Arte não se refere apenas ao belo e ao efêmero. Ela é uma forma de produção de conhecimento que não se reduz ao prazer estético e pode ser entendida também como uma dimensão do pensamento, da técnica e da atividade produtiva humana. Nosso interesse neste terceiro volume da Série Sabor Metrópole é aproximar pesquisadores de diferentes campos e apresentar seus trabalhos acadêmicos que articulam arte, ciência, comunicação, consumo e alimentação. São textos que partem de trabalhos científicos, todos são frutos de pesquisas acadêmicas e foram construídos a partir de diferentes linguagens artísticas, reunindo trabalhos que transitam pelo cinema, teatro, música, vídeos, produção textual ou análise de trabalhos publicitários. Desde um pequeno detalhe da produção textual ou de uma cena de um filme até a grandiosidade da construção de grandes eventos, temos um diálogo constante entre o rigor acadêmico, a pesquisa científica e a criatividade artística, sempre produzindo invenções que traduzem a ausência de hierarquia entre os diferentes saberes que compõem esta coletânea.
Os trabalhos aqui reunidos são produto de um esforço coletivo dos integrantes do Programa Integrado de Pesquisa, Ensino e Extensão Comunidade, Familia e Saúde (FASA), do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, e de parcerias estabelecidas ao logo de sua trajetória. Celebrando 15 anos de atuação, o FASA vem investindo em projetos que buscam compreender as práticas e concepções de saúde, analisadas em seus contextos macros e microestruturais, no esforço de discutir necessidades de saúde de grupos sociais distintos, de modo compartilhado com os grupos em questão.
"Fica esperto, contra o fogo não pode haver afobação", aconselha Deja, o "frente" de um grupo de brigadistas voluntários, para um adolescente em seu primeiro combate contra o dragão, como alguns chamam os incêndios de grandes proporções — muitos causados por ações criminosas — que devoram a fauna, a flora e os rios da Chapada Diamantina, na Bahia. O grupo liderado por Deja é formado por gente como ele — moradores da região que arriscam a própria vida para deter o avanço descontrolado das chamas. Cunga, Zia, Trote, Jotão, Adobim, Firóso e Abner, mais o cachorro Mutuca, são alguns dos voluntários. Antes mesmo que as instâncias governamentais adotassem as políticas públicas necessárias, esses brigadistas se lançam a apartar a briga do fogo contra a terra com técnicas criadas instintivamente e sem equipamentos adequados. Sobretudo nos tempos de seca, que é quando se enfiam nas matas por dias e dias, sem descanso. Cada qual expande ao seu modo esse universo peculiar, mas é a visão do líder, narrador em primeira pessoa, que torna tudo complexo e vivo. Sua linguagem, concisa e marcada pela oralidade, reflete o homem que é: brusco, simples, mas muito sensível à vastidão e aos detalhes de seu mundo — um mundo em que a palavra falada é soberana.
Fala-se constantemente do neoliberalismo, atribuindo-lhe significados muito diferentes uns dos outros, numa espécie de in ação verbal descontrolada. Rubens Casara tem razão em escrever que “o significante ‘neoliberalismo’ é usado de tantas maneiras que acaba por se tornar uma espécie de conceito ‘guarda-chuva’, um nome vago e impreciso”. Tal imprecisão é uma fonte de erro no diagnóstico e também na resposta política ao fenômeno. Por conseguinte, qualquer trabalho acadêmico que vise de nir rigorosamente o neoliberalismo e colocá-lo de novo no centro da discussão é uma salvação pública. Esse é o caso do livro de Rubens Casara que estás prestes a ler. O autor oferece ao leitor brasileiro uma entrada extremamente clara em toda uma série de análises e pesquisas que compõem o que poderia ser chamado, para usar uma expressão inglesa, neoliberalism studies, que têm se desenvolvido há cerca de vinte anos em nível internacional. Esses estudos permitiram corrigir uma sequência de erros, como o que consiste em identificar o neoliberalismo com uma completa abstenção do Estado na vida econômica e social. O neoliberalismo não é, e nem pode ser, no plano da prática algo “anti-estado”, como proclamado por doutrinas que são mais ligadas ao libertarismo do que propriamente neoliberais. É preciso dar ao termo o sentido mais exato que está presente nos trabalhos de pesquisa inspirados pelas intuições de Michel Foucault: de um certo tipo de governo de indivíduos, que, por sua vez, exige um certo exercício de poder por meio de um Estado forte, autoritário, por vezes violento, que visa uma nova articulação entre as esferas pública e privada.
