Ser Abrasquiano(a) significa não só apoiar a Saúde Coletiva como área de conhecimento, como também compartilhar dos princípios da saúde como um processo social e lutar pela ampliação dos direitos dos cidadãos à saúde pública e de qualidade.
Ser Abrasquiano(a) significa não só apoiar a Saúde Coletiva como área de conhecimento, como também compartilhar dos princípios da saúde como um processo social e lutar pela ampliação dos direitos dos cidadãos à saúde pública e de qualidade.
Este livro é leitura imprescindível para quem busca entender e superar os efeitos do racismo institucional na saúde mental. Ancorado na articulação entre a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra e a Política Nacional de Saúde Mental, Emiliano de Camargo David toma raça como um determinante social da saúde e propõe a “aquilombação” como ferramenta teórica para expandir o debate e fazer frente aos marcadores raciais que ampliam as iniquidades seculares e contemporâneas no cuidado à saúde mental. Para ele, o “aquilombamento” coloca o racismo no centro do debate público e permite avançarmos no processo de inclusão da temática racial nas políticas e, consequentemente, nos serviços de saúde mental, indicando um caminho assertivo para a construção de estratégias para o seu enfrentamento.
Explorar as experiências de mulheres brasileiras em relação a uma particular estratégia publicitária como a contraintuitiva através da abordagem da Grounded Theory, como faz Francisco Leite neste livro, é inovador e corajoso. É inovador porque embora a Grounded Theory seja a metodologia de pesquisa atualmente mais utilizada no mundo e difusa, mais do que outras metodologias, em uma grande variedade de disciplinas e campos de pesquisa, são ainda poucas as suas aplicações nos estudos midiáticos e, em particular, aqueles com foco na comunicação publicitária. É inovador também, porque oferece uma perspectiva inédita ao olhar para um fenômeno de extrema relevância midiática e social com a ambição de construir uma teoria fundamentada nos dados. Mas, o trabalho é também corajoso do ponto de vista metodológico porque investigar as experiências vividas e mediadas, muitas vezes dolorosas, ao alcançar os sentimentos de sofrimento, com os procedimentos e técnicas de Grounded Theory é uma ideia original e, de certa forma, arriscada. No entanto, este livro demonstra que Francisco venceu a aposta metodológica conseguindo edificar uma teoria substantiva a partir dos significados que as mulheres brasileiras, brancas e negras, construíram a partir da experiência de interação com publicidades containtuitivas que midiatizam a imagem de mulheres negras como protagonistas.
Roceiros morenos, pretos, pardos foram mapeados em um esforço de observar os sentidos raciais que circulavam no Brasil rural dos anos 1940 e 1950. Uma cartografia dos dispositivos discursivos que orientavam as hierarquias raciais que desumanizavam pretos roceiros. Aos pesquisadores das relações raciais e da história da população negra no Brasil, o livro pode ser uma boa alternativa das reflexões sobre as desigualdades vividas, praticadas, reforçadas, legitimadas, sobre a população negra. A repetição de imagens, valores, ideias, experiências comuns aos contextos escravistas décadas depois da abolição nos ajudam a identificar as heranças e permanências que se perpetuaram e que enfrentamos ainda hoje.
Este Atlas apresenta um balanço sintético, amplo e completo dos conhecimentos históricos sobre a questão delicada e complexa da escravidão. Além de 150 mapas e gráficos, ele irá mostrar uma análise mundial do tráfico de escravos, do séc. XV ao séc. XIX, uma abordagem global e original das sociedades escravagistas, a expansão desse tráfico pela internacionalização das trocas comerciais, a difusão do Iluminismo e o rápido desenvolvimento do movimento abolicionista em escala internacional, além da permanência da escravidão e a complexidade de seu legado e de suas memórias.
Bantos, malês e identidade negra reúne elementos históricos sobre a formação do Brasil em seu caráter étnico, identitário e cultural, e mostra ao leitor as contribuições dos bantos ao longo desse processo. À guisa de seu envolvimento com a resistência cultural negra no Brasil e na África, Nei Lopes estabelece novos parâmetros sobre a relação entre islamismo e negritude, apresentando uma face da história ignorada por grande parte dos brasileiros. Esta nova edição atualiza profundamente a bibliografia do livro originalmente lançado em 2007, incluindo obras de autores contemporâneos como Elikia M Bokolo, Carlos Moore, Alberto da Costa e Silva e Jan Vansina, entre outros.
