...), em especial, sobre a cidadania do idoso.
Ao discutir as relações entre gênero, mídia e política no Brasil, Caleidoscópio convexo discute a maneira como os meios de comunicação se portam ao veicularem notícias do cenário político e destaca as consequências de uma divulgação que privilegia a presença masculina em cargos públicos e reforça a sub-representação política das mulheres.
Esta publicação pode ser considerada uma autobiografia etnográfica, como a própria Zélia Amador de Deus nomeia sua escrita. Nos oito artigos aqui reunidos, a autora apresenta, por meio de uma produção teórica e politicamente posicionada, dimensões políticas, sociais e culturais que marcaram e marcam a história social e política brasileira ainda pouco conhecida. Os textos, escolhidos pela própria autora, representam o núcleo central do seu pensamento e da sua intervenção acadêmica e política dos anos 1990 até 2019. É o olhar sobre essa história produzido por uma mulher negra, ou uma mulher preta, como a própria Zélia faz questão de nomear a si mesma. Mas essa jamais será uma história individual. Ela faz parte de um coletivo, e é construída dessa maneira.
Em Camponeses e a arte da agricultura, Jan Douwe van der Ploeg debruça-se sobre o conceito de campesinato, discutindo experiências da agricultura camponesa em países de diversas partes do mundo. Teodor Shanin e Jan Douwe van der Ploeg têm um tema em comum, outro estudioso do campesinato: Aleksandr Vasilievich Chayanov. Para os interessados em entender a agricultura camponesa, o pensamento deste autor russo - um agrônomo social, como se definia - é um estudo seminal.
As acadêmicas feministas desenvolveram um esquema interpretativo que lança bastante luz sobre duas questões históricas muito importantes: como explicar a execução de centenas de milhares de 'bruxas' no começo da Era Moderna, e por que o surgimento do capitalismo coincide com essa guerra contra as mulheres. Segundo esse esquema, a caça às bruxas buscou destruir o controle que as mulheres haviam exercido sobre sua própria função reprodutiva, e preparou o terreno para o desenvolvimento de um regime patriarcal mais opressor. Essa interpretação também defende que a caça às bruxas tinha raízes nas transformações sociais que acompanharam o surgimento do capitalismo. No entanto, as circunstâncias históricas específicas em que a perseguição às bruxas se desenvolveu — e as razões pelas quais o surgimento do capitalismo exigiu um ataque genocida contra as mulheres — ainda não tinham sido investigadas. Essa é a tarefa que empreendo em Calibã e a bruxa, começando pela análise da caça às bruxas no contexto das crises demográfica e econômica europeias dos séculos XVI e XVII e das políticas de terra e trabalho da época mercantilista. Meu esforço aqui é apenas um esboço da pesquisa que seria necessária para esclarecer as conexões mencionadas e, especialmente, a relação entre a caça às bruxas e o desenvolvimento contemporâneo de uma nova divisão sexual do trabalho que confinou as mulheres ao trabalho reprodutivo. No entanto, convém demonstrar que a perseguição às bruxas — assim como o tráfico de escravos e os cercamentos — constituiu um aspecto central da acumulação e da formação do proletariado moderno, tanto na Europa como no Novo Mundo.
Capela Saudável foi um projeto de gestão participativa e intersetorial implementado na subprefeitura de Capela do Socorro entre 2002 e 2004. Este livro relata o processo de construção e implementação dessa experiência, os avanços obtidos e as dificuldades enfrentadas ao se transpor alguns pressupostos teóricos para a prática.
No período de 2006-2009, a equipe do Núcleo de Estudos e Pesquisas Sociais em Desastres (NEPED), da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), empreendeu, sob os auspícios do CNPq, o estudo sociológico Representações Sociais dos Abrigos Temporários no Brasil. Victor Marchezini, à época no mestrado do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFSCar, foi um dos pesquisadores da equipe e se dedicou a analisar alguns aspectos desse complexo tema. De sua análise, resultou a dissertação de mestrado, ora transformada neste oportuno livro que vem a público. Nesta obra, o autor traz uma revisão bibliográfica da sociologia contemporânea e da sociologia dos desastres para enfatizar que, tal como ocorre nas demais esferas da vida social, as soluções técnicas se impõem cada vez mais e dominam resolutamente o campo de produção simbólica. Victor também salienta que os abrigos provisórios seriam um novo tipo de aglomerado de exclusão, isto é, espaço de abandono onde os grupos ali inseridos são tratados como massas e vivem em insegurança constante. Victor também dá destaque às tensões e conflitos sobre como estruturar as rotinas nesse território de exclusão. A ideia de campo de desabrigados é lançada pelo autor, para que o leitor possa compreender o que é viver por dias, semanas ou meses a fio sem privacidade, sem condições de exercitar as próprias regras que embasam a dinâmica familiar, numa convivência forçada com outras famílias, com terceiros e estranhos que se revestem de autoridade para lhe dizer a hora de comer, o tipo de alimentação disponível, a hora de tomar banho, a hora de recolher-se e de apagar a luz. Esperamos que o leitor se sinta devidamente elucidado acerca da estruturação e funcionamento dos campos de desabrigados, identificando-os como a expressão territorial de angústias, intranquilidades e sofrimentos físico e psíquico insistentes que perpassam a vida dos abrigados.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho, hoje ainda há 27,6 milhões de trabalhadores, no mundo inteiro, sob diferentes formas de escravidão. Destes, quase quatro milhões estão nas Américas. Neste livro, o autor se propõe a desvendar e explicar essa anomalia social e moral no contexto brasileiro, com base na informação empírica já abundante sobre o tema da continuidade disfarçada da escravidão no período pós-escravista.
De que forma a pandemia agravou as já abissais desigualdades sociais no Brasil, na América Latina e no mundo? Como o capital se comporta diante de uma crise sanitária dessa magnitude? É possível afirmar que a brutal expansão da covid-19 tem preferência de classe, gênero, raça e etnia? Nesta obra, o professor de sociologia do trabalho Ricardo Antunes apresenta diversos textos escritos nos últimos anos que conceituam o atual estágio do desenvolvimento capitalista, em especial no que se refere aos novos modos de sujeição do trabalho. Seu foco principal é interpretar de que forma a pandemia e a gestão Jair Bolsonaro vêm determinar um capitalismo já em crise. Antunes destrincha diversos temas como a relação da pandemia com as reformas trabalhistas feitas nas últimas décadas, o aumento do desemprego, a constante precarização do trabalho e o afrouxamento dos vínculos empregatícios. Retomando o léxico e uma série de descobertas expostos em seus livros anteriores, o autor nos oferece uma análise da conjuntura em que nos encontramos, com seus vieses de raça, classe, gênero etc., sob o pano de fundo de uma análise marxista dos rumos do capitalismo contemporâneo. Escrito sob o calor dos fatos narrados, sem esconder a indignação crítica de que se alimenta, este livro é uma oportunidade de conhecer as grandes linhas do pensamento de um de nossos maiores intérpretes do mundo do trabalho, aplicado quase em tempo real a nosso sombrio dia a dia. No melhor estilo da prosa dialética, comparecem aqui os terríveis suplícios a que é submetida a classe trabalhadora contemporânea, mas também a visão de um futuro melhor que só pelas mãos dela pode ser construído.
A injunção paradoxal impõe ao indivíduo dilemas insolúveis ao lhe exigir objetivos incompatíveis: produzir cada vez mais, com menos recursos, ter espírito de equipe em um sistema hipercompetitivo no qual a avaliação do trabalho é individualizada etc. A passagem para o capitalismo financeiro exacerba essa lógica paradoxal e a propaga nas organizações privadas e públicas. Vincent de Gaulejac e Fabienne Hanique trazem à tona as origens desse fenômeno, na confluência da revolução gerencialista, da revolução digital e da financeirização da economia. A partir de pesquisas realizadas em diversas empresas, os autores analisam a dificuldade de se viver em um sistema paradoxal com efeitos devastadores na saúde mental dos trabalhadores (estresse, burnout, depressão).
Por quanto tempo seremos observadores dos numerosos desastres ecológicos e estaremos submetidos à administração das catástrofes e das miragens de um capitalismo verde, a ponto de testemunharmos passivamente o desenrolar de uma história futura sem nós, um verdadeiro exílio sem volta. Movida pela urgência de afastar esse destino, a economista e ambientalista francesa Geneviève Azam escreve uma carta cuja destinatária é a Terra. Mas como pode uma pessoa terrestre dirigir-se a esta correspondente estranha, viva e sensível, esta presença benéfica e também ameaçadora. Azam fala de seu pavor, de seus apegos e da possibilidade de uma insurreição ética e política para defender o planeta e os diversos mundos que ele abriga. Ela relembra a história e o desenvolvimento da humanidade no planeta, trazendo referências científicas, filosóficas e até mesmo literárias. Como podemos nos aliar, pergunta Azam, para resistir a tanta injustiça e degradação. Sabemos que a Terra se rebela. Ameaça, frustra as leis da economia e sabota os projetos de uma onipotência ilusória. Seu lado selvagem também tem o poder de despertar nossos sentidos sufocados e fazer vislumbrar um outro modo de habitá-la. E não é que a Terra responde à sua interlocutora e aos terrestres. Com um vibrante chamado a desobedecer e desfazer sem hesitar aquilo que ameaça a sustentabilidade e a dignidade da vida.
