Em O discurso do avesso, Ruy Moreira, um dos mais renomados geógrafos da atualidade, reflete sobre a força e a responsabilidade do ensino de Geografia – saber que hoje se destaca entre os que mais problematizam o mundo em que vivemos. Para dar conta da amplitude do tema, o autor divide o livro em nove capítulos e discute respectivamente: o contexto das ideias geográficas atuais; os fundamentos dessas ideias; sua estrutura tradicional; o papel originário das chamadas “sociedades de Geografia” e das universidades; as instituições e manuais de ensino no Brasil (em especial, o livro didático); a definição do conteúdo programático e a visão de mundo da Geografia que se ensina; a concepção de Brasil a partir da Geografia que se ensina; as tendências ideológicas e estruturais do sistema universitário e escolar no nosso país. Por fim, no último capítulo, faz um balanço retrospectivo-projetivo da ciência e do ensino geográfico. Além de dar destaque à interação entre universidade e escola no desenvolvimento do currículo da Geografia, Ruy Moreira evidencia o papel de ponte que as instituições de ensino exercem ao difundir esse conhecimento para a sociedade como um todo. Assim, este livro estimula uma reflexão crítica e constitui uma importante ferramenta na formação de professores de todos os níveis, principalmente aqueles que procuram compreender com mais profundidade a situação do ensino de Geografia no Brasil.
O mundo que sairá do Covid-19 seguramente não será o mesmo. O confinamento social, por mais duro que tenha sido, nos permitiu muitas reflexões e também decisões de como devemos operar grandes mudanças para que não se repita o que estávamos vivendo: uma acumulação absurda de riqueza em poucas mãos e grande parte da humanidade padecendo pobreza, fome e miséria. Esta situação é conseqüência da forma como resolvemos viver nos últimos três séculos. Sentíamo-nos como donos da natureza, explorando-a ilimitadamente, esquecendo que somos parte dela.
O livro negro dos sentidos é erótica criAção de mulheres negras mobilizadas para organizar, ilustrar, escrever e protagonizar uma obra literária distanciada da objetificação e dos estereótipos comumente associados às ‘corpas’ negras.
O ecologismo dos pobres é uma importante e profunda contribuição para debates sobre meio ambiente, política e economia. Com a intenção explícita de auxiliar a estabelecer dois campos de estudos emergentes - ecologia política e economia ecológica -, o autor investiga as relações entre as duas áreas. Além disso, traça um panorama do aumento das tensões pelo acesso a recursos naturais e da relação entre progresso econômico e uso do meio ambiente. Livro imperdível para ambientalistas, geógrafos, técnicos, pesquisadores, estudantes e profissionais da economia ecológica e para todos aqueles que se interessam pelos conflitos ambientais.
Quais foram as contribuições de Karl Marx ao que chamamos hoje de ecossocialismo. O pensador alemão analisava a relação entre homem e natureza. É possível construir o socialismo em planeta arrasado A obra do filósofo Kohei Saito, além de ser uma contribuição essencial para os debates sobre a contradição entre um sistema capitalista e a preservação da natureza, é um minucioso estudo da evolução dos trabalhos de Marx em relação ao tema homem e natureza. Saito apresenta ao leitor o caminho traçado por Marx para abandonar a ideia de que a produtividade agrícola poderia aumentar indefinidamente no socialismo. “Se em 1844 Marx demonstrava preocupação com a cisão entre ser humano e natureza impulsionada pelo capitalismo, em 1865 escrevia a Engels sobre seu interesse em química e fertilidade do solo. A partir dessa análise, Marx nos entrega elementos para a discussão de ruptura metabólica que nos permite questionar os limites ecológicos do sistema capitalista e, ao mesmo tempo, criticar os impactos da agricultura em larga escala”, diz Sabrina Fernandes no prefácio da obra. O trabalho de Saito não tem como objetivo afirmar que toda e qualquer análise de Marx partia de uma visão ecossocialista e sim servir de ferramenta às contribuições feitas por ele à época. O princípio do ecossocialismo de Karl Marx existe porque ‘o socialismo de Marx prevê uma luta ecológica contra o capital’. Se entendermos ecossocialismo sob essa luz, a verdade é que nem todo socialismo é ecossocialismo, mas seria um avanço se fosse, pontua Fernandes.
