Esta obra traz uma análise sobre a construção de categorias diagnósticas que se inserem na interface entre a clínica médica e a psiquiatria, tomando como estudo de caso os Transtornos Mentais Comuns e examina as possíveis consequências que essa construção produzirá. Para isso, foi realizada uma análise documental de fontes secundárias, orientada por indicações de informantes-chave que contribuíram para garimpagem de periódicos, publicados nas bases de dados Medline, LILACS e Scielo, para o levantamento de resumos em anais de congressos nacionais e internacionais, bem como à seleção de teses e dissertações sobre a temática no Banco de Teses da CAPES e na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações. Foram selecionados noventa e três documentos, sendo estes publicados desde 1960 até 2019. Para analisá-los, foram utilizados o método arqueológico foucaultiano e o conceito kuhniano de paradigma, com o intuito de observar as irrupções que marcaram a produção do conhecimento científico sobre os Transtornos Mentais Comuns, suas permanências e modificações, suas aproximações e afastamentos.
O manicômio, com sua função de exclusão, aniquilação de subjetividades e de vidas, foi considerado o lugar de destino e disciplina de todos os tipos de indesejados que não se ajustavam às normas. No Brasil, todavia, a intensa luta política por parte dos militantes do Movimento de Luta Antimanicomial, os avanços do progresso técnico, com a implementação de serviços substitutivos e novas forma de controle, tornou sua existência, enquanto estrutura material, obsoleta. Mas isso não significou a superação dos desejos de manicômio, expressadas nas “novas cronicidades” dos serviços de saúde mental do país.
O livro nos põe em contato com valores preciosos da vida humana: ser criança, fazerparte de uma família, de uma comunidade escolar, ser cuidado, educado, sedesenvolver, brincar, viver... e também nos mostra quando o desenrolar da vida, o jeito próprio de ser criança e até o prazer intrínseco das relações é atravessado por um modo estigmatizado de se conceber o infante, de nomeá-lo e de colocá-lo entre parênteses. esse modo deixa de lado a própria criança e todo o seu potencial de vida, de construção de relacionamentos e coloca no centro mais perceptível de sua identidade um diagnódtico, um novo nome pelo qual passa a ser conhecida: criança hiperativa ou TDA/H. Tenho tido oportunidade de participar das reflexões advinhas da rica pesquisa que Cinthia empreendeu, e percebo que a mesma nos faz entrar em contato com o papel urgente de profissionais de saúde, pais e educadores diante do sequestro no qual se leva a criança e se deixa, em seu lugar, um diagnóstico.
Deleuze e Guattari desenvolveram um conceito inovador de inconsciente-multiplicidade, resultado da interlocução do pensamento desses autores com a psicanálise e com uma série de aliados, filósofos ou não.
Disse certa vez o célebre arquiteto Oscar Niemeyer: “O que me atrai não é o ângulo reto, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. Me atrai a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos rios, na onda do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito o universo inteiro, o universo curvo de Einstein”. Palavras que inspiraram o título deste livro de Ernesto Venturini, psiquiatra que contribuiu ativamente para a reforma psiquiátrica na Itália. “Com efeito, a desinstitucionalização é como a linha curva de que fala Niemeyer, uma linha oposta à rigidez do pensamento manicomial”, afirma o autor. Como assessor da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Venturini esteve várias vezes no Brasil, onde, em encontros com gestores da saúde, profissionais, usuários e cidadãos, falava de sua experiência na Itália. Escritos que foram temas desses encontros estão agora reunidos neste volume. Os textos foram produzidos entre os anos 80 e o início de 2000, mas levantam discussões que permanecem atuais. “Dar alta aos pacientes de prolongado internamento em hospitais psiquiátricos, inseri-los no território, reduzir o número de vagas em leitos hospitalares e converter recursos hospitalares em serviços comunitários é um processo ainda em vias de realização na maior parte dos países europeus e americanos”, avalia.
O benefício da assistência social não é para todos, senão para quem pode provar sua necessidade – como disse um perito. Os sujeitos em sofrimento psíquico o dizem de outro modo: “nem todo louco recebe benefício”; “estou apta para o trabalho, mas o trabalho não está apto para mim”; “ninguém é louco o tempo todo”. E quem pode provar a sua necessidade? Por que os sujeitos em sofrimento psíquico são os que menos conseguem provar a sua necessidade? Será que ainda precisamos de mudanças no instrumento de avaliação do BPC ou nos mecanismos e procedimentos institucionais? Essas respostas podem ser procuradas nos conflitos morais mudos e na gramática moral ou “infraestrutura normativa” que atravessam as formas deficitárias de reconhecimento da deficiência mental. Talvez, seja o tempo de uma nova reviravolta capaz de negar a institucionalidade vigente e inventar outra...
Este livro detalha a experiência do Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira, de Sousas (Campinas, SP) . Escrito pelos protagonistas responsáveis por cada projeto assistencial, representa um esforço coletivo de reflexões sobre os caminhos construídos e sobre as aprendizagens conquistadas durante estes anos.
O corpo é o guardião de nossa verdade, porque carrega em si a experiência de toda a nossa vida e cuida para que possamos viver com a verdade de nosso organismo. Com a ajuda dos sintomas, ele nos obriga a admitir essa verdade também em nosso consciente, para que possamos nos comunicar em harmonia com a criança um dia maltratada e humilhada que vive em nós. Em A revolta do corpo , Alice Miller trata do conflito entre aquilo que sentimos e que nosso corpo registrou e aquilo que gostaríamos de sentir para corresponder às normas morais que interiorizamos desde sempre.
Este livro é leitura imprescindível para quem busca entender e superar os efeitos do racismo institucional na saúde mental. Ancorado na articulação entre a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra e a Política Nacional de Saúde Mental, Emiliano de Camargo David toma raça como um determinante social da saúde e propõe a “aquilombação” como ferramenta teórica para expandir o debate e fazer frente aos marcadores raciais que ampliam as iniquidades seculares e contemporâneas no cuidado à saúde mental. Para ele, o “aquilombamento” coloca o racismo no centro do debate público e permite avançarmos no processo de inclusão da temática racial nas políticas e, consequentemente, nos serviços de saúde mental, indicando um caminho assertivo para a construção de estratégias para o seu enfrentamento.
A ideia deste livro nasceu de solicitações dos profissionais da saúde mental e saúde em geral à procura de referências bibliográficas sobre o cuidado em saúde mental de crianças e adolescentes no SUS. Na busca de textos que permitissem conhecer como estava se dando a prática cotidiana dos serviços e como os profissionais de saúde mental estavam transformando teorias, conceitos e modelos em atividades concretas, o caminho escolhido pelos organizadores foi identificar experiências objetivas nas quais visualizaram possibilidades que pudessem inspirar outros profissionais da rede a ousar, inventar e descobrir possibilidades de operacionalizar novas modalidades de cuidado.