Cartas da prisão de Nelson Mandela é uma obra histórica: a primeira – e única – coleção autorizada de correspondências que abarca os vinte e sete anos em que o líder sul-africano esteve encarcerado. Lançada simultaneamente em diversos países, a publicação celebra o centenário de Mandela. Comoventes, fervorosas, arrebatadoras e sempre inspiradoras, as mais de duzentas cartas – muitas das quais nunca vistas pelo público – foram reunidas a partir de coleções públicas e privadas. O livro inclui um prefácio escrito por Zamaswazi Dlamini-Mandela, neta do grande líder. Um retrato íntimo de um ativista político que também era marido devoto, pai afetuoso, aluno dedicado e amigo fiel.
Segundo estudo do Banco Mundial, o Brasil ocupa o 4.º lugar do ranking global de casamentos com menores de dezoito anos. Quando tomamos esse dado a partir das lentes de gênero, observamos que as meninas são as que mais sofrem com essa prática por pressões sociais e/ou culturais e pelo contexto de desigualdade em que se encontram. Ao explicitar e comprovar que o casamento infantil é, em todos os sentidos, uma violação aos direitos humanos, Luiza Sartori lança luz sobre uma questão que afeta profundamente a vida das crianças e contribui para que a sociedade se conscientize e atue, efetivamente, em prol da garantia de direitos e da proteção das crianças e das meninas. Para a Plan International Brasil, organização internacional que atua no Brasil desde 1997 e que há anos vem pautando a necessidade de olhar para essa questão, o livro é um forte aliado.
A coletânea Cativeiros enfermos aponta a força da pesquisa histórica nos estudos sobre a história da assistência e saúde na escravidão e pós-emancipação no Brasil. Não há dúvidas sobre a ampliação metodológica e teórica, tanto na historiografia da escravidão como naquela da saúde. São abertos caminhos empíricos, propiciando exercícios analíticos que se multiplicam. Permanecem atualizados os desafios sobre os sentidos e significados de diferentes fontes onde aparecem as nomenclaturas e taxonomias sobre enfermidades e causa mortis.
Implementar a promoção da saúde é uma tarefa dessa obra. As dficuldades vão desde a formação de profissionais qualificados até as demandas socioculturais vigentes. Nesse cenário, a reflexão e a proposição de caminhos possíveis para o enfrentamento desses desafios se tornam imprescindíveis. A obra que você tem em mãos é uma resposta a essas dificuldades. Reunindo um conjunto de estudos diversificados e que permite uma visão ampliada das principais discussões da área, este livro é fruto do trabalho conjunto de cinco programas de pós-graduação stricto sensu em promoção da saúde: Unasp, Ulbra, UniCesumar, Unifran e Unisc. Com argumentações sólidas e análises perspicazes, "Cenários contemporâneos da promoção da saúde" é uma obra que vai contribuir para a construção de ações e reflexões inovadoras e criativas sempre pautadas em princípios éticos e valores fundamentais como solidariedade, humanização, integralidade, equidade, justiça e inclusão social.
O Brasil é o recordista mundial de cesáreas. Aqui, de 52% a 88% dos partos são cirúrgicos na rede pública e na rede privada, respectivamente. Porém, não é só o alto número de cesarianas que chama a atenção, mas o que está por trás disso: as cesáreas são a escolha da maior parte das gestantes e dos profissionais que cuidam delas. Nesta obra, a autora - antropóloga e feminista - pesquisou um grupo que que optou por parir diferentemente: da maneira mais natural possível. Ela quis seguir na contramão para encontrar as famílias que buscam a humanização do nascimento. A pesquisadora constatou que essas mulheres queriam tomar as rédeas da situação: ser as protagonistas de suas próprias histórias, dizendo em alto e bom som que o que acontece na cena de parto, em geral, não lhes agrada. E essa tomada de decisão as empoderou. A autora ouviu de duas delas: Eu tenho muito mais confiança em mim e naquilo que posso fazer e viver e isso é realmente incrível e Hoje, eu acho que posso tudo. Apesar de não terem tido experiências com o feminismo, certamente, elas têm muito a acrescentar ao movimento.
A cidadania é um direito constitucionalmente assegurado pelo ordenamento brasileiro, mas que nem todos os grupos sociais conseguem exercer. Em virtude das mais diversas exclusões vivenciadas, algumas minorias têm experiências muito específicas de fruição de direitos, como é o caso da população LGBT, especialmente travestis e transexuais. Este livro pretende conhecer e analisar o contexto atualizado das exclusões vivenciadas por travestis e transexuais no Brasil, observar a atuação do movimento social na proposição e manutenção do debate dessas pautas e entender de que forma o Poder Público tem agido para combater as desigualdades verificadas, que impedem que essas pessoas sejam tratadas com igualdade no que diz respeito ao acesso aos direitos previstos a todos os cidadãos.
A qualidade do espaço público é a espinha dorsal de uma cidade sustentável. Ruas maravilhosas, lugares nos quais você intuitivamente queira passar mais tempo, interação de escala humana entre os prédios e ruas, apropriação pelos usuários, placemaking e bons plinths (andares térreos ativos) e uma abordagem voltada para as pessoas, baseada nas experiências do usuário .
Esta obra, pioneira na temática, reúne estudos sobre corpo e alimentação na interface do urbano como experiência para, a partir daí, fazer pensar, explorar possibilidades. Quais interfaces da categoria cidade com estudos sobre corpo e alimentação? Destacam-se perspectivas analíticas que ultrapassam as expressões físicas, concretas das cidades, reconfigurando-as como experiência que se desdobra no espaço urbano, demandando um olhar inspirado por distintos saberes e campos disciplinares. Cidades e sujeitos se entrelaçam, produzem-se mutuamente, conformando movimentos de pensar, agir e sentir em constante transformação, em todas as esferas da vida, dentre elas a saúde e a alimentação. Constitui um texto de grande interesse para nutricionistas, psicólogos, médicos e demais profissionais/pesquisadores do campo da Saúde Coletiva e das Ciências Humanas e Sociais, bem como, para todos aqueles que se debruçam sobre a complexa trama entre corpo e alimentação no espaço urbano.
A grande maioria da população vive hoje nas cidades. Mas elas variam bastante entre si e há diferenças marcantes mesmo dentro de uma mesma cidade, o que tem impacto sobre as características da vida urbana e as condições de saúde da população. Compreender essa complexidade é essencial para a tomada de decisões sobre intervenções públicas nas cidades. Estudos e ensaios sobre o assunto estão reunidos neste livro, que não só traz reflexões teóricas, mas as coloca em diálogo com diferentes iniciativas para a melhoria da saúde das cidades. Municípios ou comunidades saudáveis dependem de uma prática contínua de aprimoramento do ambiente físico e social, por meio de estratégias que priorizem a saúde dos cidadãos dentro de uma lógica ampliada de qualidade de vida, com ações intersetoriais e garantia de participação social. Uma cidade saudável, destaca-se, é também uma cidade com justiça social, pois as iniquidades se destacam entre as causas de deterioração da saúde.
O livro Ciência do comportamento alimentar surgiu da necessidade de diálogo entre diferentes áreas científicas sobre o comportamento alimentar humano. Apresenta conceitos, teorias, modelos e estratégias de mudança de comportamento, com abordagens biológicas, psicológicas, sociais e culturais.
Este livro pretende apresentar - uma compreensão de processos históricos, e socioantropológicos, de produção de conhecimentos científicos e de artefatos tecnológicos pelas pesquisas biomédicas, voltados para à saúde pública, e resultantes do uso de animai
Apaixonada por cinema, bell hooks dedicou parte considerável da vida a assistir, debater e escrever sobre filmes, analisando o que via nas telas a partir de um olhar aguçado para questões de raça, classe e gênero. A energia que dedicou à crítica cinematográfica se explica pelo poder que conferia à narrativa audiovisual: “O cinema produz magia. Modifica as coisas. Pega a realidade e a transforma em algo diferente bem diante dos nossos olhos”. Daí que tenha mantido sob permanente escrutínio o trabalho de inúmeras diretoras e diretores, sobretudo daqueles que optaram por retratar a vida e o drama de pessoas negras. Com sensibilidade e tenacidade, bell hooks interpretou os principais filmes de seu tempo, fossem produções independentes ou hollywoodianas. Neste livro, encontramos críticas essenciais a obras de Quentin Tarantino, Mike Figgis, John Singleton, Julie Dash e, claro, Spike Lee — sem dúvida, o cineasta que mais chamou a atenção da autora ao longo dos anos. Encerram o volume entrevistas com os realizadores Wayne Wang, Camille Billops, Charles Burnett e Arthur Jafa. Assim, de acordo com a própria bell hooks, Cinema vivido “questiona e ao mesmo tempo celebra a capacidade do cinema de abrir caminho para uma nova consciência e de transformar a cultura”.