Escrito em 1967 no auge da luta por direitos civis nos Estados Unidos, Black Power é um livro seminal para os movimentos negros de todo o mundo. Seus autores, Stokely Carmichael (que depois passou a se chamar Kwame Ture) e Charles V. Hamilton, estavam na linha de frente da luta e procuraram registrar no calor do momento as discussões sobre o enfrentamento à supremacia branca. Em primeira edição oficial no Brasil, o livro continua sendo um documento histórico fundamental para a discussão do racismo estrutural e seus resultados nefastos sobre a desigualdade racial. Mais uma parceria da Editora Jandaíra com o Selo Sueli Carneiro, coordenado por Djamila Ribeiro.
“A branquitude significa pertença étnico-racial atribuída ao branco. Podemos entendê-la como o lugar mais elevado da hierarquia racial, um poder de classificar os outros como não brancos, que, dessa forma, significa ser menos do que ele. O ser-branco se expressa na corporeidade, a brancura. E vai além do fenótipo. Ser branco consiste em ser proprietário de privilégios raciais simbólicos e materiais. Com dezessete capítulos, este livro trata da identidade branca com foco na realidade social brasileira”.
Esta publicação pode ser considerada uma autobiografia etnográfica, como a própria Zélia Amador de Deus nomeia sua escrita. Nos oito artigos aqui reunidos, a autora apresenta, por meio de uma produção teórica e politicamente posicionada, dimensões políticas, sociais e culturais que marcaram e marcam a história social e política brasileira ainda pouco conhecida. Os textos, escolhidos pela própria autora, representam o núcleo central do seu pensamento e da sua intervenção acadêmica e política dos anos 1990 até 2019. É o olhar sobre essa história produzido por uma mulher negra, ou uma mulher preta, como a própria Zélia faz questão de nomear a si mesma. Mas essa jamais será uma história individual. Ela faz parte de um coletivo, e é construída dessa maneira.
Cartas da prisão de Nelson Mandela é uma obra histórica: a primeira – e única – coleção autorizada de correspondências que abarca os vinte e sete anos em que o líder sul-africano esteve encarcerado. Lançada simultaneamente em diversos países, a publicação celebra o centenário de Mandela. Comoventes, fervorosas, arrebatadoras e sempre inspiradoras, as mais de duzentas cartas – muitas das quais nunca vistas pelo público – foram reunidas a partir de coleções públicas e privadas. O livro inclui um prefácio escrito por Zamaswazi Dlamini-Mandela, neta do grande líder. Um retrato íntimo de um ativista político que também era marido devoto, pai afetuoso, aluno dedicado e amigo fiel.
A coletânea Cativeiros enfermos aponta a força da pesquisa histórica nos estudos sobre a história da assistência e saúde na escravidão e pós-emancipação no Brasil. Não há dúvidas sobre a ampliação metodológica e teórica, tanto na historiografia da escravidão como naquela da saúde. São abertos caminhos empíricos, propiciando exercícios analíticos que se multiplicam. Permanecem atualizados os desafios sobre os sentidos e significados de diferentes fontes onde aparecem as nomenclaturas e taxonomias sobre enfermidades e causa mortis.
Apaixonada por cinema, bell hooks dedicou parte considerável da vida a assistir, debater e escrever sobre filmes, analisando o que via nas telas a partir de um olhar aguçado para questões de raça, classe e gênero. A energia que dedicou à crítica cinematográfica se explica pelo poder que conferia à narrativa audiovisual: “O cinema produz magia. Modifica as coisas. Pega a realidade e a transforma em algo diferente bem diante dos nossos olhos”. Daí que tenha mantido sob permanente escrutínio o trabalho de inúmeras diretoras e diretores, sobretudo daqueles que optaram por retratar a vida e o drama de pessoas negras. Com sensibilidade e tenacidade, bell hooks interpretou os principais filmes de seu tempo, fossem produções independentes ou hollywoodianas. Neste livro, encontramos críticas essenciais a obras de Quentin Tarantino, Mike Figgis, John Singleton, Julie Dash e, claro, Spike Lee — sem dúvida, o cineasta que mais chamou a atenção da autora ao longo dos anos. Encerram o volume entrevistas com os realizadores Wayne Wang, Camille Billops, Charles Burnett e Arthur Jafa. Assim, de acordo com a própria bell hooks, Cinema vivido “questiona e ao mesmo tempo celebra a capacidade do cinema de abrir caminho para uma nova consciência e de transformar a cultura”.