Chegou a hora de extirpar a supremacia branca de dentro do feminismo Desde sua origem, o feminismo se baseou na experiência de mulheres brancas de classe média e alta, que há muito se autoproclamaram as especialistas no assunto. São elas que escrevem, palestram, dão entrevistas. Ao mesmo tempo, para manter seus privilégios, demarcam a branquitude do movimento ao sobrepor suas falas às das mulheres de pele negra e marrom. No entanto, o diálogo só será possível quando todas as mulheres estiverem em patamares iguais. E é partindo do princípio de igualdade na diversidade que Rafia Zakaria, muçulmana, advogada e filósofa política, defende uma reconstrução do feminismo. Contra o feminismo branco é um contramanifesto que insere as experiências de mulheres de cor no centro do debate. Em uma leitura direta e impactante, a autora questiona desde pensadoras como Simone de Beauvoir a produtos culturais como Sex and the City . O resultado é uma obra crítica à adesão do feminismo branco ao patriarcado, à lógica colonial e à supremacia branca. Ao seguir a tradição de suas antepassadas feministas interseccionais Kimberlé Crenshaw, Adrienne Rich e Audre Lorde, Zakaria refuta a indiferença política e racial do feminismo branco em uma crítica radical, na qual coloca o pensamento feminista negro e marrom na vanguarda.
A contrafissura é um sintona social contemporâneo que opera na mídia, na política, na clínica - na subjetividade contemporânea. Plasticidade psíquica refere as mutações subjetivas dos cuidadores que protagonizam experiências promissoras e as transformações que ocorrem nos usários da Rede de Atenção Psicossocial Brasileira.
Os ensaios desta coletânea, construídos sob a perspectiva histórica, voltam-se também para contextos, circunstâncias e problemas atuais, como a ênfase exagerada nos “riscos à saúde” dada pela mídia e pelas autoridades sanitárias e a resiliência dos despossuídos neste país de grandes fortunas e imensa malversação.
Identificar as potencialidades e as barreiras, não só de um processo de descentralização em curso, mas também da rede de atenção à saúde como um todo, é o primeiro passo para que gestores da saúde e profissionais que lidam diretamente com os casos de tuberculose compreendam melhor essa doença e, assim, possam reconhecer potencialidades e/ou problemas em comum. Este livro trata da descentralização das ações de controle da tuberculose para a Estratégia Saúde da Família. A leitura aponta para possíveis maneiras de aperfeiçoar as ações desenvolvidas nas unidades de saúde dos municípios.
Esta coletânea é especialmente voltada para os profissionais que trabalham na rede do SUS – e pode ser somada a uma proposta de educação a distância. Aborda desde um panorama geral da saúde, no país e no mundo, até os aspectos mais técnicos da tuberculose, como diagnóstico, tratamento e prevenção. Segundo a OMS, o Brasil é um dos 22 países com alta carga de tuberculose e onde o enfrentamento da doença deve ser considerado prioridade. O livro sustenta uma capacitação baseada não só em questões técnicas, mas também em reflexões sobre os determinantes sociais, econômicos e culturais da doença. O objetivo é articular os conteúdos apresentados com a realidade vivenciada pelos profissionais nos serviços de saúde. A 1ª edição é de 1987 e, de lá para cá, o livro já sofreu sucessivas atualizações, envolvendo o Ministério da Saúde, a UFRJ e a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, além do Centro de Referência Professor Hélio Fraga (CRPHF), que coordena o trabalho desde o início dos anos 1990. Entre as novidades desta 7ª edição, destacam-se glossário, textos complementares e um projeto gráfico diferenciado para facilitar a leitura e o estudo.