“Na manhã de 29.05.1968 no Sítio Morada Nova, o acusado desfechou, utilizando uma roçadeira, violentos ferimentos na pessoa de seu próprio irmão”, narrava a denúncia do Ministério Público. O acusado era Juvenal Raimundo de Araújo, talvez Juvenal Raimundo da Silva. Não se sabia ao certo nem o nome dele porque recusava-se a falar, não apresentava documentos civis e era louco. Por ter cometido um ato violento, foi confinado em um manicômio psiquiátrico, sob a justificativa de tratamento, e nunca mais voltou à liberdade. Permaneceu na clausura por 46 anos. Essa não é uma história de ficção. É uma história de injustiça analisada neste livro, que inaugura a coleção Bioética e Saúde. Juvenal foi o homem que mais tempo ficou confinado em um manicômio judiciário no Brasil, abandonado à espera de uma decisão oficial sobre sua experiência, banido do convívio social e do reconhecimento de direitos. Se a Justiça considera 30 anos como pena máxima para prisão, o que aconteceu ali durante todo esse tempo? A autora buscou responder a essa pergunta ao analisar o dossiê de Juvenal, sob a guarda do manicômio judiciário. Ela se debruçou sobre o arquivo para realizar uma análise das práticas discursivas de saber e poder sobre Juvenal. Seu estudo revela o funcionamento “da máquina de abandono que confiscou a existência de Juvenal”.
Este livro é resultado da dissertação defendida por Karine Lima Verde Pessoa no programa de mestradoacadêmico em saúde coletiva da Universidade Estadual do Ceará, tendo como orientadora a Professora Maria Salete Bessa Jorge. Resulta também (ou principalmente) das inquietações geradas na autora ao longo de seu percurso profissional. Foram muitos papeis, muitos cenários, muitos encontros e desencontros. Nãohá nesse texto qualquer pretensão de neutralidade, ao contrário, ele resulta de profunda implicação. não há tampoucoa intenção de chegar a uma verdade, apenas apresentar uma perspectiva, um certo modo de olhar, que talvez possa dialogar com outros olhares que percorrem o caminho de reconstrução da produção do cuidadoem saúde menta.
Este volume da série trata da clínica praticada fora dos settings tradicionais como hospitais psiquiátricos ou consultórios com pessoas que não se adaptam a protocolos convencionais. Os ensaios que o compõem narram e problematizam experiências ocorridas na fronteira entre a dependência e a morte, entre a loucura e a cidadania, entre o exílio e o comunismo múltiplo e micropolítico ativado em práticas de saúde.
Este livro parte do pressuposto do esgotamento da reforma psiquiátrica e a integração de suas realizações na sociedade dos mercados, onde a saúde e os benefícios de segurança social são regidos pelo lucro privado e não pela solidariedade. Parte da necessidade, portanto, de uma reforma da Reforma Psiquiátrica, que já não poderá ser um processo deliberado no âmbito de um Estado do bem-estar, mas uma tarefa na contracorrente no horizonte de uma Sociedade do bem-estar.
A hora é agora. As questões climáticas, sociais e culturais que nos cercam pedem urgência na cocriação de novas narrativas, que resgatem a origem coletiva de ser humano e que nos reconectem com o mundo natural e demais seres que nos rodeiam. Somente a partir do entendimento de como funcionam as estruturas que nos aprisionam em um modo de vida insustentável poderemos, de fato, começar a pensar em novos presentes: mais livres e, ainda assim, sustentáveis.
Compreender o suicídio é, primeiramente, compreender nossas próprias limitações. Saber que o conhecimento é limitado diante de fatos tão complexos pode causar medo e afastamento, entretanto, o objetivo aqui é o oposto: acolhimento e proximidade. A medicina, a ciência biológica, a filosofia, a sociologia, a cultura, a espiritualidade e a psicologia são sentidas nesta obra e o conhecimento é a porta de entrada para um campo de amplas oportunidades. A primeira seção apresenta uma discussão interessada em temas que vão desde a história do suicídio até os debates jurídicos, éticos e contemporâneos sobre o direito de morrer. A seção a seguir aborda diversos fatores sociais e epidemiológicos associados ao suicídio. A terceira seção discute os fundamentos biológicos do suicídio e comportamentos relacionados, a quarta discute os fatores clínicos associados ao suicídio e a quinta as condições clínicas associadas ao suicídio. Finalmente, na última seção se discute o suicídio em populações específicas.
O livro apresenta os múltiplos sentidos relacionados aos temas que envolvem o ensino/aprendizagem em saúde mental no cenário da Estratégia de Saúde da Família e também da formação nas instituições de ensino superior.
A contrafissura é um sintona social contemporâneo que opera na mídia, na política, na clínica - na subjetividade contemporânea. Plasticidade psíquica refere as mutações subjetivas dos cuidadores que protagonizam experiências promissoras e as transformações que ocorrem nos usários da Rede de Atenção Psicossocial Brasileira.
O conteúdo do livro apresenta resultados de uma pesquisa de doutorado que nos faz refletir sobreas relações intersubjetivas e as abordagens realizadas pelos trabalhadores de saúdeno cuidado ao usuário de crack no contexto da rede social de apoio formal em Fortaleza. O oferecimento de cuidado em saúde na rede social de apoio é pautado muitas vezes na homogeneização do usuário crack. Independente do local de tratamento, a atenção à saúde deve atender ao pressuposto da singularidade do cuidado, da compreensão da complexidade e da autonomia de cada sujeito, que, além de ser um usuário do sistema, é um cidadão protagonista do seu percurso terapêutico. Diante da complexidade das questões expostas, dá-se conta dos grandes desafios a serem enfrentados pelos serviços de saúde e do necessário diálogo com vistas a uma transição para um modelo de cuidado mais integral e humanizador.
Este livro traz relatos de experiências de atendimentos pontuais on-line, oferecidos por um grupo voluntário, o Time Humanidades, composto por psicólogos e psiquiatras durante os primeiros 9 meses da pandemia do Covid-19 no Brasil. Algumas situações vivenciadas foram selecionadas e registradas por este grupo de profissionais da área da saúde mental, que se uniram profissionalmente por meio de um sentimento comum: a solidariedade.
Este livro tem como principais objetivos 1. Contribuir, diante da nova conjuntura política que se abriu no Brasil em 2023, para a reconceituação teórica, criação de novos dispositivos inovadores e para a retomada das lutas no processo de reforma psiquiátrica e de luta antimanicomial. 2. Subsidiar a formação crítica e politizada, bem como a educação permanente de estudantes, profissionais, gestores, trabalhadores e ativistas de diversos tipos que hoje atuam ou irão atuar no SUS e particularmente na rede de atenção psicossocial. 3. E, especialmente, prover um material para ser apropriado de forma cuidadosa em dispositivos de educação popular, para a formação de lideranças de pessoas usuárias e familiares do campo da saúde mental e drogas, com vistas a subsidiar as suas novas formas de protagonismo que estão se desenhando no cenário brasileiro atual. Estes objetivos são particularmente importantes no contexto atual de condições de trabalho no SUS como um todo, em que a maioria dos trabalhadores de saúde e saúde mental no país são terceirizados e precarizados, processo que provoca alta rotatividade, perda de experiência histórica e de formação adequada às práticas da atenção psicossocial.
Este livro é um livro pequeno, mas bravo e militante, marcado pela urgência de graves desafios e riscos para a reforma psiquiátrica no Brasil, como o sub-investimento nas políticas sociais e em saúde, o desemprego, a violência, o abuso de drogas(crack) e a precarização do trabalho. Isso tem profundas repercussões na saúde e saúde mental da população, nos programas e serviços, além de dificultar a expansão dos serviços mais efetivamente substitutivos ao hospital psiquiátrico. A recente reorganização corporativa da medicina e da psiquiatria biomédica, e sua articulação com projetos políticos abertamente conservadores, também trazem fortes preocupações.