Fruto dos primeiros anos de trabalho cooperativo no âmbito da Rede Ibero-americana de Pesquisa em Ambiente e Sociedade, este livro aborda o tema das mudanças ambientais e climáticas em áreas protegidas e vulneráveis a partir de um amplo grupo de pesquisadores de diferentes países. Lançado por ocasião do cinquentenário da Unicamp, as contribuições aqui trazidas buscam refletir sobre questões-chave da vida contemporânea: por que, afinal, continuamos atrelados a um modelo de desenvolvimento baseado na emissão de carbono se já há evidência suficiente de que isso contribui para ameaçar os sistemas sociais e ecológicos? Por que, diante de tais evidências, as políticas públicas de enfrentamento do problema não surtem o efeito esperado nos diferentes países?
Colorismo, de Alessandra Devulsky, trata de um tema premente para entendermos a construção da sociedade brasileira e a dinâmica das suas relações. No decorrer do livro, a autora aborda desde os aspectos internos do colorismo, sua introjeção, até seu caráter estrutural, tão presente em nossa sociedade quanto o racismo. As implicações do colorismo no mundo do trabalho e na dinâmica das relações de poder também são investigadas a fundo, a fim de deixar nítido que a mestiçagem e sua origem violenta continuam repercutindo e exercendo forte papel no país. A distinção entre negros claros e retintos, capaz de desmobilizar o reconhecimento e a união entre os sujeitos com traços de africanidade, e enfraquecer a luta antirracista, é dissecado pela autora, que conclama a força política mobilizadora que pode advir do questionamento do colorismo, que estratifica os negros a partir de um olhar forjado no seio da supremacia branca. Não fica de lado, também, uma análise do colorismo a partir do feminismo negro, a fim de investigar sua repercussão tanto no aspecto afetivo quanto político de formação das mulheres negras.
A questão ambiental está se tornando parte do cotidiano do cidadão, das empresas e dos governos. O uso correto da água, lixo e reciclagem; proibição do uso de sacolas plásticas; votação do Código Florestal; enchentes; poluição atmosférica e mudanças climáticas; energias renováaveis são assuntos que estão afetando políticas públicas e estratégias empresariais.
Paolo Rossi faz aqui uma reflexão sobre o tema alimentação para demonstrar que o simples ato de comer está muito mais carregado de significados, culturais e antropológicos, do que se pode imaginar quando se se pensa em assuntos como dietas saudáveis, desnutrição e gastronomia, muito em voga atualmente. Nesse estudo, ele investiga e descreve a inextricável mistura de sentimentos envolvidos no ato de alimentar-se – necessidade básica, desejo primal, obsessão patológica –, explorando as inúmeras nuances que o verbo comer assumiu na história da humanidade. A própria multiplicidade de metáforas alimentares empregadas no dia-a-dia de qualquer pessoa (“comer com os olhos”, “engolir um sapo”, devorar um livro”), sugere Rossi, é indicativa da miríade de desejos primários e emoções profundas que povoam o universo da alimentação. Com elementos pinçados da história das ideias, ele constrói um mosaico de cenários e situações em que esses sentimentos se revelam. E mostra como é profunda a ligação entre o comer e a condição humana, e como, para além de satisfações fisiológicas, existem elos de ordem psíquica que resvalam na fronteira do plano mítico. A pesquisa, atemporal, atravessa culturas e temas, como a fome em diferentes épocas e sociedades humanas, incluindo a contemporânea, aborda o jejum, a greve de fome, o canibalismo, o vampirismo, o serial killers, que transgride o maior dos tabus, ao devorar suas vítimas.
No meu primeiro livro sobre o assunto, Tudo sobre o amor: novas perspectivas, tive o cuidado de afirmar repetidas vezes que as mulheres não são inerentemente mais amorosas do que os homens, mas que somos incentivadas a aprender a amar. Esse incentivo tem sido o catalisador para as mulheres saírem em busca do amor, para observarem com atenção a prática do amor. E para confrontarmos nossos medos de não sermos amorosas e não sermos amadas o suficiente. As mulheres na nossa cultura que mais têm a ensinar ao mundo sobre a natureza do amor são as da geração que aprendeu por meio da luta feminista e da terapia baseada no feminismo que o amor-próprio é a chave para encontrar e conhecer o amor.
Estudo sobre as condições de vida e de saúde, assim como de processos de reprodução social no âmbito das unidades de conservação ambiental. É um contexto privilegiado de investigação sobre as relações no território de vida e trabalho entre Estado, sociedade, meio ambiente e saúde, o que poderá contribuir para a elaboração de um projeto político amplo que possibilitaria a estruturação de um sistema de garantias de direitos às populações ribeirinhas por meio do desenvolvimento de ações integradas.
0 Projeto Conexões de Saberes sobre o Trabalho integra atividades de ensino, pesquisa e extensão por meio de um novo dispositivo de produção de saberes sobre o trabalho, que em diversos aspectos pode ser assemelhado a uma Comunidade Científica Ampliada, como proposto por Ivar Oddone.
O estabelecimento de áreas protegidas é uma estratégia importante para conter a ocupação desenfreada da terra e o uso predatório dos recursos naturais, mas sua implementação tem enfrentado inúmeros desafios. De forma didática e abrangente, Nurit Bensusan trata da questão das áreas protegidas pela ótica dos desafios atuais e futuros - humanos, culturais, econômicos e sociais -, mostrando que a participação da sociedade é fundamental para superá-los.
Valendo-se de desdobramentos da tradição da boa antropologia, que vê a relação com os objetos como constitutiva de toda experiência social humana, Isadora Lins França desenvolve com clareza e sistematicidade a visão de que o mercado e o consumo desempenham papel central na produção e no reconhecimento social de sujeitos, identidades e estilos ligados à homossexualidade.
Discutir aspectos que ajudam a entender por que comemos o que comemos e a produção biológica e social da obesidade, além de analisar políticas públicas de alimentação e nutrição. Com esse objetivo, a Editora Fiocruz lança a mais nova obra da coleção Temas em Saúde: Consumo Alimentar e Obesidade: teorias e evidências . Escrito pela médica Rosely Sichieri e pela nutricionista Rosangela Alves Pereira, o título foi concebido antes da eclosão da pandemia de Covid-19, com a proposta de apresentar as relações envolvidas nos sistemas alimentares, apontando fontes seguras de informação - com base em evidências científicas - sobre a alimentação humana. "Naquele momento, a ideia era tentar explicar por que comemos o que comemos. Ao lado de explicações fisiológicas, combinaríamos as motivações e os movimentos mercadológicos que nos levam ao consumo que temos. No começo da pandemia, nos pareceu que um novo momento estava sendo criado, (..), num momento que era uma retomada de uma alimentação mais saudável", relembra Sichieri.
Aprendi teoria e intervenções práticas com a leitura deste livro. Os autores prestam serviço importante aos interessados em conhecer melhor o impacto do uso de drogas ilícitas na sociedade brasileira. Sem serem explícitos, transmitem uma mensagem de esperança: é póssível levar os usuários de drogas e ajudá-los no tratamento da dependência química”. — Drauzio Varella
Arte não se refere apenas ao belo e ao efêmero. Ela é uma forma de produção de conhecimento que não se reduz ao prazer estético e pode ser entendida também como uma dimensão do pensamento, da técnica e da atividade produtiva humana. Nosso interesse neste terceiro volume da Série Sabor Metrópole é aproximar pesquisadores de diferentes campos e apresentar seus trabalhos acadêmicos que articulam arte, ciência, comunicação, consumo e alimentação. São textos que partem de trabalhos científicos, todos são frutos de pesquisas acadêmicas e foram construídos a partir de diferentes linguagens artísticas, reunindo trabalhos que transitam pelo cinema, teatro, música, vídeos, produção textual ou análise de trabalhos publicitários. Desde um pequeno detalhe da produção textual ou de uma cena de um filme até a grandiosidade da construção de grandes eventos, temos um diálogo constante entre o rigor acadêmico, a pesquisa científica e a criatividade artística, sempre produzindo invenções que traduzem a ausência de hierarquia entre os diferentes saberes que compõem esta coletânea.