Colorismo, de Alessandra Devulsky, trata de um tema premente para entendermos a construção da sociedade brasileira e a dinâmica das suas relações. No decorrer do livro, a autora aborda desde os aspectos internos do colorismo, sua introjeção, até seu caráter estrutural, tão presente em nossa sociedade quanto o racismo. As implicações do colorismo no mundo do trabalho e na dinâmica das relações de poder também são investigadas a fundo, a fim de deixar nítido que a mestiçagem e sua origem violenta continuam repercutindo e exercendo forte papel no país. A distinção entre negros claros e retintos, capaz de desmobilizar o reconhecimento e a união entre os sujeitos com traços de africanidade, e enfraquecer a luta antirracista, é dissecado pela autora, que conclama a força política mobilizadora que pode advir do questionamento do colorismo, que estratifica os negros a partir de um olhar forjado no seio da supremacia branca. Não fica de lado, também, uma análise do colorismo a partir do feminismo negro, a fim de investigar sua repercussão tanto no aspecto afetivo quanto político de formação das mulheres negras.
No meu primeiro livro sobre o assunto, Tudo sobre o amor: novas perspectivas, tive o cuidado de afirmar repetidas vezes que as mulheres não são inerentemente mais amorosas do que os homens, mas que somos incentivadas a aprender a amar. Esse incentivo tem sido o catalisador para as mulheres saírem em busca do amor, para observarem com atenção a prática do amor. E para confrontarmos nossos medos de não sermos amorosas e não sermos amadas o suficiente. As mulheres na nossa cultura que mais têm a ensinar ao mundo sobre a natureza do amor são as da geração que aprendeu por meio da luta feminista e da terapia baseada no feminismo que o amor-próprio é a chave para encontrar e conhecer o amor.
Neste 13º título da Coleção Feminismos Plurais, a promotora de justiça Lívia Sant’Anna Vaz apresenta um estudo das cotas raciais no Brasil e do seu impacto no ensino superior e nos concursos públicos ao longo dos dez anos da legislação. A obra rememora o histórico de restrições impostas a pessoas negras no acesso à educação formal e promove a compreensão histórica do racismo e da resistência jurídica de reconhecê-lo como um dos elementos que estrutura as desigualdades brasileiras. Para além de apresentar os desafios para o aprimoramento das cotas raciais e os seus limites na concretização de justiça racial, a autora também salienta a importância dos mecanismos de controle para a garantia da eficácia dessa importante ação afirmativa para o povo negro.
De todos os humanos, o negro é o único cuja carne foi convertida em mercadoria. Aliás, negro e raça têm sido sinônimos no imaginário das sociedades europeias. Desde o século XVIII, constituíram ambos o subsolo inconfesso e muitas vezes negado a partir do qual se difundiu o projeto moderno de conhecimento e também de governo. Será possível que a relegação da Europa à categoria de mera província do mundo acarretará a extinção do racismo, com a dissolução de um de seus mais cruciais significantes, o negro? Ou, pelo contrário, uma vez desmantelada essa figura histórica, todos nós nos tornaremos os negros do novo racismo fabricado em escala global pelas políticas neoliberais e securitárias, pelas novas guerras de ocupação e predação e pelas práticas de zoneamento? Neste ensaio ao mesmo tempo erudito e iconoclasta, Achille Mbembe empreende uma reflexão crítica indispensável para responder à principal questão sobre o mundo contemporâneo: como pensar a diferença e a vida, o semelhante e o dessemelhante?
É impossível ler bell hooks e não sair da zona de conforto. O estudo de sua obra pode acender em cada pessoa uma chama, uma disposição a correr o risco de imaginar possibilidades subjetivas e comunitárias para além do patriarcado capitalista supremacista branco, possibilidades de contato genuíno com a alteridade. Se esses sistemas interligados de opressão normatizam modos de vida automáticos e apáticos, reproduzindo lugares sociais já sedimentados, as provocações de hooks nos estimulam a assumir uma presença viva, criativa e apaixonada, almejando construir novos modelos de existência — e uma cultura fora da lei.
Ser Abrasquiano(a) significa não só apoiar a Saúde Coletiva como área de conhecimento, como também compartilhar dos princípios da saúde como um processo social e lutar pela ampliação dos direitos dos cidadãos à saúde pública e de qualidade.