O livro “Desse jeito não mais! Trabalho doente e sofrimento mental” trata de como a desregulamentação do trabalho contemporâneo afeta negativamente as relações pessoais e sociais. Demonstra como esse aumento exponencial da exploração, da precarização e do autoritarismo na gestão resulta também em sofrimento mental. Investiga a relação entre degradação do trabalho e enfermidades, entre as quais o suicídio. O livro relata, ainda, estratégias de resistência à demonização do trabalho e dos/as trabalhadores/as. Experiências locais, sindicais e intersetoriais que demonstram a possibilidade e a necessidade de se lutar contra a desigualdade, em defesa do meio ambiente e do trabalho saudável.
Em 2013 a Associação Brasileira de Saúde Mental (abrasme) realizou o primeiro fórum de Direitos Humanos e Saúde Mental. A inversão dos termos foi uma tomada de posição importante e consciente, que ressignificou todo o campo e interface entre os temas dos Direitos Humanos e da Saúde Mental. Anteriormente se falava em Saúde Mental e Direitos Humanos, o que priorizava ou direcionava para o entendimento e a realização de ações como do cuidado e da atenção aos sujeitos, defendendo o direito à liberdade e à dignidade da vida, lutando contra as variadas formas de violência pelas quais as pessoas em situação de vulnerabilidade são submetidas.
Ao apresentar sua política para atenção integral de usuários de álcool e outras drogas, alocando a questão das drogas como problema de saúde pública e indicando o paradigma da redução de danos nas ações de prevenção e tratamento, o Ministério da Saúde produziu uma fissura no saber estabelecido sobre o cuidado de usuários de álcool e outras drogas no Brasil. Essa fissura abriu uma via para novas práticas clínico-institucionais com usuários de drogas. Os textos presentes neste livro indicam o esforço de diversos profissionais em cuidar dessa clientela a partir do paradigma da atenção psicossocial, apesar das inúmeras “pedras” encontradas nesse caminho. Essas pedras se tornaram desafios que instigam ao trabalho e fomentaram elaborações sobre abordagens clínicas, a organização de serviços e da rede de cuidados, a formação de profissionais, o diálogo com a sociedade, entre outros temas tratados neste livro.
"Caminante no hay camino, se hace camino al andar. Al andar se hace camino y al volver la vista atrás se ve la senda que nunca se ha de volver a pisar" (Antonio Machado) E que seria dos caminhantes e andantes pelas trilhas da saúde mental, se não pudéssemos ter valises, apontamentos, sinais que nos ajudassem a escolher onde pisar? Escrevendo o impossível: cadernos de um psicanalista na saúde mental, de Ricardo Azevedo Pacheco, é uma contribuição corajosa, viva, das andanças de um psicanalista pelas trilhas da saúde mental: suas agruras, seus percalços, suas belezas. Sem prescrições, Ricardo reflete sobre seus próprios caminhos, compartilha emoções e reflexões. Acompanhamos suas andanças quase como uma dança: são dois pra cá, dois pra lá. Estético, ético e político, um texto urgente para não desistirmos de sonhar. - Rosana Onocko Campos
O livro analisa os tipos de cuidados que recebem os sofredores psíquicos e suas famílias, usuários de serviços de saúde mental de uma comunidade urbana: o modelo de atenção é padronizador, condicionando e determinando comportamentos e desconsiderando a autonomia e a liberdade como elementos de expressão do sofrimento.
Neste premiado livro de estreia, a aclamada jornalista Rachel Aviv levanta questões fundamentais sobre como nos entendemos em momentos de crise e angústia. Movida por um profundo senso de empatia e por sua própria experiência de viver em uma ala hospitalar aos seis anos de idade, diagnosticada com anorexia, ela recupera a trajetória de pessoas que se depararam com os limites das explicações psiquiátricas sobre quem são.
Nas célebres análises de Michel Vovelle, François Lebrun, Pierre Chaunu, Philippe Ariès, John MacManners, dentre outros, sobre a morte nos tempos de outrora, existe uma grande ausência: a morte voluntária. No presente livro, Georges Minois realiza um voo de amplo alcance, debruçando-se sobre farta documentação, para tentar ampliar nosso arsenal argumentativo sobre um dos últimos tabus do nosso tempo.
Em reportagem consagrada, Daniela Arbex denuncia um dos maiores genocídios do Brasil, no hospital Colônia, em Minas Gerais No Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena, conhecido apenas por Colônia, ocorreu uma das maiores barbáries da história do Brasil. O centro recebia diariamente, além de pacientes com diagnóstico de doença mental, homossexuais, prostitutas, epiléticos, mães solteiras, meninas problemáticas, mulheres engravidadas pelos patrões, moças que haviam perdido a virgindade antes do casamento, mendigos, alcoólatras, melancólicos, tímidos e todo tipo de gente considerada fora dos padrões sociais.
A inclusão das ações de saúde mental na atenção básica é uma diretriz da política pública nacional de saúde mental e constitui-se numa estratégia para a consolidação da reforma na área. Frente a isto, buscou-se conhecer como se dá esta inclusão em um grande centro urbano. Para tal, este estudo teve como objetivos analisar as estratégias desenvolvidas na cidade do Rio de Janeiro para a inclusão das ações de saúde mental na atenção básica por meio do conhecimento dos impasses e facilitadores como parte da política pública no município do Rio de Janeiro; e a identificação das tecnologias decuidado em saúde mental oriundas da articulação entre esta e a atenção básica. Realizou-se um estudo de caso, configurando-se numa pesquisa descritiva exploratória, de abordagem qualitativa. Como cenário, contou-se com dois grupos de serviços do município do Rio de Janeiro: os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) II e III e Unidades Básicas de Saúde. Foram entrevistados os diretores dessas unidades, bem como um gestor da atenção básica e um da saúde mental. Foi realizada pesquisa de campo, com entrevistas semi estruturadas e os dados foram analisados sob o referencial da análise de conteúdo. Para a apresentação dos resultados optou-se por organizar os achados em eixos considerados fundamentais para ainclusão das ações de saúde mental na atenção básica, sendo estes: equidade, integralidade, acesso, território e trabalho em rede. Quanto à articulação entre saúde mental e atençãobásica no município do Rio de Janeiro, identificou-se que diferentes são os arranjos e práticas implantadas tanto pelos CAPS quanto pelas unidades de atenção básica para promoverem o cuidado no território, caminhando no sentido da promoção de outras práticas de cuidado em saúde mental.
Há percursos e percursos! O percurso da Ana Marta Lobosque na Reforma Psiquiátrica Brasileira é vivido, cristalino, iluminado. Ana Marta nos oferece esse percurso com uma rara generosidade: articula histórias, emoções, aprendizados. Ana Marta tem tanta maestria que consegue tornar-se novamente uma aprendiz. Qualidade rara. Qualidade de gente sabia. Quem sabe, também uma virtude da prosa mineira. Entre memorias, experiências e reflexões críticas sobre a prática contemporânea Ana Marta tece laços, qual bordadeira, enlaça, encoraja, compartilha e articula com arte e beleza. Nossa Coleção SaúdeLoucura se orgulha imensamente de ter Intervenções em Saúde Mental entre nós!
