Em meio ao turbilhão de mudanças do mundo global, o racismo permanece intacto e culturalmente irresolúvel. A sua aparente universalização não deixa evidente que são diversos os seus modos de incidência nas diferentes regiões do mundo. O foco de O fascismo da cor é o racismo brasileiro pós-abolicionista, que Muniz Sodré faz coincidir com a emergência do fascismo europeu e com a vigência de uma “forma social escravista” nativa, em que status e brancura tomam o lugar das antigas formas de segregação. Com nova perspectiva dentro da luta antirracista, este é um livro de leitura incontornável.
Em O Gênero do Trabalho Operário Thaís Lapa retoma, de maneira criativa e sólida, o melhor da contribuição que os estudos feministas sobre o processo de trabalho plantaram no inicio dos anos 1980, com as análises de Elizabeth de Souza Lobo, construídas em intenso diálogo, entre outros, com os escritos de Danièle Kergoat e Helena Hirata. Em 1978, Kergoat apontara certeira que o lugar de classe estava longe de produzir comportamentos e atitudes unívocos. Beth Lobo, explorando essa avenida, mostrou à sociologia brasileira os caminhos alternativos ao discurso da homogeneização de classe: afirmou o valor da abordagem concreta das situações de trabalho, a importância de elucidar a dinâmica das relações sociais na produção, sempre guiada por um olhar que valorizava o elo (indissociável) entre trabalho produtivo e reprodutivo. Isso lhe permitiu vislumbrar, pelo ângulo da experiência subjetiva da dominação, as práticas e destinos de operárias e operários. Num momento em que as vicissitudes das crises e das experiências de desemprego duradouro e expulsão do mercado de trabalho tomaram de assalto nossas análises, Thaís Lapa atualiza, em O Gênero do Trabalho Operário, toda a virtualidade desse estilo de análise. Este livro nos capacita a pensar como as experiências e representações das trabalhadoras são um prisma fértil para se entender a natureza das relações de trabalho em segmentos que marcaram a dinâmica da sociedade brasileira. - Nadya Araujo Guimarães (USP) e Jacob Carlos Lima (UFSCAR).
O livro negro dos sentidos é erótica criAção de mulheres negras mobilizadas para organizar, ilustrar, escrever e protagonizar uma obra literária distanciada da objetificação e dos estereótipos comumente associados às ‘corpas’ negras.
Este livro mostra, sinteticamente, o que é o trabalho infantil e até que ponto ele é um instrumento de manutenção da pobreza. Apresenta esforços que vêm sendo feitos para combatê-lo e explica a importância de sua erradicação.
O livro da história negra — mais um volume da série best-seller As grandes ideias de todos os tempos Quais foram os impérios africanos mais poderosos? Quais foram as revoltas ocorridas em solo brasileiro? O que motivou a criação do movimento Vidas Negras Importam? Escrito em linguagem simples e ricamente ilustrado, O livro da história negra responde essas e muitas outras questões, mostra a rica e complexa história dos povos da África e da diáspora africana, além das lutas e vitórias do povo negro ao redor do mundo. A obra traz à luz histórias normalmente ignoradas e está repleta de citações memoráveis de grandes personalidades, como Nelson Mandela, Zumbi dos Palmares, Angela Davis, Martin Luther King, Sueli Carneiro, Barack Obama e Marielle Franco. Além disso, esta edição também traz conteúdo exclusivo sobre eventos da história brasileira, como a revolta dos negros na Bahia durante a escravidão e a resistência negra à ditadura militar e sua importância para a luta pela democracia.
A chegada de um bebê provoca uma verdadeira revolução. As modificações que acompanham o nascimento aparecem não apenas na rotina, mas também no corpo e na mente das pessoas responsáveis pelo cuidado. Embora as recomendações e os conselhos frequentemente recaiam sobre a relação entre mãe e filho(a), essa capacidade não é específica ao gênero feminino. Atribuir a responsabilidade unicamente à mulher ignora que aquele pequeno ser, vulnerável e não verbal, é fruto de um contexto maior – familiar, social e político.