“Chega de doutrinação marxista, basta de Paulo Freire!” Era comum encontrar frases assim nas manifestações contra o governo Dilma Rousseff, em 2015. Com a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições de 2018, as críticas a Freire ganharam reforço contundente. O educador, perfil biográfico de Paulo Freire, traz sobriedade a esse debate contaminado pela polarização ideológica; recupera a experiência exitosa de alfabetização em Angicos, no Rio Grande do Norte, às vésperas do golpe de 1964; e conta em detalhe a perseguição que Freire sofreu dos militares.
O livro trata dos encontros entre o antropólogo Anthony Leeds, os jovens voluntários da agência norte-americana de cooperação técnica Peace Corps no Brasil, dentre as quais, Elizabeth Plotkin, depois Leeds, os estudantes do então recém-inaugurado Programa de Antropologia Social do Museu Nacional e os moradores das favelas do Rio de Janeiro, notadamente o Jacarezinho, na década de 1960. Com Elizabeth, posteriormente, Anthony Leeds irá escrever A Sociologia do Brasil Urbano, que se tornará um clássico da etnografia urbana brasileira. Essas convergências tiveram papel fundamental na construção dos estudos urbanos no Rio de Janeiro. Oriundo de produção acadêmica consagrada em 2020 pelo Prêmio Oswaldo Cruz de Teses, na categoria Ciências Sociais e Humanas, a obra teve como um de suas fontes principais, o acervo, hoje aberto à consulta, doado por Elizabeth Leeds ao Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz (COC/Fiocruz), como notas de campo, cartas e outros documentos.
O "Erro Humano e a Segurança do Paciente" é livro coordenado por equipe de enfermeiros, mestres e doutores do Departamento de Enfermagem da Escola Paulista de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo, UNIFESP, a que se agrega equipe multidisciplinar, constituída por antropólogos sociais, advogado, farmacêuticos e pediatras. Seus objetivos são: a. o estudo do erro médico – cujos conhecimentos ao se considerar a multidisciplinaridade – apresentam percepções compreensivelmente diver-sas e que não obstante estas diferenças convergem para inclusão dentro de um processo (constituído pelos elos das ações de saúde) e que se desenvolvem individualmente por cada profissional. Ou seja, o erro aparece quando o processo é ignorado, desconhecido e não praticado. b. transmissão – para os profissionais da área da Saúde, gestores e socie-dade de informações que possibilitem criar ações transformadoras.
Qual o papel desempenhado pelo espaço público na cidade hoje? Por que poucos se beneficiam desse tipo de espaço teoricamente comum a todos? O espaço público na cidade contemporânea traça uma análise crítica do que ocorre hoje nas grandes cidades. Valendo-se de uma variedade de exemplos, o autor analisa o espaço público como arena de ação política de intervenção urbana e como mercadoria para consumo de poucos. Desafio para a geografia, assim como para outras áreas, o uso do espaço público hoje é tema de debates acalorados em todas as metrópoles e cidades médias.
Com a publicação de A queda do céu, Davi Kopenawa e Bruce Albert empreenderam uma verdadeira revolução, cujo impacto pode ser sentido até hoje. Os autores tiveram também uma considerável contribuição nas grandes transformações do pensamento ecológico contemporâneo, que descontruiu o conceito de Natureza e já não mais distingue povos humanos e não humanos. Produzida entre 2000 e 2020 por ocasião de várias exposições realizadas em Paris pela Fundação Cartier, conjuntamente com os habitantes da casa coletiva yanomami de Watoriki (a serra do Vento), a presente coletânea reúne uma vasta trama de reflexões e diálogos que, a partir do saber xamânico dos Yanomami, evoca, sob diversas perspectivas, as imagens e os sons da floresta, a complexidade de sua biodiversidade e as implicações trágicas de sua destruição.
A meta principal desta obra é facilitar a compreensão do curso de Medicina para os acadêmicos. Constituído de três partes, na primeira explicitam-se os capítulos teóricos sobre a formação médica; na segunda, descreve-se de forma básica o ciclo vital humano de médicos e pacientes; e, na terceira, temos as vivências de estudantes e médicos com seus pacientes.
Em meio ao turbilhão de mudanças do mundo global, o racismo permanece intacto e culturalmente irresolúvel. A sua aparente universalização não deixa evidente que são diversos os seus modos de incidência nas diferentes regiões do mundo. O foco de O fascismo da cor é o racismo brasileiro pós-abolicionista, que Muniz Sodré faz coincidir com a emergência do fascismo europeu e com a vigência de uma “forma social escravista” nativa, em que status e brancura tomam o lugar das antigas formas de segregação. Com nova perspectiva dentro da luta antirracista, este é um livro de leitura incontornável.