Chegou a hora de extirpar a supremacia branca de dentro do feminismo Desde sua origem, o feminismo se baseou na experiência de mulheres brancas de classe média e alta, que há muito se autoproclamaram as especialistas no assunto. São elas que escrevem, palestram, dão entrevistas. Ao mesmo tempo, para manter seus privilégios, demarcam a branquitude do movimento ao sobrepor suas falas às das mulheres de pele negra e marrom. No entanto, o diálogo só será possível quando todas as mulheres estiverem em patamares iguais. E é partindo do princípio de igualdade na diversidade que Rafia Zakaria, muçulmana, advogada e filósofa política, defende uma reconstrução do feminismo. Contra o feminismo branco é um contramanifesto que insere as experiências de mulheres de cor no centro do debate. Em uma leitura direta e impactante, a autora questiona desde pensadoras como Simone de Beauvoir a produtos culturais como Sex and the City . O resultado é uma obra crítica à adesão do feminismo branco ao patriarcado, à lógica colonial e à supremacia branca. Ao seguir a tradição de suas antepassadas feministas interseccionais Kimberlé Crenshaw, Adrienne Rich e Audre Lorde, Zakaria refuta a indiferença política e racial do feminismo branco em uma crítica radical, na qual coloca o pensamento feminista negro e marrom na vanguarda.
O livro Corpo com deficiência em busca de reabilitação? A ótica das pessoas com deficiência física tem por objetivo principal discutir o que é Reabilitar. A reflexão sobre o tema considera os testemunhos de Nina, Sérgio e José Roberto, que ao relatarem suas histórias de vida e vivências nos serviços de reabilitação, nos provocam a questionar as premissas epistêmicas e éticas nas quais estão arquitetadas as práticas dessa área no campo da saúde. A proposta do texto é compreender o imaginário social que se tem sobre o corpo com deficiência na nossa sociedade, como a influência positivista e cartesiana se manifesta nas ações técnicas sobre o corpo com deficiência, na organização dos serviços e nos modelos assistenciais de reabilitação. Os depoimentos oferecem pistas valiosas para o rompimento com as propostas organicistas e reducionistas de reabilitação, apresentam sugestões na direção de abordagens que considerem o corpo com deficiência como dotado de desejo e de voz, que é afetado pelos bons e maus encontros, que está em relação com outros corpos e com o mundo de forma política, no sentido espinosano do termo. Trata-se de um livro para profissionais da saúde e da reabilitação, para educadores e para outras pessoas e profissionais que se interessem pelo tema.
A originalidade desta pesquisa está na abordagem do papel do corpo na organização da identidade na esfera da teoria de Wilhelm Reich. A teoria de Wilhelm Reich, embora consistente e densa, não apresenta um corpo teórico especificamente organizado no tema da identidade e da imagem corporal. Assim proponho uma leitura da teoria de Wilhelm Reich na perspectiva energética focando o corpo e a organização da identidade e da imagem corporal. Para poder pensar a organização ontogenética da identidade, a autora se volta para a tese de Wilhelm Reich sobre a interdependência entre a percepção e a consciência. O pensamento funcional, método de pesquisa utilizado por Wilhelm Reich, cuja lógica emerge da operação das funções conduz à compreensão da função do segmento ocular enquanto uma ponte entre a teoria e a pesquisa de campo. A imagem corporal funcionou como um instrumento abstrato e ao mesmo tempo concreto nos trabalhos de fotografia, do espelho e do desenho das figuras humanas aplicados no grupo das adolescentes.
Este livro foi escrito na forma de um manifesto, um convite a estudiosos/ as para pensarem nas implicações de conectar epistemologias e teorias decoloniais e pós-coloniais com discursos emancipatórios, teoria crítica e pedagogia crítica. A partir de históricas de uma identidade gay, dentro e fora dos espaços colonizadores, dentro e fora das universidades, este livro problematiza a formação médica em que determinados corpos importam e outros não, uma vez que sistematicamente se reproduz uma estrutura de violência para todos historicamente marginalizados, minorizados e violentados. Gustavo, Cláudio e Nelson, buscam a utopia da justiça social. Seus textos dialógicos modelam formas de práxis decolonizadoras que empoderam as pessoas ao honrar suas vozes, suas experiências e suas lutas por dignidade.
Corpos, territórios e feminismos finca os pés nos territórios que vêm sendo alvo de projetos extrativistas — terras habitadas por populações tradicionais, cujo modo de vida entra em conflito direto com as diretrizes capitalistas — para entender como os povos estão resistindo à despossessão. Por meio de uma pesquisa militante, as autoras puderam compreender que essa resistência é liderada sobretudo por mulheres. São elas que mais sofrem o impacto da devastação e, portanto, as que mais se dispõem a lutar contra o seu avanço.
Neste 13º título da Coleção Feminismos Plurais, a promotora de justiça Lívia Sant’Anna Vaz apresenta um estudo das cotas raciais no Brasil e do seu impacto no ensino superior e nos concursos públicos ao longo dos dez anos da legislação. A obra rememora o histórico de restrições impostas a pessoas negras no acesso à educação formal e promove a compreensão histórica do racismo e da resistência jurídica de reconhecê-lo como um dos elementos que estrutura as desigualdades brasileiras. Para além de apresentar os desafios para o aprimoramento das cotas raciais e os seus limites na concretização de justiça racial, a autora também salienta a importância dos mecanismos de controle para a garantia da eficácia dessa importante ação afirmativa para o povo negro.
Este livro compartilha saberes de um grupo de pesquisadores de meio ambiente, políticas públicas e economia, que acreditam que o princípio de ciência-cidadã esteja aqui incorporado, não apenas com o objetivo restrito de divulgação científica, mas de transformar todas as pessoas. O livro reúne reflexões dos pesquisadores do Grupo de Economia do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (GEMA-IE/UFRJ)Trata das relações entre a pandemia, políticas públicas, com foco na economia e meio ambiente, e nossa dívida social.
O autor Leonardo Boff fala neste livro sobre a doença que, atualmente, assola a humanidade, e que está definindo, um novo rumo para nossa história. O coronavírus é um contra-ataque da Terra as agressões que vem sofrendo por danos causados pelo homem, mas o autor acredita que ainda há tempo.
m “Cozinha é lugar de mulher?” Bianca Briguglio procura desmistificar o mundo da gastronomia como vem sendo apresentado na mídia hegemônica nos últimos anos. A representação glamourizada do trabalho em cozinhas, baseado na paixão e dedicação de resignados profissionais dispostos a tudo para obter sucesso e reconhecimento. O que a autora revela, baseada em sua pesquisa de doutorado e entrevistas com cozinheiros e cozinheiras, é um cotidiano atravessado por longas e duras jornadas de trabalho, baixos salários, informalidade, rotatividade e, em muitos casos, assédio moral e sexual. A partir de uma perspectiva sociológica que considera as relações de gênero, classe e raça/ etnia, a autora apresenta um panorama sobre a realidade dos profissionais de cozinhas que ultrapassa o ambiente de trabalho, relacionando-se ao trabalho doméstico, ao tempo dedicado à família, lazer e descanso. A extensão da jornada, assim como as condições de trabalho e a necessidade de realizar uma série de outras atividades para gerar renda, tem impacto decisivo sobre as relações pessoais e dentro das famílias, de maneira diferente para homens e mulheres, brancos e não brancos. A masculinização das cozinhas profissionais, um processo histórico que a autora investiga, desemboca em obstáculos e dificuldades adicionais para as mulheres neste segmento profissional, sobretudo as mulheres negras, que se deparam com o machismo e o racismo combinados.
Destaca-se na obra um mérito importante, o de posicionar-se de forma clara, aberta e entusiasmada sobre a necessidade da união de todos para o combate ao uso das drogas, sobretudo, o relacionado ao crack. Não interessa o partido que esteja no poder, desde que ele se mostre sensível e com competência para trazer benefícios às pessoas atingidas pelas consequências do uso da droga, louvando a iniciativa de empresas, da mídia e de indivíduos que se integram à campanha de combate às drogas.
A publicação deste livro sobre doenças raras envolvendo narrativas, memórias e trajetórias de cuidado com familiares de crianças e adolescentes com doenças raras constitui um passo importante nas pesquisas que a socióloga e psicóloga Martha Moreira vem desenvolvendo sobre condições crônicas complexas em saúde no Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira, da Fundação Oswaldo Cruz. A pesquisa tem o mérito de penetrar na trama das doenças raras a partir de diversos enfoques que consideram tanto a definição do tema, como as memórias e trajetórias de familiares e as pesquisas ações de apoio em desenvolvimento. Dados da Global Genes, organização internacional sem fins lucrativos, demonstram que existe aproximadamente 350 milhões de indivíduos no planeta que manifestam algum dos sete mil distintos tipos de doenças raras. Tais informações confirmam a importância de estudos que organizem as informações sobre as condições de vida e de cuidados destes indivíduos.