O objetivo central deste livro é verificar de que maneira a relação entre o aparelho militar e o sistema político no período de 1974 a 1999 afetou a consolidação da democracia do país. Este aspecto-chave foi desdobrado analiticamente em dois planos: o legal-institucional e a conjuntura política.
Em três décadas os antirretrovirais utilizados no tratamento da aids passaram de paliativos a medicamentos salvadores. Auxiliares na prevenção, agora são capazes de diminuir a transmissão do HIV a escalas jamais imagináveis. Coquetel é a singular história da incorporação de uma tecnologia inovadora combinada a uma política de saúde pública universal. Aqui o leitor conhece o caminho desse extraordinário encontro da ciência, da medicina, da ética em pesquisas, da mobilização comunitária e do mercado farmacêutico, que mudou para sempre os rumos da epidemia da Aids.
O quarto volume da coleção Parentalidade & Psicanálise traz para a discussão o corpo, tema crucial para se entender como o laço social cria as condições de constituição dos sujeitos por meio dos entrelaçamentos entre pulsão e linguagem. O corpo não é uma entidade passiva a ser disciplinada, controlada ou educada, mas sim lugar de reconhecimento e construção. Quando consideramos o corpo não apenas como um universal biológico, mas também como marcado, ético e singular, ele convoca uma nova atitude de cuidado e consideração. É essa atitude que os autores desta obra enfrentam ao pensar as transformações na arte e no engenho da criação de filhos. Neste volume, é analisado o trabalho psíquico de pais e filhos para fazer corpo próprio e para deixar fazer corpo próprio , permitindo-o falar como um sujeito. Além disso, há uma reflexão sobre o lugar do corpo da mulher e do corpo das pessoas negras nos discursos que circundam os temas da maternidade e da paternidade.
Eis aqui uma Extraordinária provocação: narrar uma experimentação inscrita no vigor da materialidade de um “comum”. A de processos de trabalho coletivos e suas vicissitudes, na área da saúde, realizados entre os campos da extensão, pesquisa e ensino, na Universidade Federal Fluminense em Niterói/Brasil. A Intenção é flagrar algumas paragens desses processos de trabalho institucional, aquelas que se diferem exatamente por se fazerem singulares, retidas na memória. Dar visibilidade a dimensões dessa processualidade atravessadas por uma aguda implicação – com a criação, com as questões sócias e culturais, globais e locais, com as exigências de um tempo presente, com a construção absolutamente necessária de um olhar transdisciplinar ante o mundo, com a impermanência, com a alteridade e a diferença em si mesma como dispositivos próprios à vida, em sua forma inventiva e potente. Privilegiar as práticas do cuidado em saúde. Aproximar a fazer dialogar as práticas da assistência e da academia, de modo que as tornasse campos intercessores. Singulares e hibridas experimentações gestadas ao longo de nove anos e inscritas na memória coletiva de onde, nesse momento, extraímos outras necessidades. Outros encontros, heterogênios e incomuns, a gestar, por contágio, outras séries, outras intercessões, a perspectivarem “novas buscas voluntárias do problemático”, reafirmando a abertura do próprio campo social da clínica a um fora dela mesma. E, nessa abertura, inventando novas conexões que põem em variação a qualidade e a intensidade das próprias hibridações, que, agora, agenciam outras séries, conceituais e afectivas: Filosofia, Arte, Saúde e educação. Intercessões que, desta vez, se materializam, já nesse livro, numa cooperação acadêmica internacional, em construção, com a Universidade do Porto/Portugal.