Integrante da coleção História e Saúde da Editora Fiocruz, o livro desenvolve uma narrativa histórica de chegada, alastramento e erradicação do Anopheles gambiae, que teve origem em Dacar, capital do Senegal, e chegou ao Brasil pelo Rio Grande do Norte. O mosquito causou uma epidemia de malária sem precedentes no Brasil no início dos anos 1930 e, após esforços cooperativos entre o governo brasileiro de Getúlio Vargas e a Fundação Rockefeller, foi erradicado em 1940. Transmissor da forma mais letal da doença, o vetor teria viajado da África para o Nordeste brasileiro graças à modernização dos transportes aéreos, que passaram a ser uma preocupação das autoridades. Assim, foram instituídas, segundo a pesquisa, uma série de leis e normas para garantir a segurança sanitária dos aeroportos.
Este livro contem um conjunto de textos que envolve uma discussão sobre planejamento de saude. Onde amplia o conceito de planificação em saude com a definição de politicas, diretrizes e estratégias para o desenvolvimento e a adequação de vários componentes do sistema, quais sejam, gestão, financiamento, organização dos serviços e infra-estrutura de recursos (físicos, humanos e materiais).
Em O Gênero do Trabalho Operário Thaís Lapa retoma, de maneira criativa e sólida, o melhor da contribuição que os estudos feministas sobre o processo de trabalho plantaram no inicio dos anos 1980, com as análises de Elizabeth de Souza Lobo, construídas em intenso diálogo, entre outros, com os escritos de Danièle Kergoat e Helena Hirata. Em 1978, Kergoat apontara certeira que o lugar de classe estava longe de produzir comportamentos e atitudes unívocos. Beth Lobo, explorando essa avenida, mostrou à sociologia brasileira os caminhos alternativos ao discurso da homogeneização de classe: afirmou o valor da abordagem concreta das situações de trabalho, a importância de elucidar a dinâmica das relações sociais na produção, sempre guiada por um olhar que valorizava o elo (indissociável) entre trabalho produtivo e reprodutivo. Isso lhe permitiu vislumbrar, pelo ângulo da experiência subjetiva da dominação, as práticas e destinos de operárias e operários. Num momento em que as vicissitudes das crises e das experiências de desemprego duradouro e expulsão do mercado de trabalho tomaram de assalto nossas análises, Thaís Lapa atualiza, em O Gênero do Trabalho Operário, toda a virtualidade desse estilo de análise. Este livro nos capacita a pensar como as experiências e representações das trabalhadoras são um prisma fértil para se entender a natureza das relações de trabalho em segmentos que marcaram a dinâmica da sociedade brasileira. - Nadya Araujo Guimarães (USP) e Jacob Carlos Lima (UFSCAR).
Este curso de Michel Foucault, ministrado em 1983 no Collège de France, é particularmente interessante porque os temas abordados não foram publicados em nenhum estudo durante sua vida. Qual governo de si deve ser o fundamento e o limite ao governo dos outros? A partir desta questão, Foucault se situa em relação à herança filosófica e problematiza o status da sua própria fala.
Desde a recessão econômica de 2008, e mais recentemente com a pandemia do coronavírus, as certezas que ditaram por décadas o capitalismo ocidental foram postas em xeque. A crise do projeto neoliberal gerou, à direita e à esquerda, clamores pela volta do Estado intervencionista como contrapeso entre a coletividade e o caos desatado pelo capital globalizado. O neoestatismo é o novo normal político. Essa é a ideia central defendida em O Grande Recuo.
Nenhum texto de Freud foi traduzido de maneiras tão diferentes. Esta edição, que comemora os 100 anos da primeira publicação de “Das Unheimliche” com uma edição bilíngue e anotada do texto de Freud, traz também uma tradução inédita do conto “O Homem da Areia”, de E. T. A. Hoffmann, obra ficcional que mostrou a Freud a especificidade de um mecanismo psíquico bastante frequente, uma sensação ligada à angústia e ao horror, que experimentamos como algo ao mesmo tempo muito longe e muito perto de nós, muito estranho e muito familiar, muito inquietante e muito próximo.
