Divino caminhava com pachorra, gingando o eixo da coluna em movimentos imporváveis. Contornou o sobrado por fora. Rente ao muro, escorregou o lodo, tapete esverdeado e traiçoeiro, e praguejou: - Esconjuro o cujo me empurrou! Saltou o rego estreito de águas servidas da cozinha, afastou galhos de uma goiabeira e destravou a tramela do portão de madeira, caixotes que ele mesmo pregara em improviso rudimentar. Uma gritaria tomara vulto. Do jardim avistou multidão compacta. Cortejo masculino. Homens aos berros, armados. Cavaleiros circunvagando em cavalos ariscos, alguns. Mulheres, nenhuma à vista. Homens ajaezados para a guerra. Carabinas, facas, cinturões cobertos de bala, alguém empunhando um ferrão, corda, todos rodeando um homem que cambaleava bêbado no meio da rua. Divino era zarolho. Quando se emocionava via as coisas em duplo: imagens sobrepostas, a primeira borrada e a segunda mais nítida. Enxergou bocas escancaradas, braços, facões, revólveres e espingardas. Pertinho dele, distinguiu vermelho no aço das facas. Sacudiu a cabeça para corrigir o foco. Às vezes funcionava o expediente e a realidade fantástica se recompunha normal. Mas dessa feita não havia erro no enquadramento: sangue na lâmica, era o que realmente enxergava.
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Divino caminhava com pachorra, gingando o eixo da coluna em movimentos imporváveis. Contornou o sobrado por fora. Rente ao muro, escorregou o lodo, tapete esverdeado e traiçoeiro, e praguejou: - Esconjuro o cujo me empurrou! Saltou o rego estreito de águas servidas da cozinha, afastou galhos de uma goiabeira e destravou a tramela do portão de madeira, caixotes que ele mesmo pregara em improviso rudimentar. Uma gritaria tomara vulto. Do jardim avistou multidão compacta. Cortejo masculino. Homens aos berros, armados. Cavaleiros circunvagando em cavalos ariscos, alguns. Mulheres, nenhuma à vista. Homens ajaezados para a guerra. Carabinas, facas, cinturões cobertos de bala, alguém empunhando um ferrão, corda, todos rodeando um homem que cambaleava bêbado no meio da rua. Divino era zarolho. Quando se emocionava via as coisas em duplo: imagens sobrepostas, a primeira borrada e a segunda mais nítida. Enxergou bocas escancaradas, braços, facões, revólveres e espingardas. Pertinho dele, distinguiu vermelho no aço das facas. Sacudiu a cabeça para corrigir o foco. Às vezes funcionava o expediente e a realidade fantástica se recompunha normal. Mas dessa feita não havia erro no enquadramento: sangue na lâmica, era o que realmente enxergava.