De todos os humanos, o negro é o único cuja carne foi convertida em mercadoria. Aliás, negro e raça têm sido sinônimos no imaginário das sociedades europeias. Desde o século XVIII, constituíram ambos o subsolo inconfesso e muitas vezes negado a partir do qual se difundiu o projeto moderno de conhecimento e também de governo. Será possível que a relegação da Europa à categoria de mera província do mundo acarretará a extinção do racismo, com a dissolução de um de seus mais cruciais significantes, o negro? Ou, pelo contrário, uma vez desmantelada essa figura histórica, todos nós nos tornaremos os negros do novo racismo fabricado em escala global pelas políticas neoliberais e securitárias, pelas novas guerras de ocupação e predação e pelas práticas de zoneamento? Neste ensaio ao mesmo tempo erudito e iconoclasta, Achille Mbembe empreende uma reflexão crítica indispensável para responder à principal questão sobre o mundo contemporâneo: como pensar a diferença e a vida, o semelhante e o dessemelhante?
O envelhecimento da população é um fenômeno universal, sendo que nos países emergentes a velocidade desse processo é mais significativa. No Brasil, em 1950 a população de indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos representava 4,9% do total e a estimativa é que chegue a 23,6% em 2050. Essa população passará a depender cada vez mais de cuidadores e profissionais de Enfermagem para ajudá-la suas limitações físicas e emocionais. "Cuidados de Enfermagem em Geriatria" é ferramenta indispensável para os profissionais de Enfermagem que atuam e pretendem atuar no atendimento dessa população. Para que a assistência de Enfermagem ao idoso seja oferecida com qualidade isenta de imperícia, imprudência ou negligência, esses profissionais devem estar imbuídos de conhecimento científico e detalhado relativo aos cuidados adequados a serem oferecidos a esta clientela. Em virtude disso, o livro traz informações sobre as diversas patologias e os cuidados relacionados ao idoso, abordando desde o envelhecimento cutâneo; catarata e glaucoma; hipertensão arterial sistêmica; doença de Alzheimer; doença de Parkinson; perda de memória; síndrome demencial; acidente vascular encefálico; insuficiência cardíaca coronariana; doença pulmonar obstrutiva crônica; aterosclerose; nefropatia diabética; câncer de próstata; osteoporose e osteomalacia, até o cuidado em assistência ambulatorial para o idoso portador de DST, como a AIDS.
Esta obra se inscreve no campo de discussão sustentado pelo o Núcleo de Investigação das Subjetividades Contemporâneas (NISC-EMED-UFOP), grupo que se dedica a desenvolver ações de pesquisa e de extensão em torno de questões relacionadas às sexualidades e aos gêneros no contexto das práticas em saúde. Nela, relatos de experiências de cuidado voltado para pessoas trans no território mineiro refletem não só o compromisso das autoras e dos autores com o diálogo interdisciplinar nos processos de formação de profissionais de saúde, mas também o desejo de construção de realidades menos violentas nas quais as diferenças possam, de fato, circular.
Os temas da publicação priorizam a melhoria da qualidade de vida do idoso e estimulam a sua autonomia e independência, além de desenvolverem uma mentalidade preventiva no sentido de se evitarem danos à saúde do idoso. Os artigos contribuem para que o cuidador seja capaz de desenvolver ações de ajuda naquilo que o idoso não mais pode fazer por si com o maior sucesso possível. Tentar melhorar e garantir a qualidade de vida é também um dos principais objetivos deste livro. Os leitores terão à disposição, na realidade, um manual de consulta e leitura que os ajudará a resolver dúvidas de como se deve cuidar do idoso de uma maneira informal e voluntária ou formalmente por profissionais que executam atendimento e cuidado sob a forma de prestação de serviços.
É impossível ler bell hooks e não sair da zona de conforto. O estudo de sua obra pode acender em cada pessoa uma chama, uma disposição a correr o risco de imaginar possibilidades subjetivas e comunitárias para além do patriarcado capitalista supremacista branco, possibilidades de contato genuíno com a alteridade. Se esses sistemas interligados de opressão normatizam modos de vida automáticos e apáticos, reproduzindo lugares sociais já sedimentados, as provocações de hooks nos estimulam a assumir uma presença viva, criativa e apaixonada, almejando construir novos modelos de existência — e uma cultura fora da lei.
O livro Curar-se do álcool: antropologia de uma luta contra o alcoolismo, da antropóloga francesa Sylvie Fainzang, é uma contribuição significativa para os estudos do álcool e do alcoolismo. Fainzang empreende um estudo etnográfico da luta contra o alcoolismo travada por aquele movimento, caracterizado como uma verdadeira "cultura da abstinência", ou seja, um sistema de valores específicos relativos à gestão do alcoolismo para pessoas que se consideram doentes.
Nesta obra, a autora analisa a interlocução entre consumo patológico e consumo patogênico de álcool, tendo como campo de ação-pesquisa 12 anos de trabalho direto e 6 de labor indireto em uma empresa de petroquímica brasileira.
Este livro é resultado de um esforço para resgatar as ideias de Josué de Castro 75 anos depois da publicação de sua obra-prima, Geografia da fome, justamente num momento em que o país volta a enfrentar as formas mais graves da insegurança alimentar e nutricional. Em 26 artigos e uma linha do tempo, e em permanente diálogo com o intelectual pernambucano, Da fome à fome oferece um panorama multidisciplinar sobre esse flagelo na tentativa de responder a uma pergunta absurda: por que uma potência agropecuária mantém 33 milhões de pessoas sem comida na mesa enquanto exporta toneladas e mais toneladas de grãos e carnes todos os anos? Como se verá nestas páginas, a questão é essencialmente política. Por isso, Da fome à fome é leitura obrigatória para quem está estarrecido com a carestia brasileira do século xxi e deseja compreender o problema para além do discurso fácil e falacioso do agronegócio.
Este Da pediatria à psicanálise, de Donald W. Winnicott, volta-se mais diretamente aos profissionais ligados ao cuidado de bebês e crianças: pediatras, enfermeiras/os e psicanalistas. Nesta reunião de artigos, que acompanha o percurso de Winnicott da pediatria à psiquiatria e ao nascente campo da psicanálise infantil, é possível observar o diálogo entre essas diferentes perspectivas tomando corpo nas ideias e na prática de Winnicott, e apreciar as diferentes modalidades de escuta que o psicanalista e pediatra foi concatenando ao longo de sua carreira. Winnicott passou a observar e a escutar as crianças que vinham a seu consultório não tanto com um estetoscópio como com a disposição para depreender de brincadeiras conflitos e angústias que não eram verbalizados.
A indústria do sexo é uma fonte inesgotável de drama lascivo para a grande mídia. Nos últimos anos, assistimos a um pânico generalizado em relação aos “distritos da luz vermelha online”, que supostamente seduzem mulheres jovens e vulneráveis para uma vida de degradação. A tendência atual de escrever e descrever experiências reais de trabalho sexual alimenta uma cultura obcecada pelo comportamento das profissionais do sexo. Raramente esses relatos temerosos vêm das próprias trabalhadoras, e nunca se desviam da posição – comum entre feministas e conservadoras – de que essa indústria deve ser abolida e as trabalhadoras devem ser resgatadas de sua condição. Dando uma de puta desmantela os mitos generalizados sobre o tema, critica ambas as condições dentro da indústria do sexo e sua criminalização, e argumenta que separar esse trabalho da economia “legítima” só prejudica aqueles que realizam trabalho sexual. Aqui as demandas das profissionais do sexo, por muito tempo relegadas às margens, ocupam o centro do palco: o trabalho do sexo também é trabalho, e os direitos das profissionais do sexo são direitos humanos.
Das Cores do Silêncio, primeiro lugar do Prêmio Arquivo Nacional de Pesquisa no ano de 1993, foi publicado pelo Arquivo Nacional em 1995, com uma segunda edição em 1998. O livro lançou novo olhar sobre a trama e o drama da Abolição e do Pós-Abolição, tendo por foco as aspirações de liberdade da última geração de africanos escravizados nas lavouras cafeeiras do Sudeste e de seus descendentes diretos. As fronteiras fluidas entre escravidão e liberdade, examinadas quase ao microscópio no trabalho, iluminam um processo específico de racialização pelo avesso, associado às primeiras definições do cidadão brasileiro como portador de direitos civis e políticos.