O livro O jogo como prática de saúde é resultado de estudos iniciados em 2009 que buscaram articular três campos do conhecimento: a saúde, a comunicação e os jogos. Marcelo Simão de Vasconcellos, Flávia Garcia de Carvalho e Inesita Soares de Araújo nos trazem uma proposta inovadora: valorizar os jogos como prática humana e social e considerar seu potencial criativo para integrá-los às práticas de saúde. O ineditismo fez do livro o primeiro da coleção Fazer Saúde, que vem se somar às outras sete da Editora Fiocruz Antropologia e Saúde; Bioética e Saúde; Criança, Mulher e Saúde; História e Saúde; Loucura e Civilização; Saúde dos Povos Indígenas; e Temas em Saúde. Os autores privilegiam a análise dos jogos digitais, amplamente disseminados nas sociedades contemporâneas, mas pouco estudados além de duas categorias a de jogos educativos e a de instrumento de divulgação científica. Para isso, descrevem e discutem experiências como o uso de newgames sobre epidemias; os jogos voltados para grupos que vivenciam doenças de difícil abordagem, como crianças com Síndrome de Down ou autismo; e outros desenvolvidos pra pessoas idosas com o objetivo de reduzir o risco de Alzheimer. A discussão vai além do uso terapêutico dos jogos: trata da sua inserção em contextos sociais e culturais mais amplos e do envolvimento na experiência lúdica de grupos de referência.
Os belos sorrisos que estampam as propagandas não deixam entrever o quão complexas podem ser as relações da Odontologia com a sociedade contemporânea. A ciência e a clínica odontológica têm entre si e com a sociedade capitalista consumista relações biopol
O livro da história negra — mais um volume da série best-seller As grandes ideias de todos os tempos Quais foram os impérios africanos mais poderosos? Quais foram as revoltas ocorridas em solo brasileiro? O que motivou a criação do movimento Vidas Negras Importam? Escrito em linguagem simples e ricamente ilustrado, O livro da história negra responde essas e muitas outras questões, mostra a rica e complexa história dos povos da África e da diáspora africana, além das lutas e vitórias do povo negro ao redor do mundo. A obra traz à luz histórias normalmente ignoradas e está repleta de citações memoráveis de grandes personalidades, como Nelson Mandela, Zumbi dos Palmares, Angela Davis, Martin Luther King, Sueli Carneiro, Barack Obama e Marielle Franco. Além disso, esta edição também traz conteúdo exclusivo sobre eventos da história brasileira, como a revolta dos negros na Bahia durante a escravidão e a resistência negra à ditadura militar e sua importância para a luta pela democracia.
Os ensaios deste livro trazem à cena o mefistofélico projeto neoliberal de saúde pobre para pobres. O subfinanciamento e a privatização do Estado social brasileiro colocaram dolosamente o Sistema Único de Saúde (SUS) numa situação de muita precariedade na atenção à saúde nesta pandemia. Mesmo antes do colapso do sistema de saúde brasileiro em face a doença Covid-19, a atenção de saúde pública já era carente de pessoal e de suporte de tecnologias de baixa densidade tecnológica.
Os ‘loucos’ em situação de rua não escolheram viver nessa condição. Não estão vinculados a Centros de Atenção Psicossocial (Caps), a Unidades Básicas de Saúde (UBS) nem às Equipes de Saúde da Família (ESF). Não se conhece a história de vida desses indivíduos. E o único vínculo que eles mantêm é com a população do bairro por onde vagueiam. Os moradores do bairro, então, mesmo sem se darem conta disso, adquirem um saber sobre aqueles ‘loucos’. Investigar os ‘olhares’ desses moradores, para compreender o que pensem, sentem, dizem e fazem em relação aos ‘loucos’, é o objetivo do livro. Neste estudo, embasado na teoria das representações sociais, a autora defende que, apesar das dificuldades e até dos preconceitos, os moradores do bairro têm potencial para atuarem como agentes de saúde mental. “Pois enquanto o ‘louco’ permanecer na rua pertencerá não apenas ao Estado, mas também às pessoas do bairro onde se encontra”, destaca.
O percurso do processo de luto é marcado por idas e vindas - dias melhores, dias piores -, em que cada sujeito está tentando descobrir o que fazer com a perda, a falta e o vazio. Neste livro, Carla Rodrigues aborda o problema do luto, tema que passou a tomar como central na filosofia política de Butler, deslocando-o de categoria clínica para categoria ético-política, sem abrir mão da interlocução com a psicanálise. Estão reunidos aqui textos elaborados entre 2018 e 2020 e organizados em três partes: “Por que Judith Butler”, “Luto e despossessão” e “Encontros feministas”.