Baseado em uma etnografia da CPI da Pedofilia no Senado Federal e das investigações da Polícia Federal no combate à pornografia infantil, o livro se aprofunda na construção histórica das categorias criminais que remetem, hoje, à violência sexual envolvendo menores. Sob um viés antropológico, procura debater as dinâmicas sociais, culturais e morais que moldam a configuração do problema da violência sexual contra crianças e adolescentes, a partir da categoria pedofilia.
A compreensão dos saberes produzidos, articulados e sistematizados pelo Movimento Negro e de Mulheres Negras tem a capacidade de subverter a teoria educacional, construir a pedagogia das ausências e das emergências, repensar a escola, descolonizar os currículos e dar visibilidade às vivências e práticas dos sujeitos. Ela poderá nos levar ao necessário movimento de descolonização do conhecimento. Este trabalho tem como tese principal o papel do Movimento Negro brasileiro como educador, produtor de saberes emancipatórios e um sistematizador de conhecimentos sobre a questão racial no Brasil. Saberes transformados em reivindicações, das quais várias se tornaram políticas de Estado nas primeiras décadas do século XXI.
O livro “O Mundo dos Alimentos em Transformação” faz jus à ambição do seu título e nos apresenta uma análise detalhada das principais forças que impulsionam uma possível transformação na organização e no conteúdo do sistema agroalimentar global. A crise climática, com as suas secas e enchentes cada vez mais devastadoras, a experiência do colapso de sistemas de fornecimento alimentar no período da covid-19, os impactos negativos na saúde individual e pública, bem como a enorme contribuição da produção em escala industrial de carnes para os gases de efeito estufa, todas testemunham a insustentabilidade das formas dominantes de produção dos nossos alimentos e da sua organização global.
"A terra é meu quilombo. Meu espaço é meu quilombo. Onde eu estou, eu estou. Onde eu estou, eu sou." Nesta coletânea cuidadosamente organizada pelo professor da Universidade Federal de Goiás Alex Ratts, a leitora encontrará textos críticos, entrevistas e a prosa poética de Beatriz Nascimento – intelectual e ativista negra que marcou o universo artístico-cultural da diáspora africana e a história do movimento negro no cenário nacional. Neles, Beatriz tece sérias reflexões que oferecem uma imagem prismática não só da experiência íntima das pessoas negras na universidade e na cena cultural brasileira como também das representações midiáticas e historiográficas que lhes são devolvidas dia após dia por uma sociedade racista e em negação quanto ao próprio racismo. Como existir em um contexto em que a própria existência – passada, presente e futura – é cotidianamente negada? Em que consiste o esforço para estabelecer a própria imagem, reivindicar o próprio imaginário? São essas algumas das perguntas implícitas em O negro visto por ele mesmo, registro precioso sobre o que é ser negro, e se perceber negro, no Brasil. A edição também conta com prefácio de Alex Ratts, posfácio de Muniz Sodré, orelha de Renata Martins e quarta capa de Bethania Nascimento Freitas Gomes.
Ó pa í, prezada: racismo e sexismo institucionais tomando bonde nas penitenciárias femininas é o segundo livro de Carla Akotirene, que também publicou Interseccionalidade, pela coleção Feminismos Plurais. Nele, a autora se baseia numa metodologia afrocentrada para colher e analisar dados sobre a ausência de políticas públicas em gênero e raça para mulheres encarceradas em Salvador. Este estudo é um retrato fiel e necessário do panorama geral das penitenciárias brasileiras e traz luz a uma conjuntura à qual precisamos estar atentos, enquanto sociedade em que o encarceramento em massa, especialmente da população negra e pobre, é uma epidemia.
Neste livro poderoso, Cida Bento ― eleita em 2015 pela The Economist uma das cinquenta pessoas mais influentes do mundo no campo da diversidade ― denuncia e questiona a universalidade da branquitude e suas consequências nocivas para qualquer alteração substantiva na hierarquia das relações sociais. Diante de dezenas de recusas em processos seletivos, Cida Bento identificou um padrão: por mais qualificada que fosse, ela nunca era a escolhida para as vagas. O mesmo ocorria com seus irmãos, que, como ela, também tinham ensino superior completo. Por outro lado, pessoas brancas com currículos equivalentes ― quando não inferiores ― eram contratadas.