Mais de trezentos anos de escravidão legaram ao Brasil uma sociedade em que racismo se infiltra no cotidiano das maneiras mais perversas. Do lápis de pintar usado na escola aos termos com os quais as pessoas se auto definem, resultante da gama de tons que a mestiçagem - reconhecida ou não - produz, a beleza da cor e da diversidade só agora começa a ser notada.
Este livro trata da origem, do crescimento e das transformações de um segmento operário brasileiro que, pelo significado da sua produção no cenário nacional e internacional, tornou-se um caso exemplar das mudanças sociais e econômicas do país nos últimos 60 anos. A abordagem antropológica deste livro centra-se na ótica dos trabalhadores sobre todo esse período em que constroem e são construídos pela Vale. Narra passo a passo a origem, a constituição, o crescimento e a organização desse segmento de trabalhadores.
Uma das ensaístas e feministas mais relevantes da atualidade, Rebecca Solnit examina os principais temas que permeiam o debate contemporâneo — do assédio sexual à crise climática. Quem escreve as narrativas de nossos tempos? Em cada debate, uma batalha está sendo travada: de um lado, mulheres e pessoas não brancas, não binárias e não heterossexuais finalmente podem contar a história com sua própria voz; de outro, pessoas brancas — sobretudo do gênero masculino — se apegam às versões de sempre, que contribuem para manter seu poder e status quo. Em vinte ensaios atualíssimos, a autora de Os homens explicam tudo para mim e A mãe de todas as perguntas avalia essas discussões, por que elas importam e quais são os desafios que temos pela frente.
Democracia para quem? reúne as palestras proferidas de 15 a 19 de outubro de 2019, por três intelectuais do movimento feminista – Angela Davis, Patricia Hill Collins e Silvia Federici –no âmbito do seminário internacional “Democracia em Colapso?”, promovido pelo Sesc São Paulo e pela Boitempo. No livro, é possível tomar contato com reflexões feitas pelas três autoras – referências globais em suas áreas de estudo e de atuação – sobre temas como capitalismo, racismo, desigualdade social, ecologia, entre outros.
Comentário do Pe. Paiva (Raul Pache de Paiva, SJ) diretor de redação da revista Mensageiro do Coração de Jesus, uma publicação de Edições Loyola Numa sociedade em que a vida se prolonga e a família se fragiliza ou se desfaz, pensar eticamente a problemática do idoso como o faz o autor, pode ser de grande enriquecimento para os nossos professores, estudantes de filosofia, sacerdotes e religiosos, além dos que assumem, de um modo ou de outro, o cuidado dos idosos. O autor é professor doutor de Filosofia e fundador do departamento de Bio-ética da Universidade de Cleveland/USA. Pensar problemas, mesmo num círculo aparentemente restrito, como o será, sem dúvida, o dos leitores deste livro, é encaminhar, de algum modo, soluções. Mais informações sobre o livro Contra-capa Respeitar a autonomia de idosos incapacitados é uma questão ética muito importante para os provedores de cuidado de longo prazo. Neste livro, George Agich abandona cômodas abstrações para revelar as ameaças concretas à autonomia das pessoas nessa fase da vida, em que conflitos éticos, dilemas e tragédias são inevitáveis. Afirma o autor que conceitos liberais de autonomia e de direitos individuais são insuficientes, e oferece um conceito de autonomia que se equipara às realidades de cuidado de longo prazo. O livro expõe, portanto, uma estrutura de apoio para que enfermeiras possam desenvolver uma ética de cuidado de longo prazo dentro do ambiente complexo no qual muitos idosos dependentes se encontram. Publicado anteriormente como Autonomy and Long-term Care, esta edição considera trabalhos recentes e desenvolve as visões de George Agich sobre o significado da autonomia no mundo real. O autor escreve com paixão e interesse sobre o assunto, associando uma abordagem culta e fenomenológica à ética e identidade pessoal, com consciência das necessidades de idosos vulneráveis e seus enfermeiros. O livro é de grande interesse para bioéticos e profissionais da saúde.
Os resultados da pesquisa empírica da autora deslocam os sentidos e significados do sofrimento mental na infância, que muitas vezes, ficam restritos aos consultórios e serviços de saúde. O seu estudo busca compreender o fenômeno da depressão para além dos discursos médico e adulto, numa abordagem socioantropológica dos problemas mentais na infância. Texto extraído da apresentação de Aurea Ianni da Faculdade de Saúde Pública da USP.
Secas, inundações, escorregamento de terras, derramamento de óleo, rompimento de barragens e pandemia de Covid-19. Todos esses eventos fazem parte de um conjunto de desastres - causados pelos mais diversos fatores - enfrentados pela população brasileira. Desastres: velhos e novos desafios para a saúde coletiva, livro que integra a coleção Temas em Saúde, amplia os debates sobre essas ocorrências.
Fruto de quase uma década de pesquisa, Desejos digitais é uma obra sem precedentes. Inserida na sociologia digital, com ênfase nos estudos de sexualidade e gênero, a pesquisa de Richard Miskolci parte da construção do sujeito movido pelo desejo para analisar como a busca por parceiros sexuais (e/ou amorosos) na internet, mais precisamente entre homens, se insere no contexto social contemporâneo e com ele se relaciona. Influenciado principalmente pelas ideias de Eva Illouz, Eve K. Sedgwick, Judith Butler e Michel Foucault, Richard concentra sua pesquisa na primeira geração de homens que buscaram na internet uma forma de vivenciar o próprio desejo com mais segurança e discrição. Desejos digitais nos ajuda a compreender como a tecnologia tem transformado o ser humano e suscitado questões cada vez mais urgentes à sociologia e à psicanálise.
Partindo da análise de movimentos de protestos sociais contemporâneos, sobretudo brasileiros, e questionando a ideia de que a explicação do mundo do trabalho pela teoria marxista está superada, esta coletânea busca ampliar a compreensão das relações de classe e dos movimentos sociais, assinalando como, ao lado de movimentos sindicais organizados e atuantes, se constituem outras formas de participação e reivindicação que não se vinculam a essas entidades mas que se encontram em um contexto de luta de classes.
Estima-se que os países em desenvolvimento absorverão de 75% a 80% dos custos relacionados a danos causados pela mudança climática. Essa nações não podem ignorar a mudança climática, nem agir de forma isolada. Assim, são urgentes medidas para reduzir a vulnerabilidade e fixar as baes da transição para o crescimento econômico com baixa emissão de carbono.
Este livro analisa o desenvolvimento sustentável do seu surgimento até o momento atual que tem na Agenda 2030 sua aposta mais ambiciosa e que resultou de um acordo com 193 Estados-membros da ONU. O livro apresenta os pontos centrais da Agenda e como eles se relacionam com a evolução e consolidação dos entendimentos sobre desenvolvimento sustentável. Também discute a sua adequação à realidade brasileira. É uma leitura imprescindível para quem deseja participar dessa grande transformação.
Este livro chega ao Brasil em um momento particularmente fecundo para o enfrentamento dos muitos problemas que Butler aponta: esta tem sido uma época especialmente desfavorável para mulheres, homossexuais, lésbicas e pessoas trans, com índices de violência impressionantes. Autora incontornável no que diz respeito às reflexões sobre formas de segregação, Butler está “desfazendo” o conceito de gênero como único e exclusivo recorte para análise das injúrias e violações a que as chamadas “pessoas dissidentes de gênero” são submetidas.
Paixão, namoro, casamento, fertilização in vitro, gravidez de gêmeos, parto. Se você leu Mama (2019), livro de estreia de Marcela Tiboni, já conhece a história de amor vivida por Mel e Marcela. Mas o que acontece depois que as duas mães chegam da maternidade com os bebês recém-nascidos? Este livro parte do nascimento de Bernardo e Iolanda para narrar o cotidiano da família, dos primeiros dias dos bebês até o desmame – tudo isso vivido em meio a uma pandemia. E mais: divididas em décadas, narrativas paralelas resgatam memórias da infância, adolescência e juventude da autora. Em Desmama, Marcela Tiboni reafirma sua escolha de viver a maternidade de forma aberta e inclusiva, quebrando mais uma vez o tabu da maternidade homoafetiva para contar a história de seu maternar ao lado de outra mulher.