“O mal-estar na cultura” não é apenas o ensaio mais célebre de Freud, mas uma das obras seminais do século XX. Sem a categoria de “mal-estar” não é possível pensar os destinos do sujeito na atualidade. Por que sentimos que a felicidade é incompatível com as exigências da vida social? Existem formas de vida em que restrições culturais e expectativas de realização pessoal possam viver em harmonia? Por que é tão difícil ser feliz? Perguntas desse tipo fizeram deste ensaio o mais lido da obra de Freud. Neste volume, reunimos os principais textos do autor sobre cultura, sociedade e religião.
Eis um livro reflexivo que busca compreender o caráter do trabalho médico na atenção primária do SUS. A autora partiu do conceito marxiano de alienação e o desdobrou em outras abordagens, que tornam a alienação dinâmica, como expressão de várias modalidades de existir em sociedade. O objetivo é o trabalho médico e suas formas de envolvimento e afastamento (alienação) com os componentes do trabalho em saúde.
O objetivo principal desse trabalho foi o de descrever como a organização do trabalho e as relações socioprofissionais se relacionam com a fragmentação da subjetividade de ocupantes de cargos gerenciais.
A metodologia de apoio criada e utilizada por Tarsila para lidar com a judicialização no caso Jundiaí é absolutamente original. Tarsila captou a essência do método de apoio, a saber, o necessário ativismo técnico e político para enfrentamento e prevenção de iniquidades existentes no SUS e na vida em geral. A autora demonstra, prova, que, mesmo em um país desigual e elitista como o Brasil, as coisas podem ir melhor. Com esforço e persistência e projeto, as instituições podem funcionar de maneira justa e democrática. Basta proceder à maneira de Tarsila e de sua equipe. Não há como não se comover com esse livro. Há muito que se aprender com sua leitura.
A chegada de um bebê provoca uma verdadeira revolução. As modificações que acompanham o nascimento aparecem não apenas na rotina, mas também no corpo e na mente das pessoas responsáveis pelo cuidado. Embora as recomendações e os conselhos frequentemente recaiam sobre a relação entre mãe e filho(a), essa capacidade não é específica ao gênero feminino. Atribuir a responsabilidade unicamente à mulher ignora que aquele pequeno ser, vulnerável e não verbal, é fruto de um contexto maior – familiar, social e político.
Baseado em uma etnografia da CPI da Pedofilia no Senado Federal e das investigações da Polícia Federal no combate à pornografia infantil, o livro se aprofunda na construção histórica das categorias criminais que remetem, hoje, à violência sexual envolvendo menores. Sob um viés antropológico, procura debater as dinâmicas sociais, culturais e morais que moldam a configuração do problema da violência sexual contra crianças e adolescentes, a partir da categoria pedofilia.
A compreensão dos saberes produzidos, articulados e sistematizados pelo Movimento Negro e de Mulheres Negras tem a capacidade de subverter a teoria educacional, construir a pedagogia das ausências e das emergências, repensar a escola, descolonizar os currículos e dar visibilidade às vivências e práticas dos sujeitos. Ela poderá nos levar ao necessário movimento de descolonização do conhecimento. Este trabalho tem como tese principal o papel do Movimento Negro brasileiro como educador, produtor de saberes emancipatórios e um sistematizador de conhecimentos sobre a questão racial no Brasil. Saberes transformados em reivindicações, das quais várias se tornaram políticas de Estado nas primeiras décadas do século XXI.
O livro “O Mundo dos Alimentos em Transformação” faz jus à ambição do seu título e nos apresenta uma análise detalhada das principais forças que impulsionam uma possível transformação na organização e no conteúdo do sistema agroalimentar global. A crise climática, com as suas secas e enchentes cada vez mais devastadoras, a experiência do colapso de sistemas de fornecimento alimentar no período da covid-19, os impactos negativos na saúde individual e pública, bem como a enorme contribuição da produção em escala industrial de carnes para os gases de efeito estufa, todas testemunham a insustentabilidade das formas dominantes de produção dos nossos alimentos e da sua organização global.
