Ser Abrasquiano(a) significa não só apoiar a Saúde Coletiva como área de conhecimento, como também compartilhar dos princípios da saúde como um processo social e lutar pela ampliação dos direitos dos cidadãos à saúde pública e de qualidade.
Ser Abrasquiano(a) significa não só apoiar a Saúde Coletiva como área de conhecimento, como também compartilhar dos princípios da saúde como um processo social e lutar pela ampliação dos direitos dos cidadãos à saúde pública e de qualidade.
Depois de esmiuçar o mundo do crime no Rio de Janeiro em A república das milícias, Bruno Paes Manso volta com um mergulho em outra dimensão da criminalidade no Brasil. A partir de depoimentos de ex-criminosos que tiveram a vida transformada pelo contato com a religião, o autor desconstrói estigmas associados às novas denominações evangélicas e mostra como o crescimento desses grupos responde a anseios profundos de uma população exposta a todo tipo de violência.
Em A força da não violência, Judith Butler percorre discussões da filosofia, da ciência política e da psicanálise para reavaliar o que chamamos de violência e não violência e o modo como essas duas expressões se tornam intercambiáveis quando colocadas a serviço, por exemplo, de uma perspectiva individualista das relações sociais ou de um Estado no exercício do biopoder. A obra, lançada originalmente em 2020, mostra como a ética da não violência deve estar conectada a uma luta política mais ampla pela igualdade social. A autora rastreia como a violência é, com frequência, atribuída àqueles que são mais expostos a seus efeitos letais. Para Butler, a condição-limite da manifestação da violência se revela quando certas vidas, uma vez perdidas, não são dignas de luto. Expondo os discursos por meio dos quais a desvalorização e a destruição da vida operam, Butler propõe a compreensão da não violência a partir da condição básica da interdependência entre os seres humanos e identifica a não violência como uma prática de resistência à destruição.
O livro "A gestão dos supérfluos: neoliberalismo e prisão-depósito" contempla a “clara transformação” pela qual o sistema penal brasileiro vem passando, não só inscrevendo-a no quadro da macroeconomia neoliberal, mas também observando as subjetivações que se impõem a partir da “lógica concorrencial”, da cotovelada por espaço como pedra fundamental da sociabilidade humana. A crítica do autor Carlos Eduardo Figueiredo à realidade das execuções penais no Brasil traz a legitimidade de quem, por mais de uma década, exerceu judicatura precisamente nesse campo. Ele assinala, certeiramente, o excesso de prisões provisórias como “característica central de política criminal fundada no risco”; pois, após a Índia e ao lado da Turquia e do México, estamos na casa dos 40% de presos provisórios, dos quais algo em torno de dois terços são de suspeitos ou acusados pretos.
Gerar conhecimento estratégico sobre o tema da violência no namoro e no ‘ficar’ dos adolescentes brasileiros: este foi o objetivo de um estudo pioneiro realizado por pesquisadores de nove universidades públicas e da Fiocruz. O trabalho, que teve início em 2007, coletou, produziu e analisou dados quantitativos e qualitativos de âmbito nacional. O estudo foi realizado com cerca de 3.200 jovens, de 15 a 19 anos, matriculados em escolas públicas e particulares de dez cidades (Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Florianópolis, Manaus, Porto Alegre, Porto Velho, Rio de Janeiro, Recife e Teresina). Os resultados da investigação deram origem a esta coletânea, que faz uma síntese dos achados, mas também das interrogações do estudo.
A temática abordada demonstra sinais por todos os lados e incomoda a muita gente, confirmando que há ruídos, também por todos os lados. O trote violento permeado por jogos bizarros e práticas opressoras persiste, apesar deste incômodo manifestado por docentes, estudantes, pais e pela mídia.
Este livro tem como objeto o controle social e penal que o Estado brasileiro exerce sobre adolescentes pobres. A autora utiliza como referencial teórico o materialismo histórico, através das obras de Marx, Mészáros, entre outros.