A gestação, o parto e o pós-parto vivenciados por mulheres adeptas da religião Daime é a principal investigação de O Parto na Luz do Daime: corpo e reprodução entre mulheres na vila Irineu Serra, título da coleção Antropologia e Saúde. Escrita pela antropóloga Juliana Barretto, a obra é fruto da tese de doutorado defendida pela autora, em 2019, no Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O título entrelaça a cultura do daime no Acre e a assistência ao parto de mulheres “oasqueiras”, que fazem uso da Ayahuasca – bebida produzida a partir da combinação de ervas psicoativas da Amazônia, que também pode ser chamada de daime – no ritual da crença adotada.
O patriarcado do salário, da filósofa italiana Silvia Federici, traz ao leitor uma série de artigos que abordam a relação entre marxismo e feminismo do ponto de vista da reprodução social. Retomando diversas discussões presentes nas obras de Karl Marx e Friedrich Engels, a autora aponta como a exploração de trabalhos como o doméstico e o de cuidados, exercido sem remuneração pelas mulheres, teve e tem papel central na consolidação e na sustentação do sistema capitalista.Revisitando a crítica feminista ao marxismo e trazendo para o debate perspectivas contemporâneas sobre gênero, ecologia, política dos comuns, tecnologia e inovação, Federici reafirma a importância da linguagem, dos conceitos e do caráter emancipador do marxismo. Ao mesmo tempo, esclarece por que é preciso ir além de Marx e repensar práticas, perspectivas e ativismo a fim de superar a lógica social baseada na propriedade privada e desenvolver novas práticas de cooperação social.
“Lésbicas não são mulheres.” Este livro reúne textos políticos, filosóficos e literários de Monique Wittig, uma das mais importantes e influentes escritoras feministas francesas. Ela argumenta que a categoria “sexo” é em si política e que a heterossexualidade é um regime político forçado. Teórica do feminismo materialista, Wittig acreditava ser necessário ter clareza das que as mulheres são uma classe social e reconhecer “mulher” e “homem” como categorias políticas e econômicas, que existem por causa de sua relação uma com a outra. Aprofundando essa ideia, ela conclui, no ensaio que dá título ao livro: “Lésbicas não são mulheres”.
Os direitos humanos só poderão ressignificar-se a partir de respostas a perguntas simples: Porque há tanto sofrimento humano injusto que não é considerado uma violação dos direitos humanos? Que outras linguagens de dignidade humana existem no mundo? Essas outras linguagens são ou não compatíveis com a linguagem dos direitos humanos? O presente volume reúne 21 textos que retratam o diálogo de investigadores e investigadoras de todos os continentes, que nos confrontam com temas e realidades sociais que nos convidam a pensar o lugar dos direitos humanos nas lutas contra o capitalismo, o colonialismo e o patriarcado.
Nessa obra partimos da hipótese de que associado à recuperação econômica da região metropolitana do Rio de Janeiro em meados da década de 1990 estaria ocorrendo um processo de reestruturação espacial, marcado pela ocorrência da dispersão metropolitana e da reconfiguração da centralidade metropolitana. Na região metropolitana do Rio de Janeiro, a reestruturação espacial se evidencia a partir de um ponto de ruptura nas tendências seculares de concentração econômica e populacional na metrópole.