Em coedição com a Editora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a obra é fruto do projeto de pesquisa “Do Hospício de Pedro II ao Hospício Nacional de Alienados: Cem Anos de Histórias (1841-1944)” – desenvolvido entre 2015 e 2018, no Departamento de Pesquisa em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) e financiado pelo Edital do Programa de Excelência em Pesquisa (Proep-Fiocruz-CNPq). Foram reunidas neste livro as contribuições mais recentes de pesquisas que têm como tema comum a história do Hospício Nacional de Alienados (HNA), primeiro hospício especializado para alienados do país. O lançamento se soma aos títulos que abordam o Hospício Nacional de Alienados (HNA) e revisita a história do hospício com base na análise de novas fontes e perguntas. Também se utiliza de variadas e renovadas perspectivas teóricas e metodológicas mais recentes. “Como os próprios coordenadores do livro indicam, a emblemática instituição brasileira já tem sido objeto de numerosos estudos, mas, neste caso, as contribuições tanto metodológicas como de conteúdo fazem deste livro coletivo um produto novo e original”, reafirma Rafael Huertas, professor no Instituto de História (IH) do Centro de Ciências Humanas y Sociales do Consejo Superior de Investigaciones Científica (CSIC) de Madrid, no prefácio do livro.
Os estudos sobre loucura, processo saúde/doença mental, reforma psiquiátrica, subjetividade e comportamento humano conformam um vasto campo de conhecimentos que tem sido objeto de inúmeras áreas de saber. A natureza das questões envolvidas fazem desse campo um dos mais interdisciplinares e complexos dos tempos atuais, tamanha a diversidade de disciplinas que dele se ocupam (antropologia, sociologia, história, filosofia, psicanálise, psicologia, dentre outros) e que, não obstante, requerem ainda permanentes rupturas nas fronteiras e territórios de tais saberes. No Brasil, principalmente nos últimos anos, tais estudos vêm merecendo uma atenção e um debate visivelmente crescentes. Não apenas nos centros acadêmicos, mas também no âmbito dos serviços e da cultura, na medida em que nosso país vem sendo palco de um dos mais importantes processos de transformação na área da saúde mental.
Apesar dos números significativos no âmbito da desinstitucionalização psiquiátrica e dos ganhos positivos para os usuários de moradias assistidas no Brasil, este livro demonstra que ainda há muito a ser feito no país. A partir de uma avaliação participativa e interdisciplinar, os autores apresentam suas reflexões sobre as experiências vivenciadas com membros dos projetos de Serviços Residenciais Terapêuticos (SRTs), Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS). Essa rica investigação de campo, com a qual se procura conhecer melhor as habitações de pessoas com transtornos mentais graves através do olhar de quem as habita, é acompanhada por um vasto arcabouço teórico, proveniente de diversas fontes e disciplinas - arquitetura, antropologia, psicanálise e saúde coletiva. A obra expõe também a reflexão dos pesquisadores em termos de uma práxis de reflexividade durante as interações com os participantes. O trabalho em grupo acompanhou rotinas diárias dentro e fora das habitações, tentando descobrir a configuração da moradia em seus aspectos físicos, a experiência dos moradores a partir do significado de habitar e da organização das pessoas no espaço de moradia, bem como a rede de relações dos moradores na comunidade. Além de revelar a complexidade do morar e do habitar desse grupo de pessoas estudado, outra grande contribuição deste volume é a elaboração de proposições acerca do tema a partir dos resultados convergentes das diversas áreas envolvidas na pesquisa. Tais propostas objetivam uma nova resposta social para o avanço não só da garantia, mas da qualificação do provimento desse direito fundamental constituído pelo morar.
Este livro tem como objetivo demarcar que o processo brasileiro de Reforma Psiquiátrica não é uma simples transformação do modelo assistencial, em que pese a enorme importância desta. Trata-se de uma transformação de mentalidades, de culturas, de referências científicas, de relações sociais, de formas de ver e estar no mundo.
Em um momento em que o sofrimento mental desafia as sociedades contemporâneas e o Brasil não é exceção, e em que o contexto politico não é menos inquietante, com retrocessos e fundamentalismos, de diversas ordem (e como dissociar um do outro?), é preciso resgatar a coragem de nos perguntarmos: o que temos feito? Por que temos feito? Que devemos seguir fazendo? É por isso, extremamente importante que o aqui chamando Campo da Saúde Mental Coletiva, construtor e construto do Movimento da Reforma Psiquiátrica Brasileira, esse movimento emancipatório tão estratégico para a transformação das práticas de saúde no Brasil, possa, debruçar-se sobre sua história e revisitar seus êxitos e tropeços à luz das novas conformações e teorias das sociabilidades contemporâneas. Encontramos aqui essa espécie de coragem. Valendo-se do fecundo quadro interpretativo construído por teóricos da modernidade reflexiva" e do "individualismo institucionalizado", somos aqui convidados a nos desacomodar , a não buscarmos o mesmo olhar para paisagens que já se transformaram. Crítica teórica, abertura ao debate e otimismo prático: eis os convites fundamentais e irrecusáveis d tipo de crítica a que nos convida este instigante estudo. José Ricardo C. M. Ayres
A surpreendente história da reforma psiquiátrica, é aqui contada na visão de um de seus mais importantes militantes, um líder nato com uma trajetória profundamente ligada ao movimento antimanicomial e aos direitos humanos no Brasil. Um livro que parece um filme. E vemos de camarote. Só para Loucos, Só para Raros!
O livro propõe uma conversa responsável sobre o sofrimento ocasionado pelo legado da colonialidade. Guiadas pela arte de Adelina, pela conversa com Leide, pela escrevivência de Ponciá e pelas cartas de Beatriz e Bruna, falamos de nós. Das que são impedidas de vivenciarem o prazer, o cuidado e o amor por serem quem são, por pensarem o que pensam, por viverem nas ruas, nos manicômios judiciários ou aprisionadas nos mais diversos tipos de institucionalização.
O livro aborda duas temáticas cada vez mais crescentes nos campos interdisciplinares: gênero -numa leitura dos feminismos interseccionais- e saúde mental, na perspectiva da reforma psiquiátrica. Apesar disso, são ainda muito escassos os artigos acadêmicos ou obras de diversos formatos que possibilitam o diálogo entre estes campos, apesar do crescente interesse de estudantes e profissionais nesta discussão e do surgimento de diversas disciplinas, em cursos de diferentes formações, sobre os feminismos interseccionais e o campo da saúde mental já ter importante relevância para um campo interdisciplinar amplo.
Temos em mãos uma obra que ilustra a potência do que podemos chamar de práxis feminista antimanicomial. Ao trazer a interseccionalidade para a Reforma Psiquiátrica Brasileira e desnudar a emergência de pensar saúde mental a partir das categorias sociais gênero, raça e classe, para além dos resultados de um curso de formação, somos convidadas ao pensamento crítico e à ação político-militante pela vida, pela liberdade, pelo direito ao autocuidado, à insurgência e à escuta - pelo bem viver de nós, mulheres.
O suicídio é morte trágica que avassala nosso coração e nosso jeito de ser. Para a pessoa em luto por suicídio, percorrer essa árdua travessia é, por si só, um ato de compreensão de que não podemos controlar o incontrolável nem explicar o inexplicável. Diante da morte, há urgência em reconsiderar as prioridades, as necessidades reais que ainda nos fazem sentido. Neste livro, Karina Okajima Fukumitsu apresenta sua trajetória profissional, com mais de 30 anos de experiência como psicóloga e pesquisadora de suicidologia, campo de saber destinado aos estudos de prevenção de processos autodestrutivos, luto por suicídio, posvenção e saúde existencial, refletindo a respeito das perdas e partidas e dos caminhos da dor perante o suicídio de uma pessoa amada. Conta, também, como encontrou firmeza existencial para realizar a travessia, chegando na outra margem. Suas palavras são prumo para quem se encontra em mar revolto.