Leitura obrigatória para se compreender a complexidade da exploração sexual e seus modos de enfrentamento. O livro contribui para o debate das ciências sociais com a análise sobre os modos de conceituar o problema, suas ambiguidades e deslizamentos morais. Apresenta também a diversidade de experiências de enfrentamento em distintos territórios ? cidades de fronteiras, da região amazônica, turísticas, ligadas à exploração do petróleo e rodovias.
Há 20 anos Isabel da Silva Kahn Marin dedica-se ao trabalho na área da infância em um recorte que prioriza o pensar e o fazer em relação àquelas crianças que vivem alguma condição de vulnerabilidade - o abandono, a vitimização, a privação temporária ou permanente do convívio familiar, a institucionalização provisória ou não.
Nos últimos anos, assistimos a uma explosão de protestos pelo mundo contra a brutalidade e repressão policial. Entre ativistas, jornalistas e políticos, a conversa sobre como melhorar o policiamento tem se concentrado na responsabilidade, diversidade, treinamento e melhores relações com a comunidade. Infelizmente, essas reformas não produzirão os resultados esperados. O cerne do problema deve ser abordado: a natureza do próprio policiamento moderno. A militarização na aplicação da lei e a dramática expansão do papel da polícia nos últimos 40 anos criaram uma lógica perversa que deve ser revertida. Este livro tenta despertar a discussão pública, revelando as origens contaminadas do policiamento moderno como uma ferramenta de controle social. Mostra como a expansão da autoridade policial é inconsistente com o empoderamento das comunidades, a justiça social e até mesmo a segurança pública. Com base em pesquisas inéditas no mundo todo e cobrindo praticamente todas as áreas nesta gama cada vez mais ampla de trabalho policial, Alex Vitale demonstra como a aplicação da lei veio exacerbando os próprios problemas que deveria resolver.
Gláucio Ary Dillon Soares analisa o homicídio numa perspectiva histórica e comparada: no Brasil e no mundo, através dos tempos. Utilizando diferentes pontos de vista teóricos e metodológicos, ele correlaciona essas mortes violentas com variáveis econômicas, culturais, demográficas e sociais: desenvolvimento econômico e social, urbanização, metropolização, favelas, migrações, densidade demográfica, idade, raça, gênero, estrutura da família, religião e religiosidade. A contribuição das políticas públicas, as teorias mais comuns e as questões metodológicas, inclusive a qualidade dos dados disponíveis, também passam pelo crivo analítico do autor.
Este livro caracteriza a violência, sobretudo o abuso sexual contra crianças e adolescentes. Identifica-se que a violência contra crianças e adolescentes acompanha a trajetória da humanidade desde os mais antigos registros. Inumeráveis são as formas pelas quais se expressa, adaptando-se às especificidades culturais e às possibilidades de cada momento histórico.
"Neste livro o leitor encontrará uma extensa revisão bibliográfica de 2.477 textos publicados entre 2001 e 2013 (artigos, dissertações e teses) sobre violência e saúde. [...] O trabalho acompanha a construção intelectual do tema no Brasil e no mundo e realça pontos convergentes, divergentes, continuidades, rupturas e lacunas. Nele o leitor encontrará uma leitura crítica sobre um objeto construído progressivamente dentro do campo da saúde. A obra dá continuidade a duas revisões anteriores realizadas pelo mesmo grupo. A primeira ocorreu em 1990; a segunda, em 2003. Esta terceira revisão se mostra a mais aprofundada, vasta, complexa e analítica."
Baseado em uma etnografia da CPI da Pedofilia no Senado Federal e das investigações da Polícia Federal no combate à pornografia infantil, o livro se aprofunda na construção histórica das categorias criminais que remetem, hoje, à violência sexual envolvendo menores. Sob um viés antropológico, procura debater as dinâmicas sociais, culturais e morais que moldam a configuração do problema da violência sexual contra crianças e adolescentes, a partir da categoria pedofilia.