Eu hesitei por algum tempo em publicar um volume de ensaios voltado exclusivamente para a questão da “reprodução”, já que me parecia artificialmente abstrato separá-la dos variados temas e lutas aos quais tenho dedicado meu trabalho ao longo de tantos anos. Há, no entanto, uma lógica por trás do conjunto de textos nesta coletânea: a questão da reprodução, compreendida como o complexo de atividades e relações por meio das quais nossa vida e nosso trabalho são reconstituídos diariamente, tem sido o fio condutor dos meus escritos e ativismo político. A confrontação com o “trabalho reprodutivo” — entendido, primeiramente, como trabalho doméstico — foi o fator determinante para muitas mulheres da minha geração, que cresceram após a Segunda Guerra Mundial. Depois de dois conflitos mundiais que, no intervalo de três décadas, dizimaram mais de 70 milhões de pessoas, os atrativos da domesticidade e a perspectiva de nos sacrificarmos para produzir mais trabalhadores e soldados para o Estado não faziam mais parte do nosso imaginário. Na verdade, mais do que a experiência de autoconfiança concedida pela guerra a muitas mulheres — simbolizada nos Estados Unidos pela imagem icônica de Rosie the Riveter [Rosie, a rebitadeira] —, o que moldou nossa relação com a reprodução no pós-guerra, sobretudo na Europa, foi a memória da carnificina na qual nascemos. Este capítulo da história do movimento feminista internacional ainda precisa ser escrito. No entanto, ao recordar-me das visitas que fiz com a escola, ainda criança na Itália, às exposições nos campos de concentração, ou das conversas na mesa de jantar sobre a quantidade de vezes que escapamos de morrer bombardeados, correndo no meio da noite à procura de abrigo sob um céu em chamas, não posso deixar de me questionar sobre o quanto essas experiências pesaram para que eu e outras mulheres decidíssemos não ter filhos nem nos tornar donas de casa. […] Atualmente, sobretudo entre mulheres mais jovens, essa problemática pode pa
A nova edição de O privilégio da servidão, do sociólogo e professor Ricardo Antunes, apresenta um retrato detalhado e atualizado da classe trabalhadora hoje, com as principais tendências das novas relações trabalhistas, em que precarizações, terceirizações e desregulamentações tornaram-se parte da regra, e não da exceção. O estudo apresenta uma análise minuciosa das mudanças nas relações de trabalho durante a história recente do país, desde a redemocratização até os primeiros meses de Jair Bolsonaro no poder passando pelo impeachment de Dilma Rousseff e pelo governo de Michel Temer. O eixo central da obra busca compreender a explosão do novo proletariado de serviços, que se desenvolve com o trabalho digital, online e intermitente. A nova edição do livro conta com um tópico inédito, que procura indicar algumas causas e elaborar significados para a vitória da extrema direita nas eleições de outubro de 2018. Antunes mostra como esse episódio viria a revelar a nada esdrúxula combinação entre autocracia tutelada e neoliberalismo exacerbado do governo Bolsonaro: Trata-se da sujeição completa aos imperativos mais virulentos e destrutivos do capital e, por consequência, da devastação integral das forças sociais do trabalho.
Em O propósito do poder, a cocriadora do #BlackLivesMatter Alicia Garza, reflete sobre as origens e desdobramentos da organização social. O Black Lives Matter começou em 2013, quando Alicia Garza escreveu o que ela chamou de “uma carta de amor aos negros” no Facebook após a absolvição do homem que assassinou Trayvon Martin. “Nossas vidas importam”, escreveu ela. Em pouco tempo, #BlackLivesMatter se tornou a hashtag mais vista e ouvida em todo o mundo. No entanto, muito antes de criar o slogan que marcaria nossa época, a autora passou duas décadas aprendendo e desaprendendo lições difíceis sobre mobilização e organização social. O propósito do poder entrelaça essas lições com a experiência de vida da autora como mulher negra que se descobre ativista social e queer.
Patrícia nos leva a uma dança por entre os movimentos da capoeira e a ginga que o Quilombo dos Machado aciona nas lutas contra o racismo. Com uma narrativa fluida e contundente, apresenta a potencia pedagógica da capoeira na defesa do território, construindo estratégias de afirmação da vida frente as políticas de morte que assombram os corpos quilo9mbolas. Neste m omento em que o planeta clama por alternativas à lógica destrutiva do capital, este livro pincelça possibilidades reais de criação de vidsas guiadas pela coletiviidade ancestral afro-brasileira. Gingando com as palavras, é um respiro n o fazer científico e nos fala da abertira de amanhos epistemológicos que acontece com a presença negra nas universidades.