O livro Corpo com deficiência em busca de reabilitação? A ótica das pessoas com deficiência física tem por objetivo principal discutir o que é Reabilitar. A reflexão sobre o tema considera os testemunhos de Nina, Sérgio e José Roberto, que ao relatarem suas histórias de vida e vivências nos serviços de reabilitação, nos provocam a questionar as premissas epistêmicas e éticas nas quais estão arquitetadas as práticas dessa área no campo da saúde. A proposta do texto é compreender o imaginário social que se tem sobre o corpo com deficiência na nossa sociedade, como a influência positivista e cartesiana se manifesta nas ações técnicas sobre o corpo com deficiência, na organização dos serviços e nos modelos assistenciais de reabilitação. Os depoimentos oferecem pistas valiosas para o rompimento com as propostas organicistas e reducionistas de reabilitação, apresentam sugestões na direção de abordagens que considerem o corpo com deficiência como dotado de desejo e de voz, que é afetado pelos bons e maus encontros, que está em relação com outros corpos e com o mundo de forma política, no sentido espinosano do termo. Trata-se de um livro para profissionais da saúde e da reabilitação, para educadores e para outras pessoas e profissionais que se interessem pelo tema.
Os ensaios reunidos neste livro articulam com evidente sucesso uma diversidade de abordagens disciplinares ao tema da representação do corpo humano em contextos históricos e geográficos plurais. O resultado da coleção é um convite explícito a uma revisão da relação pessoal e social com nossos corpos. Emergem da obra, nesse sentido, temas centrais como aqueles das relações de gênero, do controle social da sexualidade, do racismo, do papel da medicina moderna na reconstrução de nossa relação com o corpo, das associações com o poder, o sagrado e o profano, além de outros igualmente significativos e impactantes. E eles são tratados por um viés de profícuo cruzamento de saberes, disciplinas e pontos de vista, resultando em importante contribuição para os estudos sobre este veículo de experiências humanas no mundo e objeto das mais distintas representações, que é o corpo, em seus aspectos materiais, espirituais, psicológicos, históricos, visuais e literários. O olhar historiográfico dos autores, bem como as perspectivas atentas às mudanças que ocorreram ao longo da história no retrato de nós mesmos, revela neste livro um corpo dissecado muito distinto daquele do início da ciência moderna, objetivo, sem sujeito, morto para ter seus órgãos explorados pelos aprendizes da anatomia humana. Este corpo dissecado não existe senão pela operação do entendimento humano, sempre em mutação e dependente dos interesses, pressupostos e objetivos do observador.
Num período no qual a Dança conquistava o valor de sua especificidade no Brasil, oportunizada pelo apogeu nas políticas culturais federais, Araraquara, cidade do interior Paulista, era cenário de mudanças profundas e transformadoras, caracterizadas por ações específicas do poder público, que resultaram em novas formas de relação entre Estado e Sociedade. Sob os preceitos da Democracia Participativa, agentes culturais e políticos promoveram a reorganização da Cultura na cidade e, a Dança, de forma transgressora, se efetivou como Política Pública. Este livro de Gilsamara Moura transcende a narrativa histórica-evolutiva dos projetos de dança implementados na cidade de Araraquara a partir da articulação de diversas redes amparadas pela Educação e pela Cultura. Ele é, sobretudo, um documento político de uma época, um replicador do desenvolvimento da dança, desde o lugar que habitamos. — Kranya V. Díaz-Serrano
O culto ao corpo, sua importância no processo de construção da identidade na sociedade contemporânea e sua clara relação com os códigos de distinção social pelo consumo nos coloca diante de uma nova percepção da corporeidade. O que é um corpo belo e saudável no início do século XXI? Como pensar os cuidados com a saúde e com a aparência física sem levar em consideração o desenvolvimento da biotecnologia? Como compreender os processos de comunicação das redes sociais e os fluxos de imagens em tempos de superexposição da intimidade? São questões pertinentes que se colocam para nós pesquisadores das Humanidades e das Ciências da Saúde.