Livro que destaca o legado da psiquiatria rebelde de Nise da Silveira (1905-1999). A obra é um desdobramento da premiada pesquisa de doutorado desenvolvida pelo antropólogo Felipe Magaldi no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGAS/MN/UFRJ). Ganhador do Prêmio Capes de Tese 2019, nas áreas Antropologia/Arqueologia, o autor apresenta aos leitores o que ele mesmo chama de Admirável Mundo Nise, mostrando a fascinante vida da psiquiatra alagoana e sua complexa relação com a luta antimanicomial no Brasil. O título aborda a trajetória e a memória da doutora Nise, com foco em seu trabalho no Rio de Janeiro, a partir da década de 1940 até os dias atuais, em que permanece inspirando novas políticas públicas e produções culturais. O livro revela como o trabalho da médica se destacou pelo combate às intervenções biomédicas violentas e pela defesa de atividades artísticas e expressivas como forma de tratamento em saúde mental. Magaldi destaca que, para se aprofundar no legado da psiquiatra, mergulhou nas produções bibliográfica, documental e memorialística preexistentes sobre o trabalho dela. Também realizei entrevistas com os seus colaboradores vivos e, principalmente, realizei um trabalho de campo, etnográfico, nas instituições vinculadas à memória e ao legado de Nise da Silveira, revela. Entre as instituições exploradas durante a pesquisa de Magaldi, destacam-se o Instituto Municipal de Assistência à Saúde Nise da Silveira, em Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, onde estão localizados o Museu de Imagens do Inconsciente e a ocupação artística Hotel da Loucura. A Casa das Palmeiras, no bairro de Botafogo, também é um desses importantes espaços do legado nisiano. Uma personagem que jamais se dobrou aos saberes hegemônicos Em sua imersão pelo mundo da médica alagoana, realizado na interseção entre antropologia e história, Felipe Magaldi busca analisar as ideias originais de Nise. Com o livro
Este livro é um guia para as Equipes de Saúde Mental. Cada profissional que constitui a Equipe (psiquiatra, psicológo, assistente social, terapeuta ocupacional) encontrará aqui por vezes informações óbvias já bem conhecidas no setor a que individualmente pertence. Mas se deparará também com um conjunto de conhecimentos diferentes e pontos de vista singulares que contribuirão para que a Equipe consiga um ponto de vista unitário. Embora cada profissional conheça sua parte, a corrente intervenção psiquiátrica é mais que a soma das partes independentes, é a resultante de contribuições diversas coordenadas e integradas.
“Estaríamos ficando cada vez mais doentes? Ou estaríamos a cada dia ficando mais saudáveis, já que gastamos mais com saúde?” Os autores partem desse questionamento para discutir a problemática da medicalização, sobretudo no que se refere ao sofrimento psíquico. Eles chamam atenção para o fato de que experiências comuns e naturais da nossa existência têm sido consideradas passíveis de serem 'tratadas' e 'resolvidas' com medicamentos. As consequências individuais e sociais desse problema são analisadas pelos autores, que também fazem um alerta sobre os prejuízos causados por uma nefasta aliança entre a psiquiatria e a indústria farmacêutica. Com linguagem acessível, esta obra objetiva ampliar o debate sobre a medicalização do sofrimento psíquico, incluindo, em especial, aqueles que sofrem com ela.
“Mentes, corpos e comportamentos” reúne recentes investigações produzidas no campo historiográfico sobre os saberes psi, destacando as diferentes propostas teórico metodológicas, bem como a diversidade de fontes documentais, recortes temáticos, temporais e regionais presentes nos estudos dedicados a perscrutar as vozes e os silenciamentos que pulsam na história da psiquiatria e da saúde mental brasileira. Dividido em três partes, os textos que compõem o livro revelam a diversidade de perspectivas e interpretações históricas sobre seus singulares objetos de estudo. No entanto, em seu conjunto, tais trabalhos evidenciam uma característica comum: todos e cada um deles lançam luz sobre os indivíduos que foram objeto de teorias e intervenções diversas dos saberes psi no Brasil entre os séculos XIX e XX e buscam dar voz às suas contingências e formas de existir e resistir.
Os ensaios deste livro debatem sobre a reforma psiquiátrica e sua interlocução com o poder, os modelos assistenciais. As autoras discutem que a Reforma Psiquiátrica, como um serviço que pretende ter características antimanicomiais, com abordagem psicossocial, perpassa, principalmente, pela compreensão e transformação dos saberes e das práticas dos profissionais envolvidos neste processo.
A presente obra, oriunda da pesquisa do pós-doutorado, realoca para o centro do debate da Saúde Mental, da Criminologia e dos Direitos Humanos a saúde mental das mulheres negras. A partir de uma atuação profissional mergulhada no tripé ensino, pesquisa e extensão buscou-se pela lógica da encruzilhada tecer uma análise teórica e prática que tenha como base o pensamento decolonial, antirracista e antimanicomial. Dessa maneira, objetivou-se apresentar a/o leitora/leitor a produção do sofrimento e do adoecimento psíquico materializada nos modos de vida e processos de subjetivação das mulheres negras brasileiras, a partir das experiências de mães de vítimas de violência armada. Na cena contemporânea, está ocorrendo a intensificação da psiquiatrização, psicologização, medicalização, patologização e farmacologização das particularidades e singularidades, reduzindo-se a experiência do sofrimento e/ou adoecimento psíquico como um problema individual. Assim, torna-se urgente identificarmos as expressões desse fenômeno na experiência de corpos e subjetividades periféricos e favelados. Nesse caminho, espera-se proporcionar inquietações e contribuições demonstrando que a aniquilação da população negra atravessa todas as dimensões da vida social, e aqui, destaca-se a saúde mental. Para isso torna-se necessário a ampliação do debate com diferentes saberes possibilitando desvelar as contradições basilares da sociedade brasileira. Portanto, é preciso fortalecer a luta antimanicomial para que seja radicalmente antirracista, decolonial e feminista e, assim, se afirme a liberdade, a emancipação e os direitos humanos.
O objetivo da coletânea é possibilitar a difusão e a popularização da ciência e da tecnologia junto à sociedade, em geral, atividade fundamental para despertar o interesse por essa área, sobretudo dos jovens.
Em 2021, estamos sob tempos sombrios, de retrocessos sociais e políticos, e também na saúde mental. Este livro parte da análise da conjuntura, crua e dura, reconhecendo as perdas e riscos, mas não “está tudo dominado”. A realidade tem contradições e brechas para resistir e até mesmo avançar. Esse é o objeto desse livro, mostrando projetos inovadores em saúde mental e luta antimanicomial. Parte da Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência (“Disabilidades”) da ONU, que no Brasil tem o mesmo status da Constituição Federal; das novas diretrizes da ONU e da Organização Mundial de Saúde; e dos avanços dos movimentos de direitos humanos e de usuários(as) de outros países, com novas ideias e práticas de protagonismo e direitos de usuários(as) e familiares.