Em O Rei Momo e o Arco-Íris, o antropólogo Fabiano Gontijo apresenta os resultados de uma vasta pesquisa etnográfica empreendida ao longo da década de 90, na qual procura compreender os significados do carnaval para aqueles “que mantêm relações sexuais preferencialmente com pessoas do mesmo sexo”. A definição, segundo o autor, permite manter clara a distinção teórica fundamental entre desejos e práticas sexuais, por um lado, e as identidades, por outro. Entendendo o carnaval como um ritual, Fabiano Gontijo observa a festa do Rei Momo como um lugar de produção de sentido e de fabricação de identidades. O autor argumenta que situações ritualizadas, como as que compõem o carnaval, produzem, muito mais do que a vida cotidiana, “a formulação e reformulação da diversidade de identidades ou de identificações homossexuais”. O pesquisador mergulha no carnaval dos blocos e das bandas, dos bailes de salão e bailes off e dos ensaios e desfiles das escolas de samba para ver o que está por baixo do panos, literal e simbolicamente! Nesta versão reduzida de sua tese de doutorado - defendida na École des Hautes Études en Sciences Sociales –, Gontijo dá destaque aos dados sobre os blocos e bandas e sobre os bailes. O material compõe, possivelmente, a primeira história social das bandas e blocos e dos bailes carnavalescos cariocas.
Quando conheci Daniela Fernandes Alarcon, em Brasília, em 2010, convidei-a para vir à aldeia tupinambá da Serra do Padeiro. Na época, estávamos organizando o nosso Seminário de Juventude, e propus que ela participasse. Daniela se encantou pelas paisagens, tomou banho de rio, comemos frutas do pé. Nessa visita, ela falou da possibilidade de realizar uma pesquisa aqui, com o meu povo, para estudar as retomadas de terras, caso nós aprovássemos. A sua proposta de trabalho foi discutida na aldeia, com as lideranças e os outros parentes, e aprovada. Depois, o projeto de pesquisa foi apresentado para a universidade. Nós nunca imaginaríamos a proporção e a repercussão que a sua pesquisa teria. Pensávamos que seria apenas mais um trabalho. Glicéria Tupinambá, no prefácio.
As mulheres negras são estereotipadas e subvalorizadas na historiografia do samba. Para fazer uma releitura da história que corrija esse viés, propõe-se a figura da ialodê, extraída da tradição afro-brasileira, como chave de leitura para deslocar os estereótipos das mulheres negras na historiografia e destacar sua ação protagônica no samba. O objetivo é compreender diferentes aspectos da participação das mulheres negras nesse campo da cultura midiática que é a música popular e o samba. Para tanto se analisam as disputas por hegemonia implícitas na historiografia da música popular e do samba; se apresenta uma biografia analítica de três sambistas negras (Leci Bandão, Alcione e Jovelina Pérola Negra); e se analisa a obra destas mulheres, a partir de aspectos de gênero e raça. Em conclusão, ao comparar o senso comum sobre o samba com uma leitura centrada na ialodê, desnaturalizam-se as versões correntes das origens do samba e de sua dinâmica na era da indústria cultural.
Qual é o sentido da liberdade? Ao longo de décadas de trabalho, a filósofa Angela Davis se dedica a analisar a questão que dá título a este livro e a propor caminhos para extinguir todas as formas de opressão que negam aos sujeitos liberdade política, cultural e sexual. Publicados pela primeira vez em português, os doze textos que compõem o livro foram palestras realizadas por Angela Davis entre 1994 e 2009 e abordam a relação entre neoliberalismo, racismo, opressões de gênero e classe e o fenômeno da expansão da indústria da punição (ou complexo industrial-prisional) nos Estados Unidos. É a partir dessa inter-relação que a autora analisa fatos históricos da sociedade estadunidense, como a guerra no Iraque, o 11 de Setembro, a eleição de Barack Obama, o movimento pelos direitos civis e a importância da luta coletiva – em especial das comunidades negras, LGBTQIA+ e de mulheres – para repensar e ampliar o sentido da liberdade. Apresentando o assunto de forma ágil e acessível, a autora explora a noção radical de liberdade como um esforço coletivo em prol de uma verdadeira democracia, que exige novas formas de pensar e ser. “Para Davis, a liberdade não é algo concedido pelo Estado na forma de lei, decreto ou norma; a liberdade é batalhada, é duramente disputada e transformadora, é um processo participativo que exige novas formas de pensar e de ser”, escreve Robin D. G. Kelly na apresentação.