A originalidade do campo empreendido por Raquel Bastos nos possibilita um diálogo nem sempre convencional da Medicina Antroposófica em um contexto dominado pela Medicina “Moderna”. A Antroposofia nos é apresentada por Rudolf Steiner (1861-1925) no século XX, na Suíça, propondo a cura holística a qual engloba não só a existência física como a emocional e a espiritual.
A partir de uma perspectiva antropológica, o livro explora as múltiplas relações entre os centros de poder e saber sobre o corpo e os processos de saúde e doença construídos e vividos por sujeitos, comunidades e instituições no Brasil. O conteúdo da obra expressa a pluralidade da antropologia do corpo e da saúde presente hoje no país e que tem diferentes interfaces: ciência, religião, Estado, biossociabilidades, conhecimentos tradicionais, entre outras.
A originalidade desta pesquisa está na abordagem do papel do corpo na organização da identidade na esfera da teoria de Wilhelm Reich. A teoria de Wilhelm Reich, embora consistente e densa, não apresenta um corpo teórico especificamente organizado no tema da identidade e da imagem corporal. Assim proponho uma leitura da teoria de Wilhelm Reich na perspectiva energética focando o corpo e a organização da identidade e da imagem corporal. Para poder pensar a organização ontogenética da identidade, a autora se volta para a tese de Wilhelm Reich sobre a interdependência entre a percepção e a consciência. O pensamento funcional, método de pesquisa utilizado por Wilhelm Reich, cuja lógica emerge da operação das funções conduz à compreensão da função do segmento ocular enquanto uma ponte entre a teoria e a pesquisa de campo. A imagem corporal funcionou como um instrumento abstrato e ao mesmo tempo concreto nos trabalhos de fotografia, do espelho e do desenho das figuras humanas aplicados no grupo das adolescentes.
Faz um resgate histórico do cirurgião-dentista desde a Idade Média, passando por Portugal e vindo para o Brasil no bojo do projeto colonial português, passando pelo período imperial quando, em 1884, surgem as primeiras escolas odontológicas brasileiras, chegando também ao período republicano.
Este livro foi escrito na forma de um manifesto, um convite a estudiosos/ as para pensarem nas implicações de conectar epistemologias e teorias decoloniais e pós-coloniais com discursos emancipatórios, teoria crítica e pedagogia crítica. A partir de históricas de uma identidade gay, dentro e fora dos espaços colonizadores, dentro e fora das universidades, este livro problematiza a formação médica em que determinados corpos importam e outros não, uma vez que sistematicamente se reproduz uma estrutura de violência para todos historicamente marginalizados, minorizados e violentados. Gustavo, Cláudio e Nelson, buscam a utopia da justiça social. Seus textos dialógicos modelam formas de práxis decolonizadoras que empoderam as pessoas ao honrar suas vozes, suas experiências e suas lutas por dignidade.
Corpos, territórios e feminismos finca os pés nos territórios que vêm sendo alvo de projetos extrativistas — terras habitadas por populações tradicionais, cujo modo de vida entra em conflito direto com as diretrizes capitalistas — para entender como os povos estão resistindo à despossessão. Por meio de uma pesquisa militante, as autoras puderam compreender que essa resistência é liderada sobretudo por mulheres. São elas que mais sofrem o impacto da devastação e, portanto, as que mais se dispõem a lutar contra o seu avanço.
Esta obra procura mostrar como o risco se tornou um tema considerado popular nas últimas décadas e como esse processo afetou o campo da promoção da saúde, incluindo questões associadas ao estilo de vida, à genética e aos contextos socioculturais. Além de
Estudo que trata da triste e desafiadora experiência de combate à mortalidade infantil no nordeste brasileiro, especificamente no estado do Ceará. Seus capítulos versam sobre a teoria, a metodologia, os cuidados clínicos e a ação comunitária e estão fundamentados na antropologia médica, que tem guiado os programas de atenção à saúde infantil nesse estado brasileiro. A obra conta ainda com farto material etnográfico coletado pela autora ao longo de décadas, relacionado a mães e filhos pobres, mortes de crianças, luto materno, ambientes fragmentados e predatórios e intervenções capazes de aumentar a sobrevivência infantil.