Dos 23 policiais brasileiros entrevistados em profundidade para este estudo seminal, 14 eram perpetradores diretos de tortura e assassinato durante as três décadas que incluíram o regime militar de 1964-1985. Estes "operários da violência" e os membros do grupo de "facilitadores de atrocidades" (que supostamente não participaram diretamente na violência) ajudam a responder às perguntas que assombram o mundo de hoje: por que e como homens comuns são transformados em torturadores e assassinos do Estado? Como os perpetradores de atrocidades explicam e justificam sua violência? Qual é o impacto das suas ações assassinas para eles mesmos, para suas vítimas e para a sociedade? Dos 23 policiais brasileiros entrevistados em profundidade para este estudo seminal, 14 eram perpetradores diretos de tortura e assassinato durante as três décadas que incluíram o regime militar de 1964-1985. Estes "operários da violência" e os membros do grupo de "facilitadores de atrocidades" (que supostamente não participaram diretamente na violência) ajudam a responder às perguntas que assombram o mundo de hoje: por que e como homens comuns são transformados em torturadores e assassinos do Estado? Como os perpetradores de atrocidades explicam e justificam sua violência? Qual é o impacto das suas ações assassinas para eles mesmos, para suas vítimas e para a sociedade?
O que pode a psicologia dentro de uma instituição carcerária para jovens? Em 'Psicologia e Adolescência Encarcerada', o autor aprofunda a denúncia e a compreensão das condições desumanas em que se estruturam essas instituições, buscando, por outro lado, construir e analisar alternativas possíveis para o atendimento à adolescência em conflito com a lei. Por meio da análise de entrevistas com adolescentes internos, motivações que conduzem a atos infracionais são relacionadas ao contexto histórico-cultural, questionando concepções individualizantes e ideológicas. Este livro apresenta experiências de atuação de um psicólogo junto a uma escola que funciona no cárcere. Restritas pela atmosfera asfixiante da prisão, atividades e reflexões conjuntas empreendidas pelo psicólogo e professores buscaram estabelecer ou intensificar espaços de educação como resistência à desumanização ali hegemônica. É possível humanizar esse atendimento?
Em um momento de discussão sobre a maioridade penal no país, bem como de divulgação de dados do Ministério da Justiça mostrando que quase metade da população carcerária nem sequer foi julgada, um livro sobre a garantia do direito à saúde das pessoas privadas de liberdade torna-se bem-vindo. O livro é fruto de uma pesquisa avaliativa com variados segmentos da comunidade prisional – trabalhadores, administradores, visitantes e, inclusive, ex- presidiários – ao longo de mais de um ano, cujos resultados subsidiaram a formulação da atual Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional. O autor destaca o papel da proteção à saúde no SUS em um cenário marcado por superlotação e insalubridade, para além da prevenção de doenças ou mesmo da promoção e recuperação da saúde. Essa obra pioneira sobre saúde penitenciária no Brasil demonstra a importância da intersetorialidade na construção de políticas públicas.
Como a violência se instala nas mentes, em especial a violência contra as mulheres, e que problemas parece falsamente estar resolvendo? Para Jacqueline Rose, essa é uma especulação que precisamos fazer para enfrentar a violência e até mesmo identificá-la, já que muitas vezes ela se manifesta de formas oblíquas como em ajustes legislativos e estratégias econômicas. Para complicar ainda mais, Rose acrescenta, a violência floresce justamente porque criamos formas elaboradas de escondê-la de nós mesmos, embora ela seja constituinte da nossa humanidade.
A Topologia da Violência de Byung-Chul Han caracteriza, sobretudo, aquela transformação do acontecimento da violência que se realiza na mudança da decapitação (sociedade pré-moderna da soberania e do sangue) para a deformação (sociedade moderna da disciplina) até chegar à depressão (sociedade atual do desempenho e do cansaço).