De Mariana a Brumadinho, os últimos anos foram marcados por “acidentes” ambientais promovidos pela mineradora Vale S.A. O solo movediço da globalização, do sociólogo Thiago Aguiar, é resultado de uma ampla pesquisa sociológica, econômica e etnográfica, conduzida em dois países com forte presença da gigante mineradora, Brasil e Canadá. O autor foi a campo e conversou com trabalhadores, dirigentes sindicais, gestores e ex-gestores da empresa para mostrar as mudanças nas relações de trabalho ao longo dos anos, a reestruturação das operações da Vale no Canadá, após a compra da Inco em 2006, que levou à maior greve no setor privado daquele país em trinta anos, além das recentes transformações na estrutura de propriedade e na “governança corporativa” da Vale. Com consequências devastadoras para trabalhadores, comunidades e meio ambiente, o caso da Vale S.A. é um exemplo da desastrosa integração da economia brasileira ao capitalismo global nas primeiras décadas do século XXI. No livro, o autor narra em detalhes a complexa transformação da Vale, uma tradicional empresa estatal umbilicalmente associada ao ciclo industrializante do país, em uma grande corporação mundial na liderança da produção de minério de ferro e de níquel. “Neste livro, Thiago Aguiar nos oferece uma oportunidade ímpar para compreendermos catástrofes como as de Mariana e Brumadinho, e agirmos a fim de evitar que elas se repitam no futuro. De fato, o lado sombrio da globalização capitalista foi iluminado por esta obra politicamente radical e sociologicamente instigante. A urgente resposta da sociedade às ameaças trazidas para nossa existência pela financeirização capitalista se fortalece com livros como este. Lê-lo e debatê-lo são tarefas estratégicas para todos os que lutam por uma sociedade justa e ambientalmente sustentável”, escreve o professor Ruy Braga no prefácio da obra.
Nascer, crescer e adoecer são experiências inscritas em um determinado momento histórico e contexto social. E o adoecimento infantil vem, nas últimas décadas, sofrendo alterações: com os avanços tecnológicos e clínicos constituídos desde então, observa-se uma transição do perfil agudo para um perfil crônico, com longa duração e demandas de cuidados contínuos. Essa nova realidade impacta na vida das famílias, no cotidiano hospitalar, nas redes de serviços e nas políticas públicas. O livro pretende assim apresentar e discutir tais questões, instrumentalizando os profissionais que trabalham nesse segmento aos novos desafios postos pela realidade social.
Aprofundar a discussão sobre os fundamentos do trabalho no Brasil contemporâneo, relacionando-a ao trabalho e à educação dos trabalhadores na área da saúde: esta é proposta do presente livro, que completa uma trilogia sobre trabalho, educação e saúde, junto com os títulos Fundamentos da Educação Escolar no Brasil Contemporâneo (2006) e Estado, Sociedade e Formação Profissional em Saúde (2008). Os três volumes têm como objetivo “elucidar o processo histórico que vem conformando o campo do trabalho, da educação e da saúde no Brasil segundo a perspectiva da luta de classes contemporânea, constituindo materiais que podem contribuir para a organização e o acúmulo de forças da classe trabalhadora”. A nova coletânea está organizada em cinco eixos temáticos: o trabalho no mundo contemporâneo, as mudanças no mundo do trabalho e seus impactos na área da saúde; os trabalhadores da saúde e seus desafios e lutas; o trabalho e a educação profissional em saúde; e a saúde do trabalhador e a saúde do trabalhador da saúde. Ao longo dos capítulos, apresenta-se o trabalho no mundo contemporâneo nos seus aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais, com aportes de conhecimentos da sociologia do trabalho, da história social, do serviço social, da saúde coletiva, da ergonomia e do trabalho e da educação em saúde. Destaca-se como “preocupação central a reflexão sobre o trabalho e a educação profissional em saúde no campo de lutas pela emancipação das formas e relações de exploração e dominação vigentes”.