Em meados da década de 1940, a psiquiatra Nise da Silveira organizou ateliês de pintura e modelagem com os pacientes do Centro Psiquiátrico Pedro II. A produção desses ateliês – hoje acervo do Museu de Imagens do Inconsciente – chamou a atenção de cientistas e intelectuais da época. O interesse suscitado pelas obras não se restringia à sua utilidade no tratamento psiquiátrico: elas também exemplificavam um novo conceito de qualidade estética e, ainda, assumiam papel central num debate político mais amplo, sobre o lugar do louco e da loucura na sociedade. É com esse pano de fundo que se desenrolam as análises do livro, dividido em três capítulos.
Este novo livro foi pensado com base em uma experiência concreta de educação permanente que teve lugar no centro de atenção psicossocial professor Luís Da Rocha Cerqueira (CAPS ITAPEVA) em São Paulo. em maio de 2011 organizamos e implementamos o Curso-Oficina “O Centro De Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSI) e o Desafio da Gestão em Rede” visando abranger profissionais da rede pública de serviços envolvidos no cuidado em saúde mental de crianças e adolescentes e criar espaços de diálogo e reflexão. nesta época, após longo período de estagnação, vivíamos um momento de expansão dos CAPSI na cidade de São Paulo e mais profissionais vinham sendo incorporados às equipes destes novos serviços. Tivemos uma surpresa agradável com o grande número de interessados, até mesmo de outras cidades do estado de São Paulo e de outros estados. Durante o curso as conversas e debates foram muito apreciados e nasceu a ideia de ampliá-lo na forma de um livro que pudesse atingir mais profissionais do campo por este grande brasil. A proposta inicial era a construção de um livro voltado somente aos CAPSI, sua essência e seu cotidiano. No entanto com o passar do tempo foi ficando claro que falar dos CAPSI sem as redes nas quais ele está imerso não faria sentido nem estaria conectado com as experiências concretas de profissionais e serviços. Assim sendo ampliamos o escopo do livro chegando ao resultado final.
Durante o último quarto do século XIX, a psiquiatria brasileira estruturou seus discursos em torno da sexualidade. Ela tornou-se o principal elemento na classificação/criação das identidades 'desviantes' após 1870, portanto no período de decadência do Império. A ascensão das chamadas 'novas idéias' e as medidas abolicionistas fizeram emergir temores sobre a população negra - entendida como perigo social -, o que levou a uma nova forma de compreensão da sociedade brasileira e de seus 'desvios'.
Os ‘loucos’ em situação de rua não escolheram viver nessa condição. Não estão vinculados a Centros de Atenção Psicossocial (Caps), a Unidades Básicas de Saúde (UBS) nem às Equipes de Saúde da Família (ESF). Não se conhece a história de vida desses indivíduos. E o único vínculo que eles mantêm é com a população do bairro por onde vagueiam. Os moradores do bairro, então, mesmo sem se darem conta disso, adquirem um saber sobre aqueles ‘loucos’. Investigar os ‘olhares’ desses moradores, para compreender o que pensem, sentem, dizem e fazem em relação aos ‘loucos’, é o objetivo do livro. Neste estudo, embasado na teoria das representações sociais, a autora defende que, apesar das dificuldades e até dos preconceitos, os moradores do bairro têm potencial para atuarem como agentes de saúde mental. “Pois enquanto o ‘louco’ permanecer na rua pertencerá não apenas ao Estado, mas também às pessoas do bairro onde se encontra”, destaca.
O livro desvenda os percursos, os usos e a caracterização de espaços públicos como locais de interrupção da vida, congregando diversas áreas das humanidades, como a história das mentalidades, a sociologia, a antropologia urbana e o urbanismo.
Esta obra introduz o leitor no universo emocional da obesidade. O ato de comer demais pode mascarar o sofrimento do indivíduo diante da possibilidade de se defrontar com diferentes conflitos psíquicos, negligenciados ou minimizados tanto pela família quanto pela própria pessoa obesa. Ao ser compelido e até estimulado a repetir o mesmo comportamento que prejudica e impede de adotar hábitos alimentares e psicológicos saudáveis, o indivíduo sente solidão, impotência e desesperança. Este livro decifra os enigmas psíquicos subjacentes à obesidade que não só seduzem, mas também sabotam de modo grave a qualidade de vida do indivíduo. Ao mesmo tempo, também mostra como os envolvidos, obesos ou não, ampliam as possibilidades de renovação espiritual, mental, emocional e física ao vivenciarem essa difícil experiência.
A construção de redes de serviços é um desafio complexo. Envolve desejos e intencionalidades coletivas, conhecimento integrado dos dispositivos terapêuticos e articulação da gestão, financiamento e avaliação. E, nesse contexto, apresenta se o atual do dilema do SUS: articulação em rede. Na busca de compreender as articulações em rede no âmbito da saúde na macrorregional..........
Ao abordar uma cidade planejada e suas vicissitudes, o livro de Paulo Fernando de Souza Campos trata não só de questões pertinentes à história recente do Paraná como também aponta para aspectos significativos no que se refere aos usos discursivos do binômio saúde/doença. Transpondo as fronteiras tradicionais da História, o autor revela os usos políticos dos diagnósticos médicos - sobretudo os atinentes à loucura moral - permitindo a
O conjunto de textos aqui reunidos vem nos alertar que a patologização e medicalização da vida se trata de uma invasão nos nossos cotidianos, inescapável. A saída lucrativa da química salvadora que dociliza os corpos e mentes mediante o uso orquestrado dos fármacos se faz presente, a indústria farmacêutica e seus postos de distribuição que mais crescem nessa nova onda neoliberal do capital que tanto sofrimento constrói, diante de um Estado intolerante ou omisso.
Nesta coletânea de ensaios, treze pesquisadores de diversas áreas do conhecimento refletem sobre a loucura no amplo e multifacetado âmbito da cultura. Romances, contos, textos memorialísticos, teatro, cinema e outras produções ensejam o pensamento sobre os "desvios da razão", sob ponto de vista da crítica literária e cultural, da historiografia e sociologia e do vasto campo da saúde mental.
Este livro é um relato de uma pesquisa que envolveu dois anos de trabalho, uma parceria muito intensa com a Secretaria Municipal de Saúde de Campinas/SP e com os trabalhadores dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Por tanto, apresenta este livro uma tarefa coletiva, de muitos, que enfrentaram o desafio de desenvolver uma pesquisa avaliativa.
Nesse livro apresentamos como quatro Redes de Atenção Psicossocial (RAPs), de municípios do Estado do Rio de Janeiro envolvidos nessa pesquisa, sustentam a acessibilidade e a produção do cuidado na atenção à crise em saúde mental. Procuramos aqui ir para além de só entender essa dinâmica do ponto de vista da relação entre demanda e oferta por serviços de saúde, tentando trazer para a cena do objeto de estudo a noção de acesso e barreira no plano do cuidado em si. Essa pesquisa foi construída do começo ao fim, por meio de uma cooperação de trabalho entre um coletivo que incluiu: trabalhadores dos Serviços de Saúde Mental dos cinco municípios do estado, a Coordenação de Saúde Mental do Estado do Rio de Janeiro, o Laboratório de Estudo, Trabalho e Assistência em Saúde (LETRAS) do IPUB (Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e pesquisadores da Linha de Pesquisa Micropolítica do Trabalho e o Cuidado em Saúde, da Pós-Graduação em Clínica Médica da UFRJ.