As cláusulas sociais de condenação tanto do incesto como da pedofilia permanecem implacáveis, uma vez que violam elementos primordiais do contrato fundante da civilização ao ignorarem a diferença geracional, a interdição do incesto, a castração simbólica e a submissão à lei da cultura a partir do pacto edípico. As tramas da perversão adulta intrafamiliar quando atingem crianças e adolescentes causam traumas violentos que tecem malhagens catastróficas em seus psiquismos. A singularidade do papel e da atuação do psicanalista em meio a outros discursos aponta a criação de condições para que o sujeito em tratamento psicanalítico invente outras possibilidades afetivas de enfrentar seu trauma, fazendo com que o segredo do abuso sexual deslize da sua faceta de sigilo para a de enigma – e que, como tal, possa instigar o sujeito, ao longo da vida, a distintos níveis de elaboração que darão um destino menos sofrido e mais criativo à sua dor e seu estar no mundo. Este livro reúne contribuições inovadoras ao entendimento do papel do psicanalista para ajudar o paciente a enfrentar as tramas rompidas, enfraquecidas e esburacadas pelo trauma da violência sexual intrafamiliar, Os escritos advindos na sua maior parte de evento sobre o tema, organizado pelo Projeto CAVAS da Universidade Federal de Minas Gerais – instituição que ocupa um lugar importante pela relevância social de suas pesquisas e atendimento clínico no campo psicanalítico dentro da rede multiprofissional e interinstitucional de enfrentamento da violência infanto-juvenil – têm como objetivo discutir a possibilidade de reconstrução de vínculos fundamentais à integridade psíquica do sujeito, da família e da comunidade. Renata Udler Cromberg
Este livro é o quarto volume da Coleção Criminologia de Cordel e faz uma denúncia pública dos abusos, arbitrariedades e violações a garantias constitucionais em favelas do Rio de Janeiro, por parte de policiais das Unidades de Polícia Pacificadora – UPPs. Contém 26 reportagens de Patrick Granja para o jornal A Nova Democracia. A maioria dos artigos possui um vídeo-reportagem correspondente. Vídeos que expõem imagens extremamente elucidativas sobre o ambiente irrespirável da “pacificação”.
A sociedade se acostumou à tragédia. Antes era notícia de televisão, relacionada aos grandes centros, atualmente é realidade pelas ruas: balas perdidas, juras de morte, vidas interrompidas, inocentes atingidos. Jovens executados pelo que se convencionou chamar de guerra do tráfico. São os inconvenientes e os excluídos. Suas mortes, assim como suas vidas, demandam apuração dos diversos campos do conhecimento. As políticas públicas que acessaram ou não são chaves para o início da investigação.
Projetada e inaugurada nas primeiras décadas do século XX, a Penitenciária do Estado de São Paulo, no bairro do Carandiru, foi não só o mais moderno presídio construído no Brasil, como um importante cartão postal da metrópole paulistana. Berço do Direito Positivo, cenário para a aplicação dos mais avançados conceitos de regeneração de condenados, a instituição carcerária maravilhava os inúmeros visitantes locais e estrangeiros, inclusive aqueles que vinham a São Paulo somente para conhecer a Penitenciária.
Das primeiras sociedades humanas até hoje, a desigualdade econômica só diminuiu de forma significativa com rupturas violentas de larga escala. Sem guerras em massa, revoluções transformadoras, falência do Estado ou epidemias catastróficas nunca houve nivelamento real de renda ou riqueza ― os ricos continuaram ricos ou, como nas últimas décadas, ficaram ainda mais ricos, uma vez que sempre resistiram a mudanças profundas alcançadas pacificamente. Com argumentos sólidos, fundamentados por pesquisa detalhada e apresentada com fartura de dados, Walter Scheidel, historiador da Universidade Stanford, chega a uma conclusão ainda mais perturbadora: se atualmente os eventos de violência cataclísmica não parecem ser tão ameaçadores quanto antes, por outro lado as propostas econômicas para reduzir a desigualdade não estão surtindo efeito, e o desequilíbrio econômico e social só tende a aumentar.
Ser Abrasquiano(a) significa não só apoiar a Saúde Coletiva como área de conhecimento, como também compartilhar dos princípios da saúde como um processo social e lutar pela ampliação dos direitos dos cidadãos à saúde pública e de qualidade.