Na coletânea de ensaios críticos reunidos em Olhares negros, bell hooks interroga narrativas e discute a respeito de formas alternativas de observar a negritude, a subjetividade das pessoas negras e a branquitude. Ela foca no espectador em especial, no modo como a experiência da negritude e das pessoas negras surge na literatura, na música, na televisão e, sobretudo, no cinema, e seu objetivo é criar uma intervenção radical na forma como nós falamos de raça e representação. Em suas palavras, os ensaios de Olhares negros se destinam a desafiar e inquietar, a subverter e serem disruptivos. Como podem atestar os estudantes, pesquisadores, ativistas, intelectuais e todos os outros leitores que se relacionaram com o livro desde sua primeira publicação, em 1992, é exatamente isso o que estes textos conseguem.
O valor da informação é um estudo inédito e provocador que examina três grandes processos em curso na sociedade capitalista contemporânea: a apropriação do conhecimento pelos direitos de propriedade intelectual, a geração de valor por trabalho não pago dos usuários nas plataformas e redes sociais da internet e a produção e apropriação de rendas informacionais por meio do espetáculo audiovisual, com foco nos grandes campeonatos de futebol. Com a ótica da teoria marxiana do valor-trabalho aplicada à teoria da informação, os autores apresentam temas extremamente atuais e com o mérito de unir uma teoria tradicional e consagrada a práticas absolutamente modernas – um tema já tratado de forma esparsa por outros autores, mas pela primeira vez reunido de forma consistente e aprofundada numa única publicação. Entre outras considerações, é colocada uma questão central para reflexão: a informação é uma mercadoria? Nos três eixos da obra, são expostos os grandes conglomerados empresariais, suportados pelo capital financeiro, que comandam o trabalho de artistas, cientistas e mesmo da sociedade em geral, por meio da apropriação do mais-valor que geram graças à constante troca de informações. “Hoje em dia, não há como negar que a informação foi reduzida a mercadoria e, assim, entendida acriticamente pelo senso comum. Também avançou, nos últimos trinta ou quarenta anos, no conjunto do mundo capitalista, um amplo processo de privatização dos serviços públicos. Nas últimas quatro ou cinco décadas, o capital veio fazendo da informação o alfa e o ômega de suas relações de produção e consumo”, comentam os autores na introdução da obra.
A saúde de mulheres e crianças tem sido considerada prioridade para as políticas públicas com o objetivo de promover que esta população alcance, por meio do cuidado em saúde, as melhores condições de vida. São objetivos específicos centrais das políticas para esses grupos a redução da mortalidade materna, infantil e neonatal e o desenvolvimento de ações que garantam as boas práticas clínicas e minimizem as desigualdades regionais. Diferentes iniciativas têm se somado para alcançar melhores resultados e melhor qualidade da atenção a esse público. Este livro busca contribuir com essas iniciativas e para isso conta com olhares de diferentes atores envolvidos na construção de melhor atenção à saúde de mulheres e crianças. São profissionais do fazer da assistência que oportunizam reflexões importantes ao campo acadêmico e da gestão sobre a saúde de mulheres e crianças.
Esta obra fornece um amplo panorama dos debates e dilemas sobre o tema. Em seu cerne há duas indagações: a que interesses deve responder a oferta de auxílios a crianças diagnosticadas como autistas e suas famílias? O objetivo maior não deveria ser explorar e desenvolver o mais plenamente possível as potencialidades de tais crianças, em todos os sentidos? As questões permeiam a análise de duas instituições de atendimento a crianças autistas, que representam duas concepções a respeito do autismo, a comportamental e a psicanalítica. A autora também investiga os caminhos que levam a um ou outro tipo de atendimento, destacando o papel fundamental e decisivo do olhar que cada envolvido nesse universo – pais, professores e profissionais da área da saúde - dirige ao portador de autismo.
Esta obra faz uma reconstituição inédita do histórico da luta pela eliminação da queima da palha da cana-de-açúcar no estado de São Paulo, procurando abarcar todos os seus enfrentamentos.