Esta obra evoca uma discussão sobre as desigualdades, as iniquidades e a violência social entranhadas na realidade brasileira e expressas na situação de encarceramento. A questão da saúde é analisada em conjunto com o contexto social dos presos e as condições ambientais do encarceramento. Por meio de entrevistas, pesquisas, avaliações e observações, os autores buscam compreender o funcionamento do sistema prisional do Rio de Janeiro. A coletânea apresenta as condições sociais e de saúde dos presos e discute de que forma o ambiente das unidades prisionais impacta a saúde e a qualidade de vida dos detentos. Mostra, ainda, que o antes, o durante e o depois da prisão estão entrelaçados. Há “uma linha de continuidade entre o fora e o dentro da prisão, tanto nas condições sociais como no que afeta direta e indiretamente a saúde física e mental dos detentos, de seus familiares e até de seu entorno comunitário além de se evidenciarem ações que poderiam contribuir para que a vida no cárcere não fosse apenas castigo, dor e perpetuação da exclusão social”, afirma a socióloga Julita Lemgruber, responsável pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes. “A leitura deste livro passa a ser obrigatória para todos os que atuam no sistema, militam em direitos humanos e apostam na construção da democracia brasileira.”, completa, no texto da quarta capa do livro. O objetivo é que promotores, integrantes da Defensoria Pública, gestores e demais profissionais envolvidos com o sistema prisional encontrem neste livro conhecimentos que contribuam para sua atuação.
Nos ensinaram a obedecer. Nos ensinaram a obedecer sem nunca nos perguntar se concordávamos com as regras ou se desejávamos qualquer coisa relacionada a elas. Nos ensinaram a abolir nossos desejos para sermos respeitadas. A pautar nosso valor pelo olhar do outro. A nos largar pelo caminho para construir e cuidar a vida dos que nos rodeiam. Nesse caminho imposto, não sobra nada nosso. Não sobra a gente. Para interromper esse percurso, é preciso desobedecer às regras, as que não foram criadas nem pelas mulheres, muito menos para as mulheres. Em Desobediência, Iana Villela, uma “desobedecedora” de regras, navega por fatos cotidianos e nos leva a refletir sobre o papel da mulher na sociedade contemporânea.
Renova o campo de estudos sobre prostituição no Brasil ao tratá-la como lugar de sociedades e de operação de relações de poder. Ao seguir a trajetória de quatro lideranças da prostituição, exercida por mulheres, no centro de Porto Alegre – RS, o autor nos leva a um diálogo com a produção antropológica e literária sobre o tema.
O olhar que Mariléa de Almeida lança sobre as mulheres quilombolas, suas biografias e seus projetos serve para descrever como o afeto é um elemento constituinte de seus espaços de vida, seus projetos coletivos, suas lutas políticas. Mariléa nos faz compreender que, sem ter em conta as relações de afeto, perdemos uma parte fundamental da experiência que sustenta as relações territoriais. Mas também é possível reivindicar aqui as reflexões da antropóloga Jeanne Favret-Saada sobre “ser afetado”, para apreender como o trabalho de Mariléa, além de realizar uma história e um inventário das formas pelas quais o afeto produz espaços de vida nos quilombos, tem no próprio afeto um método, ou uma dimensão central da pesquisa. O modo como a autora se aproxima de suas interlocutoras, destacando as linhas que cruzam e aproximam suas experiências às delas, também acaba por constituir a própria pesquisa como um território de afetos. Narrando experiências de dezenas de mulheres quilombolas do estado do Rio de Janeiro, este livro é capaz de demonstrar, com sensibilidade, como a luta pode ganhar a forma do cuidado, como a resistência pode se manifestar na ternura, como o território é produzido, atualizado e mantido pela capacidade de criar espaços seguros, nos quais é possível uma reconciliação com as histórias, os corpos e os saberes violados. Pelos olhos, pelos ouvidos e pelas mãos de Mariléa de Almeida, o quilombo torna-se quilombola.
Este livro Diálogos Contemporâneos sobre homens negros e masculinidades provavelmente seja um dos mais instigantes do “gênero negro masculino”. A dupla organizadora tem quilometragem de estrada sobre relações raciais e gênero masculino. Henrique Restier e Rolf de Souza conseguiram montar um time de primeira, o plantel foi habilidoso para fazer um dos debates mais difíceis da sociedade brasileira: o lugar do homem negro. Os autores versam sobre duelos de masculinidades num contexto histórico em que os homens negros não foram convidados para compor o ideal de nação brasileira da elite branca. Numa cultura em que a proposta foi hiper-sexualizar heternormativamente os homens negros, fazendo circular o perigosíssimo estereótipo da virilidade concentrada no órgão sexual, um pênis sem “falo”. — Renato Noguera Professor de Filosofia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
O Dicionário crítico do feminismo reúne uma coletânea de rubricas redigidas por especialistas em cada uma das temáticas abordadas. Visa estimular a reflexão sobre a construção social da hierarquia entre os sexos e desenvolver um pensamento crítico feminista que favoreça a emancipação das mulheres e a igualdade na diferença.
O Dicionário de Agroecologia e Educação – uma produção da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV-Fiocruz), coordenada com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e em parceria com a Editora Expressão Popular, traz a relação entre conhecimento e prática presente na perspectiva da Agroecologia, na qual só pode se realizar plenamente a partir da Educação. E é este o principal objetivo desta obra que dialoga com os desafios da atualidade. A insegurança alimentar permanece como um dos principais problemas da sociedade contemporânea e é uma das faces da crescente desigualdade social. Essa reflexão, associada à crítica a um modelo de desenvolvimento baseado no lucro imediato e que esgota os recursos naturais, está na base do debate contemporâneo sobre Agroecologia, um dos fundamentos para um desenvolvimento efetivamente sustentável.
As diferenças entre os sexos nos animais e nos humanos suscitam questões que estão no cerne de quase todos os debates sobre gênero na nossa espécie. O comportamento de homens e mulheres difere de maneira natural ou socialmente construída? E quanto ele é realmente diverso? Em Diferentes, Frans de Waal baseia-se em décadas de estudo do comportamento de grandes primatas para defender que, apesar da ligação entre gênero e sexo biológico, a biologia não sustenta automaticamente os papéis tradicionais de gênero nas sociedades humanas. A partir da observação de chimpanzés e bonobos, parentes geneticamente muito próximos de nós, De Waal analisa nossa história evolutiva comparada à deles e desafia crenças amplamente aceitas sobre masculinidade e feminilidade, além de suposições comuns sobre autoridade, cooperação, competição e laços parentais. Ele abrange também temas que vão do comportamento materno e paterno à orientação sexual, passando pela identidade de gênero e pelas limitações do binarismo, sempre ilustrando seus argumentos com exemplos irresistíveis das personalidades e ações dos animais que acompanhou de perto.
Relações raciais e educação. Juntos, os temas vibram e tornam-se pontos referenciais para entender os vínculos entre as politicas públicas e a desigualdade social. O autor examina a maneira pela qual leituras científicas sobre a sociedade definiam negros e carentes como deficientes e como essa concepção passou a influenciar as práticas educacionais.
Este livro de Luciana Simas Chaves de Moraes abre as entranhas do nosso grande encarceramento na perspectiva do sofrimento imposto às mulheres privadas de liberdade. A guerra às drogas, essa política criminal com derramamento de sangue, atravessou governos à direita e à esquerda aumentando exponencialmente o número de brasileiros e brasileiras presas. Mas esse fenômeno, tão funcional ao capitalismo contemporâneo, atingiu as mulheres de uma forma brutal, aumentando em poucos anos 500% do encarceramento feminino.
Este livro permite que o leitor conheça o contexto no qual se insere o aquecimento global e as possíveis mudanças climáticas decorrentes e a possibilidade de um enfrentamento do problema pelo Direito através dos créditos de carbono como uma forma de estabelecer uma comunicação mais efetiva entre os sistemas do Direito e da Economia em benefício do meio ambiente. A obra apresenta, primeiramente, os principais conceitos e mecanismos do Direito Ambiental para depois, na segunda parte, aprofundar o urgente problema das mudanças climáticas. A contextualização se dá com a globalização e com a caracterização da Sociedade de Risco que produz demandas de consequências imprevisíveis, como ocorre com o aquecimento global provocado pela ação transformadora do homem. Prossegue o texto constatando que a busca por uma resposta por parte do Direito se constrói com a aplicação do princípio da precaução exemplificado através do Protocolo de Kyoto e dos créditos de carbono com ênfase a energia eólica, analisado como uma forma de construir a difícil conciliação entre os interesses econômicos e ambientais. Sustenta também o texto que as mudanças climáticas podem afetar todo o planeta de uma forma ou de outra, exigindo uma ação global dos Estados nacionais reunidos em organizações como a ONU para produzir tratados que contenham mecanismos práticos que representem efetividade nas ações e políticas relacionadas ao meio ambiente.
A obra constitui, em seu conjunto, valiosa contribuição acadêmica e prática para o estudo das implicações que as Políticas de Recursos Hídricos e Saneamento trazem para a efetivação dos direitos humanos em suas múltiplas dimensões, partindo de uma perspectiva universal, enfrentando questões de direito comparado, direito estadual e, por fim, debatendo o papel dos Municípios na proteção do bem ambiental maior para a vida, a água.