Ao deslocar o foco da atenção do hospital para os serviços de abordagem comunitária, o movimento da Reforma Psiquiátrica tem proporcionado, desde a década de 1980, uma série de avanços, mas também muitos desafios. Superar o aparato manicomial exige a consolidação de outras formas de lidar com o sofrimento psíquico. Exige, portanto, que os profissionais de saúde mental estejam preparados para oferecer um tipo de cuidado diferenciado. Entre esses profissionais, destaca-se o trabalhador de nível médio, que desempenha um papel de ligação fundamental entre o serviço, o paciente, sua família e a comunidade. O objetivo desta coletânea é contribuir para a formação e a capacitação desses trabalhadores. Os transtornos mentais são abordados em uma dimensão ampla ao longo do livro, que aborda temas como políticas de saúde e de saúde mental no Brasil, saúde mental na atenção básica, estratégias de intervenção e terapêuticas.
Dentre aqueles dedicados à pesquisa deslocada de psicanálise desde o Brasil, Rosana Onocko-Campos se destaca de modo especial. […] Esta psicanalista de esquerda argentina chegou ao Brasil tendo no país possibilidade de refúgio para a própria vida, com uma carga de esperança histórica e teórica radicais que encontrou aqui terreno de investigação e criação de uma política de saúde mental articulada a um questionamento histórico-teórico da própria psicanálise.
Da primeira revolução psiquiátrica a pineliana de 1793 -, que substituiu a metáfora possessão pela metáfora doença passando pela segunda, a das comunidades terapêuticas dos anos 1930, e pela terceira, a da psiquiatria comunitária ou psicofarmacologia do Pós-Guerra, talvez estejamos vivendo a quarta revolução da psiquiatria, quando a metáfora doença vai sendo substituída por outra igualmente complexa identidade. Já não está em relevo a exuberância dos sinais e sintomas equacionados pelas neurociências, mas os modos de viver a vida de pessoas doente sim, com limitações que muitas vezes, entretanto, seguem com seus contratos afetivos e sociais a cumprir. Este livro fala da reabilitação Psicossocial, à brasileira, como um novo tratado ético-estético que negocia uma clínica cuidadosa com inúmeras iniciativas de convívio, lazer, moradia e trabalho que favorecem trocas intersubjetivas e são também espaços de exercícios de cidadania ativa.
Integrante da coleção História e Saúde da Editora Fiocruz, a obra apresenta um estudo da trajetória de um personagem relevante e controverso na história biográfica da medicina e da psiquiatria brasileiras do século XX. A análise da vida de Antonio Carlos Pacheco e Silva 1898-1988 é feita levando em consideração as muitas contradições, tensões e singularidades do médico, militar e político. Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo FMUSP e da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo EPM/Unifesp, Pacheco e Silva acumulou, para além dos espaços acadêmicos, cargos políticos e empresariais, tendo participado ativamente de movimentos conservadores e eugenistas. O livro é um desdobramento da tese doutoral do historiador Gustavo Tarelow, defendida em 2019, na FMUSP. Dedicado às pesquisas sobre a história da psiquiatria paulistas e seus personagens, o autor investiga etapas fundamentais da trajetória de Pacheco e Silva. Ele mostra, por exemplo, a atuação do médico na fundação do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo e como diretor da Associação Psiquiátrica Internacional e do Hospital do Juquery. Tarelow revela também como o psiquiatra esteve diretamente envolvido em todo o processo que levou o português António Egas Moniz a receber o Prêmio Nobel de Medicina, em 1949, além de sua intensa participação em diferentes partidos e momentos do campo político nacional. Dividida em três capítulos, a obra agrega também importantes notas, referências e imagens, reunindo fotografias, documentos, páginas de jornais e outros materiais de acervo que ilustram as diferentes fases da vida do psiquiatra.
O psiquiatra, em sua prática clínica, depara constantemente com situações terapêuticas complexas. Entre essas situações, há os pacientes com quadros refratários aos tratamentos convencionais ou com comorbidades que requerem conhecimentos aprofundados de terapêutica, de medicina geral e de interações medicamentosas para uma abordagem adequada.
Este livro tem como objetivo primordial escutar e valorizar a voz daqueles que passaram por estas experiências radicais de visita aos campos do sem-fundo. Você, leitor, poderá acompanhar, em vários dos corajosos depoimentos reunidos aqui, os passos tortuosos, difíceis, mas firmes de várias pessoas que as têm vivido, revelando os caminhos trilhados e as conquistas.
A inclusão social de doentes mentais em serviços substitutivos à internação em hospital psiquiátrico é tomar consciência das inúmeras dificuldades que a população atendida vivencia neste processo e é, também, uma fonte de sofrimento para os profissionais, o que fica evidente quando o Doutor Cesar Augusto Trinta Weber, com seu talento, descreve os Residenciais Terapêuticos: O dilema da Inclusão Social de Doentes Mentais. Ao mesmo tempo, visualiza-se a possibilidade de constituir espaços onde se possa minimizar o sofrimento vivenciado com este contato muito imediato com as circunstâncias que produzem adoecimento. Com efeito, estudos têm apontado que estratégias educativas e terapêuticas são eficazes no sentido de acolher questões entendidas enquanto necessidade de enfrentamento potencializada através da reflexão sobre atividade cotidiana. Se, por um lado, isso é compreendido como a necessidade de mudança de atitude, por outro a própria diversificação das estratégias de assistência exige um processo de desenvolvimento profissional que não se observou estar sendo realizado de forma sistemática.
Livro que apresenta abordagens inovadoras em saúde mental e atenção psicossocial. Publicada originalmente em inglês, há quase 15 anos, a obra Dialogical Meetings in Social Networks Karnac Books, 2006 ganha, pela primeira vez, uma tradução para o português. Escrito pelos professores finlandeses Jaakko Seikkula e Tom Erik Arnkil, o título recebeu, na versão brasileira tradução de Vera Ribeiro, a revisão técnica de Paulo Amarante e Fernando Freitas, pesquisadores titulares da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca Ensp/Fiocruz. Eles enfatizam a importância da chegada do volume que já foi traduzido em mais de 15 idiomas ao público brasileiro, e reforçam o caráter inovador da obra em um contexto em que a reforma psiquiátrica no país ganha novas dimensões. O livro chega num momento muito importante em que nós estamos redefinindo e repensando a atenção em saúde mental e a atenção psicossocial, fundamentalmente para aquelas pessoas denominadas com psicose, afirma Paulo Amarante
Orientado pelos pensamentos de Heidegger, o autor propõe nesta obra uma visão própria do delírio. Ele defende que a questão do delírio, se pensada de modo compreensivo, inaugura um novo sentido de ser homem.
Quisemos neste volume 10 da coleção trazer à tona os relatos vivos e encarnados de casos e causos, mostrar como e com quais referências as práticas contemporâneas vêm organizando-se na Rede de Atenção Psicossocial Brasileira (Raps). E pôr em evidência que essa rede é tecida de inúmeros dispositivos e serviços e alicerçada em bons repertórios teóricos. Optamos aqui pelo destaque dos serviços tipo Caps, em suas diferentes modalidades, dos leitos de Saúde Mental em Hospital Geral e de equipamentos e estratégias ligadas à Atenção Básica pela função intrínseca que a clínica tem em sua fundação e manutenção, sem com isso negar que diferentes perspectivas terapêuticas e de clínica(s) também podem produzir-se em outros pontos de atenção.
O objetivo central do livro é contribuir para o entendimento das dimensões e estratégias do campo da saúde mental e atenção psicossocial, bem como para a análise dos caminhos e tendências das políticas brasileiras nessa área. Na publicação, o autor faz uma reflexão sobre o percurso que vai das bases da psiquiatria e do manicômio aos projetos atuais, que buscam construir um novo lugar para as pessoas em sofrimento mental.