O cotidiano das equipes do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf) em Recife, Pernambuco, é a base desta obra, que convida o leitor à reflexão sobre o lugar central da Atenção Básica à Saúde na organização do cuidado e nos processos criativos e inovadores que cercam os profissionais de saúde pública. Organizado por professores e pesquisadores da área de Saúde Coletiva, a coletânia reúne sete artigos, que apresentam aspectos legais e normativos de implantação dos Nasf, passando por questões ligadas às estratégias, ferramentas tecnológicas, desafios, territorialização, planejamento e avaliação dos Núcleos. O livro é mais um a integrar a coleção Fazer Saúde, que estimula diálogo e o compartilhamento de conhecimentos científicos e inovações tecnológicas diretamente ligados à consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS). As muitas experiências e práticas narradas ao longo do livro reforçam, segundo o pesquisador Michael Machado, professor de saúde coletiva da Universidade Federal de Alagoas, a importância do Nasf para a Atenção Básica à Saúde, "não só por ampliar seu campo de ações e o compartilhamento de conhecimentos, saberes e responsabilidades centradas no território, como também por expandir a capacidade de resolutividade clínica das equipes e de todos os trabalhadores envolvidos".
Autor do best-seller As Cruzadas vistas pelos árabes revisita o século XX e demonstra, neste livro altamente oportuno, como as civilizações se lançaram à deriva e se encontram, agora, diante de um iminente naufrágio. Os Estados Unidos, embora continuem sendo a única superpotência, estão perdendo toda a autoridade moral. A Europa, que ofereceu aos seus povos e ao resto da humanidade o projeto mais ambicioso e reconfortante do nosso tempo - a União Europeia -, está desmoronando. O mundo árabe-muçulmano mergulha numa crise profunda, agravada por um islamismo cada vez mais radical. As tensões identitárias, em grande parte fomentadas pelas ondas nacionalistas, nunca foram tão exacerbadas.
A mais completa investigação sobre as origens do patrimônio político e financeiro de Jair Bolsonaro e sua família. Resultado de mais de três anos de apuração, O Negócio do Jair: A história proibida do clã Bolsonaro desvenda o passado secreto da família que hoje comanda o Brasil. A jornalista Juliana Dal Piva parte do escândalo das rachadinhas exposto pelo caso Queiroz, a partir de dezembro de 2018, para contar uma história que remonta à entrada de Jair Bolsonaro na política na década de 1990. No centro do passado que o clã tenta abafar, está um esquema de corrupção conhecido entre os participantes como o “Negócio do Jair”. O arranjo ocorria nos gabinetes funcionais ocupados pela família de Bolsonaro em seus mandatos políticos, seja de vereador, deputado estadual ou federal, e envolvia seus três filhos mais velhos, as duas ex-esposas e a atual, amigos, familiares — muitos deles atuando como funcionários fantasmas —, além de advogados e milicianos. Com base em depoimentos exclusivos, cópias sigilosas dos autos judiciais, mais de cinquenta entrevistas, mil páginas em documentos, vídeos e gravações de áudio, a autora demonstra como, à sombra dos grandes esquemas partidários, o clã acumulou milhões de reais e construiu o projeto político autoritário e regressivo que conduziria o chefe da família ao posto mais alto da República.
"A terra é meu quilombo. Meu espaço é meu quilombo. Onde eu estou, eu estou. Onde eu estou, eu sou." Nesta coletânea cuidadosamente organizada pelo professor da Universidade Federal de Goiás Alex Ratts, a leitora encontrará textos críticos, entrevistas e a prosa poética de Beatriz Nascimento – intelectual e ativista negra que marcou o universo artístico-cultural da diáspora africana e a história do movimento negro no cenário nacional. Neles, Beatriz tece sérias reflexões que oferecem uma imagem prismática não só da experiência íntima das pessoas negras na universidade e na cena cultural brasileira como também das representações midiáticas e historiográficas que lhes são devolvidas dia após dia por uma sociedade racista e em negação quanto ao próprio racismo. Como existir em um contexto em que a própria existência – passada, presente e futura – é cotidianamente negada? Em que consiste o esforço para estabelecer a própria imagem, reivindicar o próprio imaginário? São essas algumas das perguntas implícitas em O negro visto por ele mesmo, registro precioso sobre o que é ser negro, e se perceber negro, no Brasil. A edição também conta com prefácio de Alex Ratts, posfácio de Muniz Sodré, orelha de Renata Martins e quarta capa de Bethania Nascimento Freitas Gomes.