Neste 13º título da Coleção Feminismos Plurais, a promotora de justiça Lívia Sant’Anna Vaz apresenta um estudo das cotas raciais no Brasil e do seu impacto no ensino superior e nos concursos públicos ao longo dos dez anos da legislação. A obra rememora o histórico de restrições impostas a pessoas negras no acesso à educação formal e promove a compreensão histórica do racismo e da resistência jurídica de reconhecê-lo como um dos elementos que estrutura as desigualdades brasileiras. Para além de apresentar os desafios para o aprimoramento das cotas raciais e os seus limites na concretização de justiça racial, a autora também salienta a importância dos mecanismos de controle para a garantia da eficácia dessa importante ação afirmativa para o povo negro.
Este livro compartilha saberes de um grupo de pesquisadores de meio ambiente, políticas públicas e economia, que acreditam que o princípio de ciência-cidadã esteja aqui incorporado, não apenas com o objetivo restrito de divulgação científica, mas de transformar todas as pessoas. O livro reúne reflexões dos pesquisadores do Grupo de Economia do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (GEMA-IE/UFRJ)Trata das relações entre a pandemia, políticas públicas, com foco na economia e meio ambiente, e nossa dívida social.
O autor Leonardo Boff fala neste livro sobre a doença que, atualmente, assola a humanidade, e que está definindo, um novo rumo para nossa história. O coronavírus é um contra-ataque da Terra as agressões que vem sofrendo por danos causados pelo homem, mas o autor acredita que ainda há tempo.
m “Cozinha é lugar de mulher?” Bianca Briguglio procura desmistificar o mundo da gastronomia como vem sendo apresentado na mídia hegemônica nos últimos anos. A representação glamourizada do trabalho em cozinhas, baseado na paixão e dedicação de resignados profissionais dispostos a tudo para obter sucesso e reconhecimento. O que a autora revela, baseada em sua pesquisa de doutorado e entrevistas com cozinheiros e cozinheiras, é um cotidiano atravessado por longas e duras jornadas de trabalho, baixos salários, informalidade, rotatividade e, em muitos casos, assédio moral e sexual. A partir de uma perspectiva sociológica que considera as relações de gênero, classe e raça/ etnia, a autora apresenta um panorama sobre a realidade dos profissionais de cozinhas que ultrapassa o ambiente de trabalho, relacionando-se ao trabalho doméstico, ao tempo dedicado à família, lazer e descanso. A extensão da jornada, assim como as condições de trabalho e a necessidade de realizar uma série de outras atividades para gerar renda, tem impacto decisivo sobre as relações pessoais e dentro das famílias, de maneira diferente para homens e mulheres, brancos e não brancos. A masculinização das cozinhas profissionais, um processo histórico que a autora investiga, desemboca em obstáculos e dificuldades adicionais para as mulheres neste segmento profissional, sobretudo as mulheres negras, que se deparam com o machismo e o racismo combinados.
Destaca-se na obra um mérito importante, o de posicionar-se de forma clara, aberta e entusiasmada sobre a necessidade da união de todos para o combate ao uso das drogas, sobretudo, o relacionado ao crack. Não interessa o partido que esteja no poder, desde que ele se mostre sensível e com competência para trazer benefícios às pessoas atingidas pelas consequências do uso da droga, louvando a iniciativa de empresas, da mídia e de indivíduos que se integram à campanha de combate às drogas.
Este livro traz de volta ao público brasileiro estudos fundamentais de Paul Singer sobre um período decisivo da formação do capitalismo no Brasil, tendo como referência dois momentos de intenso crescimento econômico: a segunda metade dos anos 1950, os anos JK, e o chamado milagre brasileiro, o ciclo de altas taxas iniciado em 1968, sob Delfim Netto e o manto da ditadura militar implantada em 1964.