Dos 23 policiais brasileiros entrevistados em profundidade para este estudo seminal, 14 eram perpetradores diretos de tortura e assassinato durante as três décadas que incluíram o regime militar de 1964-1985. Estes "operários da violência" e os membros do grupo de "facilitadores de atrocidades" (que supostamente não participaram diretamente na violência) ajudam a responder às perguntas que assombram o mundo de hoje: por que e como homens comuns são transformados em torturadores e assassinos do Estado? Como os perpetradores de atrocidades explicam e justificam sua violência? Qual é o impacto das suas ações assassinas para eles mesmos, para suas vítimas e para a sociedade? Dos 23 policiais brasileiros entrevistados em profundidade para este estudo seminal, 14 eram perpetradores diretos de tortura e assassinato durante as três décadas que incluíram o regime militar de 1964-1985. Estes "operários da violência" e os membros do grupo de "facilitadores de atrocidades" (que supostamente não participaram diretamente na violência) ajudam a responder às perguntas que assombram o mundo de hoje: por que e como homens comuns são transformados em torturadores e assassinos do Estado? Como os perpetradores de atrocidades explicam e justificam sua violência? Qual é o impacto das suas ações assassinas para eles mesmos, para suas vítimas e para a sociedade?
O mundo passou por transformações nos últimos três séculos. O comportamento humano bom ou mau sempre existirá, porém, hoje, com o avanço da tecnologia, o oculto se torna transparente, visto e conhecido dos povos. Esse conhecimento deve-se à evolução dos meios de comunicação. Esta é responsável por fazer o mundo e as pessoas mais próximas conhecedores dos acontecimentos ocorridos nos quatro cantos do planeta. Assim, hoje, em questões de segundos, tem-se ciência de fatos ocorrentes na China, na África, na Europa ou na América Latina. Nesse diapasão as sociedades aprendem como efetivar tratamento humanitário - isto é, direitos humanos - e representar o ser humano como a espécie mais importante na Terra, porquanto constitui o elemento que comanda e é comandado pelas regras, pelas leis e direitos. Não adianta falar em tudo isso se não se promover e classificar o ser humano como o sujeito necessário para a realização do convívio de relações sociais, razão pela qual se torna a figura preocupante da Sociologia. Esta ciência estuda no indivíduo seu comportamento, seu relacionamento, sua comunicabilidade, sua integração com outras pessoas, enfim, a influência exercida na interação com outros seres. A interação e a comunicação fazem nascer nas pessoas a vontade de se unir, formar grupo, organização ou entidade com vistas à realização de propósitos em prol de uma comunidade, de uma cidade, de um país e, até mesmo, de diversos países. Nessa direção estão as ONGs internacionais, formadas por pessoas de diversas partes do mundo, mas unidas e harmônicas porque tocam e cantam a mesma melodia - a de servir à humanidade, sem preconceito, mas com o interesse de efetivar o bem comum, defender os menos favorecidos da sociedade. Trilham, assim, nesse caminho fértil, com vistas à felicidade de todos os povos e à paz; pregam, ainda, a tolerância, a compreensão, o bem-estar comum das sociedades, a igualdade e as liberdades. O lema dessas organizações é construir um mundo melhor, sem discrimi
Os temas do associativismo e do mutualismo – uma das manifestações associativas – têm ganhado crescente interesse nos últimos anos e já contam com uma produção, em forma de dissertações, teses, artigos e livros, relevante. Os seus nove capítulos reúnem contribuições de alguns dos pesquisadores dessas temáticas, que cobrem um período de mais de um século e abordam experiências associativas em diferentes partes do Brasil. Os textos dos capítulos foram previamente apresentados em versões preliminares em um seminário reunindo todos os autores, e com isso foram beneficiados pelas sugestões surgidas da discussão coletiva. Antes desta versão final, os textos passaram ainda pela revisão dos organizadores da coletânea, que lhes acrescentaram novas sugestões. As sucessivas de lapidações das diversas contribuições assegurou a qualidade do conjunto, e esta coletânea certamente trará um avanço importante aos estudos sobre o associativismo.