(...) De que forma o mandato da diferença sexual, presente na construção dos conhecimentos médicos e psicanalíticos sobre a histeria, se atualiza nos modos contemporâneos de tratamento da aflição? O que temos percebido em pesquisas etnográficas e interdisciplinares é que os discursos da diferença de gênero, mesmo não sendo em muitos momentos explicitados de forma clara, constituem e ditam práticas de profissionais e agentes do Estado nas áreas de saúde em geral, de saúde da mulher e de saúde mental. Dois conceitos têm operado nesses dispositivos, de forma articulada ou não. O primeiro é o conceito de ciclo de vida da mulher como parâmetro para pensar sua maior ou menor vulnerabilidade para a vivência de problemas ou distúrbios de ordem psicológica ou mental. (...)
O livro tem a intenção de explicitar a abordagem sistêmica no cotidiano dos profissionais que trabalham no primeiro nível da atenção à saúde e facilitar a prática reflexiva aos leitores que estejam sedimentando este conhecimento. Os títulos dos capítulos foram selecionados tentando responder a muitas questões vivenciadas como dúvidas de alunos de graduação e pós-graduação que acompanharam as autoras nos últimos anos e pertenciam a diversas categorias profissionais.
Esta coletânea analisa diversas temáticas importantes e atuais em saúde mental e atenção psicossocial na rede básica, abordando os conceitos de forma acessível, embora mantendo sua complexidade. Baseados em pesquisas sobre cuidado em saúde mental na Estratégia Saúde da Família no Rio de Janeiro, os textos convidam o leitor a exercitar uma aproximação entre questões acadêmicas e práticas de cuidado no território. Os autores - profissionais com larga experiência de trabalho neste campo - buscam sistematizar e coletivizar saberes e práticas de forma a estimular as equipes de atenção básica a construírem e renovarem abordagens na perspectiva da desinstitucionalização. Segundo a organizadora, o entendimento de desinstitucionalização defendido no livro é aquele “que nos impulsiona para uma cultura do cuidado em instituições abertas e com um estilo coletivo de trabalho”. Diversas questões são colocadas em perspectiva, no sentido de ampliar os aspectos envolvidos no adoecimento com sofrimento psíquico, como a cultura e o ambiente em que se vive. A direção apontada é a da superação da dicotomia corpo-mente, destacando-se que a atenção psicossocial exige um cuidado interdisciplinar, integralizado e territorial.
A explosão dos casos de depressão é um fenômeno mundial e complexo. Sua compreensão requer a mobilização de diversas áreas do saber. O presente livro propõe uma análise aguda e abrangente do problema, trazendo importante contribuição para o estudo desta condição que vem se tornando epidêmica, especialmente após a ascensão do neoliberalismo em nível global.
A partir da importância do processo da reforma psiquiátrica italiana, este livro reúne a conferência que Franca Basaglia proferiu no Rio de Janeiro, e as conferências de Franco Rotelli, Giovanna Butti e Paulo Amarante sobre a formação no campo da saúde mental, atenção psicossocial e reforma psiquiátrica. Em anexo o texto completo da Lei 180, de 13 de maio de 1978, a Lei da Reforma Psiquiátrica Italiana, mais conhecida com a Lei Basaglia.
Por que mulheres têm tantas queixas na esfera do amor? De se sentirem não amadas, de não receberem tanto afeto quanto gostariam ou sentem que oferecem e, um fato que sempre me encucou, simplesmente por estarem sozinhas? Por que quando não têm alguém se sentem ?encalhadas?? Por que mulheres que são mães carregam tanta culpa? E as que não são, por que se sentem na obrigação de estarem disponíveis a cuidar dos demais? E, de outro lado, por que os homens, diferentemente das mulheres, se preocupam-se tanto com o seu desempenho no trabalho e na vida sexual? Por que certas experiências, como, por exemplo, o desemprego, a aposentadoria ou a impotência, são tão ameaçadoras para eles enquanto homens?" Essas são as questões que, nas palavras da Prof.a Dr.a Valeska Zanello, nortearam a escrita deste livro.
O livro Saúde Mental, Políticas Sociais e Democracia chega em momento devastador na vida dos brasileiros e brasileiras. A calamidade socioinstitucional em que estamos mergulhados, acrescida dos impactos da pandemia, tem trazido enormes desafios para o campo da saúde mental e da luta antimanicomial. Os retrocessos na PNSM e na RAPS com o avanço da lógica asilar e hospitalocentrica, tem ampliado os graus de vulnerabilidade e de falta de cobertura em termos de atenção psicossocial no país. Este livro reúne atores e ideias que intencionam não deixar que essa maquinaria de morte e descaso reine soberana e autoritariamente entre nós, ceifando nossas apostas no SUS, na democracia e na justiça social. Canela/RS, 28 de setembro de 2022 Magda Dimenstein.
”SaúdeLoucura 7” aguça o debate sobre a saúde mental produzida nos Programas de Saúde da Família – PSF em diferentes lugares do Brasil, os quais utilizam-se de diferentes metodologias, apoiadas, porém, nos princípios da Reforma Psiquiátrica Brasileira. São casos experimentais e com já demonstrada eficácia.Às seis experiências desenvolvidas em diferentes lugares do Brasil – periferia de São Paulo, Camaragibe e Cabo de Santo Agostinho (Pernanmbuco), Araçuaí, Vale do Jequitinhonha (Minas Gerais) e da experiência-piloto de Quixadá (Ceará) – somou-se nesta edição a de Sobral (também no Ceará).
Esta coletânea traduz a trajetória política e conceitual de Paulo Amarante em sua vida profissional, servindo como referência para muitas pessoas que atuam na área da saúde mental, usuários dos serviços, familiares, técnicos, professores, pesquisadores e ativistas de defesa dos direitos humanos e da cidadania. As reflexões do autor contribuem para o permanente avanço da reforma psiquiátrica no Brasil, a qual ele compreende como um processo social complexo de base tanto para a formação crítica dos profissionais que atuam na área quanto para a clínica. Todo seu esforço pressupõe o ideário de que as pessoas que precisam desses serviços e profissionais sejam mais bem cuidadas e consideradas em seus direitos e em sua cidadania.
Obra que investiga, de forma sensível, a assistência prestada no Sistema Único de Saúde (SUS) aos usuários que enfrentam questões de saúde mental relacionadas às suas vivências nos ambientes de trabalho. A autora revela em sua pesquisa a importância do cuidado integral em saúde e do compartilhamento de saberes e experiências entre trabalhadores e usuários do Sistema.
Qual é a lógica do funcionamento e do papel dos hospitais psiquiátricos nos dias atuais? A partir de reflexões que explicitam uma tática do abandono no funcionamento dessas instituições, o terapeuta ocupacional Fernando Kinker levanta importantes questões no âmbito da reforma psiquiátrica brasileira ao longo do livro. Ao refletir sobre o lugar ocupado por esse modelo de instituição psiquiátrica na sociedade, Kinker destaca a existência de uma lógica do abandono. "Ao contrário do conjunto de comunidades terapêuticas religiosas que vêm sendo disseminadas no Brasil com forte financiamento público, e que carregam uma perspectiva moralizante, que lembra o início da psiquiatria, com o tratamento pela disciplina e pelo castigo, percebe-se, no âmbito do hospital psiquiátrico, que a tática que prevalece é a tática do abandono.