A publicação deste livro sobre doenças raras envolvendo narrativas, memórias e trajetórias de cuidado com familiares de crianças e adolescentes com doenças raras constitui um passo importante nas pesquisas que a socióloga e psicóloga Martha Moreira vem desenvolvendo sobre condições crônicas complexas em saúde no Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira, da Fundação Oswaldo Cruz. A pesquisa tem o mérito de penetrar na trama das doenças raras a partir de diversos enfoques que consideram tanto a definição do tema, como as memórias e trajetórias de familiares e as pesquisas ações de apoio em desenvolvimento. Dados da Global Genes, organização internacional sem fins lucrativos, demonstram que existe aproximadamente 350 milhões de indivíduos no planeta que manifestam algum dos sete mil distintos tipos de doenças raras. Tais informações confirmam a importância de estudos que organizem as informações sobre as condições de vida e de cuidados destes indivíduos.
“Crianças que não veem o sol” apresenta ao leitor o universo inimaginável de uma enfermaria pediátrica onde, meninas e meninos que sofrem condições crônicas complexas de saúde passam por longos períodos de internação. As páginas deste livro mostram o que é esse passar o tempo entre grades e paredes hospitalares. Ao mesmo tempo, ressalta o importante investimento humano, profissional e tecnológico que subsidia a existência e a qualidade de vida dessas crianças e o quanto esse cuidado transforma a vida de quem os cuida. Embora sejam apresentados casos que carregam muito sofrimento, o livro conta belas histórias de amor e superação e revela os avanços da biotecnologia que, atualmente, amplia as possibilidades de viver com dignidade. Esta obra, premiada como a melhor tese na área de saúde coletiva do ano de 2022 pela Fiocruz, é considerada pelas autoras como parte de sua missão de promover reflexões e ações relacionadas ao cuidado com tais crianças e seus familiares. Mas seu escopo é mais geral: destina-se a todos os profissionais e estudantes do campo da saúde e aos cidadãos que prezam por um atendimento do SUS que leve em conta o indivíduo em toda a sua plenitude, ainda que precise contar com cuidados intensos e longos e apoio tecnológico.
Publicação se dedica a desbravar as contradições relacionadas à economia política, comunicação, políticas públicas de saúde e educação, além da condição geral dos trabalhadores, aprofundadas em tempos da pandemia da Covid-19. Livro reúne artigos de professores e pesquisadores da Escola Politécnica e também das Universidades do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Federal Fluminense (UFF), Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). Rio de Janeiro:
Este livro traz contribuição importante ao mergulhar, através de uma análise documental detalhada, em estratégias empresariais, suas relações com o público, e na complexa interação entre crise econômica, crise sanitária e o sistema de saúde brasileiro. Explora como o crescimento do setor privado, muitas vezes sustentado por subsídios, se interlaça e se contrapõe ao SUS. E assim avança o “universalismo privatizante”, se manifestando no crescimento da prestação privada de serviços. Não menos importante, discute ainda como essas dinâmicas reforçam as desigualdades no acesso à saúde, propondo uma reflexão essencial para o futuro das políticas públicas no Brasil.
De todos os humanos, o negro é o único cuja carne foi convertida em mercadoria. Aliás, negro e raça têm sido sinônimos no imaginário das sociedades europeias. Desde o século XVIII, constituíram ambos o subsolo inconfesso e muitas vezes negado a partir do qual se difundiu o projeto moderno de conhecimento e também de governo. Será possível que a relegação da Europa à categoria de mera província do mundo acarretará a extinção do racismo, com a dissolução de um de seus mais cruciais significantes, o negro? Ou, pelo contrário, uma vez desmantelada essa figura histórica, todos nós nos tornaremos os negros do novo racismo fabricado em escala global pelas políticas neoliberais e securitárias, pelas novas guerras de ocupação e predação e pelas práticas de zoneamento? Neste ensaio ao mesmo tempo erudito e iconoclasta, Achille Mbembe empreende uma reflexão crítica indispensável para responder à principal questão sobre o mundo contemporâneo: como pensar a diferença e a vida, o semelhante e o dessemelhante?