Segundo os relatórios Conflitos no Campo, publicados anualmente pela Comissão Pastoral da Terra, são crescentes os ataques aos quilombolas, indígenas e trabalhadores do campo. Em Dourados - município de Mato Grosso do Sul onde os organizadores deste livro são testemunhas das cotidianas violações de direitos contra os Guarani e Kaiowás - a violência é cada vez maior: logo no início de 2020, cerca de 180 famílias indígenas sofreram ataques por seguranças de fazendeiros, deixando sete indígenas feridos, incluindo uma criança, que perdeu três dedos da mão esquerda.
Os diversos artigos que compõem essa coletânea revelam agentes, conflitos, hierarquias e competências próprias do campo ambiental, além de tomar posição no debate socioambiental a respeito dos interesses contrapostos e das relações assimétricas em torno do poder público, das comunidades socialmente vulneráveis, dos territórios tradicionais, das unidades de conservação e da biodiversidade. Os assuntos abordados ao longo desta obra vão desde o conflito do Quilombo Rio dos Macacos, em Simões Filho (BA), até a questão agrária e os assentamentos rurais do município de Irará (BA), passando por reflexões sobre o comportamento jurídico, percepções, ignorâncias e estereotipação sobre os direitos indígenas no contexto legal brasileiro.
À primeira vista, a ideia de direitos da Natureza pode causar algum estranhamento: talvez o mesmo estranhamento que um dia causaram as propostas de direitos civis, direitos humanos e direitos das crianças, por exemplo. Neste livro, o sociólogo uruguaio Eduardo Gudynas analisa os caminhos conceituais e as lutas sociais que vêm abrindo espaço para que comecemos a tratar a Natureza como sujeito de direitos, e não como mero objeto da exploração humana. O autor analisa os casos do Equador, que colocou os direitos da Natureza na Constituição aprovada em 2008, aproximando os termos Natureza e Pacha Mama, e da Bolívia, que aprovou leis de proteção da Mãe Terra.
Dirigida a todos que se interessam pela interface entre ciências sociais e direitos humanos, porque nela pesquisam ou atuam, a coletânea apresenta uma série de estudos, a maioria de cunho etnográfico, sobre práticas sociais que articulam os discursos de direitos e os valores da ajuda humanitária. Aborda problemas sociais, como pobreza e discriminação, e novas formas de intervenção sobre eles, provenientes da ação estatal, jurídica, de ajuda humanitária ou de organizações da sociedade civil.
Desvelou-se, pelo percurso histórico-filosófico deste ensaio, que a efetividade dos Direitos Humanos se torna comprometida em razão de os mesmos serem concebidos em meio a compreensões arcaicas de Direito. Isto é, a concepção metafísica e dualística da antiguidade, também dominante no período medieval, continua presente em atuais teorias, que não acompanham os grandes avanços provindos da interação social e do vertiginoso desenvolvimento científico. Por isso, o presente estudo se reveste da modesta pretensão de contribuir para se repensar o reprodutivismo das velhas premissas filosóficas que ainda baseiam os Direitos Humanos nas ciências sociais aplicadas
O livro reúne um conjunto diverso de estudos sobre diversidade sexual e de gênero, com uma seleção abrangente e inédita de trabalhos que marcam o conhecimento que se produziu sobre gênero e sexualidade nos últimos 20 anos nas ciências humanas, incluindo saúde coletiva, ciências sociais, direito, educação, psicologia e serviços sociais. Diante dos enfrentamentos colocados pelo cenário atual, os textos convidam à releitura das primeiras duas décadas deste século e apresentam uma abordagem acessível de temas que atingiram grande refinamento conceitual e analítico.
O direito humano à saúde relaciona-se à cidadania plena e à igualdade. É a partir dessa perspectiva ampla e inegociável da concepção de saúde, que serve à garantia do respeito às diferenças e da redução das desigualdades, que a Editora Fiocruz lança Direitos Humanos e Saúde: reflexões e possibilidades de intervenção, livro que integra a coleção Temas em Saúde.
"[...] Por um lado, temos a violência explícita de ataques terroristas [...], com grande reverberação social e difusão midiática [...]. Por outro lado, todavia, temos também o terrorismo subterrâneo, um ´estado de terror´ que corresponde necessariamente à parte mais obscura do benjaminiano ´estado de exceção´ em que vivemos. [...]
Assumindo a exigência de pensar os Direitos Humanos nesse cenário, as autoras e autores discutem temas diversos, que atravessam esse campo de debate, tais como: racismo institucional, preconceito contra LGBTQI+, violência contra a mulher no âmbito doméstico e na forma de violência obstétrica institucional, política cultural brasileira, cultura policial e formação, justiça restaurativa, a problemática da proteção animal, assim como a centralidade da atuação dos mecanismos internacionais para a salvaguarda dos Direitos Humanos.
É possível apreender cientificamente a discriminação? Que desafios complexos devem ser enfrentados nesta iniciativa? Para responder a estas perguntas, são necessárias estratégias metodológicas capazes de identificar e medir a discriminação. Apresentar as ferramentas disponíveis e discutir suas potencialidades e limitações são os objetivos deste livro. “Há vasta literatura que documenta a influência deletéria de processos discriminatórios na relação estabelecida entre profissionais de saúde e pacientes, na prescrição de tratamentos medicamentosos ou de outros procedimentos cirúrgicos e terapêuticos, assim como na própria satisfação dos usuários com o atendimento prestado”, afirmam os autores. Eles apresentam o tema em perspectiva histórica, desde antes da década de 1920 até os dias atuais. Também descrevem os principais métodos hoje utilizados para mensurar a discriminação, como experimentos laboratoriais; experimentos de campo; análises de dados observacionais e experimentos naturais; e análise de indicadores. Sublinham as peculiaridades do contexto brasileiro e chamam atenção, por exemplo, para casos em que os tratamentos injustos estão tão internalizados que discriminadores e discriminados não identificam aquelas situações como problemáticas, considerando-as normais e naturais.
Com rigor metodológico, Luiz Valério Trindade evidencia o crescimento das redes sociais e analisa o quanto elas cooperam para o aumento dos discursos de ódio ao mesmo tempo que lucram com essas ações. Por meio de conhecimento qualificado e embasado, o autor revisita momentos importantes da história do Brasil pós-abolição para sedimentar conceitos fundamentais que permitem compreender a dinâmica racial nos tempos atuais, evidenciando o quanto o processo de construção da identidade nacional baseou-se pela ideologia do branqueamento. A partir de evidências de que as mulheres negras são as principais vítimas dos discursos que ridicularizam e inferiorizam suas existências, Luiz Valério Trindade analisa textos postados em redes sociais e mostra o quanto o racismo intersecciona-se com sexismo e questões de classe. Dessa forma, a obra contribui para conscientizar a sociedade e enriquecer o debate público em busca de soluções, com alternativas práticas para o enfrentamento deste problema.
Quase duas décadas após ter sido defendida na Faculdade de Educação da USP, a tese de doutorado de Sueli Carneiro chega na forma de livro com grande atualidade. Nele, a autora aplica os conceitos de dispositivo e de biopoder de Michel Foucault ao domínio das relações raciais, forjando o que chama de dispositivo de racialidade — que produz uma dualidade entre positivo e negativo, tendo na cor da pele o fator de identificação do normal, representado pela brancura. Especulando com Foucault e amparada na teoria do contrato racial do afro-jamaicano Charles Mills, ela demonstra como este dispositivo se constitui em um contrato que não é firmado entre todos, e sim entre brancos, e funda-se na cumplicidade em relação à subordinação social e na eliminação de pessoas negras. Ele também se efetiva pelo epistemicídio, cujo objetivo é inferiorizar o negro intelectualmente e anulá-lo como sujeito de conhecimento. Contudo, todo dispositivo de poder produz a sua própria resistência, e é nesse contexto que a filósofa traz à obra a voz de quatro insurgentes. Seus testemunhos revelam que é da força da autoestima, da conquista da memória e da ação conjunta que se extrai a seiva da resistência.
A diversidade humana tem sido desculpa para discriminações, desigualdades e violências, mas, é também fonte de enriquecimento cultural e material, admiração mútua e emancipação dos preconceitos. A relação entre diversidade e poder é um tema central do presente livro e exige investigações de diferentes campos teóricos. Esse livro se coloca no debate e reúne importante pensadores brasileiros e estrangeiros.
Um dos principais objetivos desta publicação é discutir a relação entre etnia, nação e Estado. Busca, portanto, compreender como a interação entre esses elementos produziu a necessidade de solidariedade, tolerância e promoção dos direitos humanos. Nesse sentido, mostra que, apesar de ter havido a consolidação de normas de alcance universal, isso não evitou, em diversas ocasiões, a violação dos direitos humanos por esses mesmos Estados.